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A autonomia energética dos EUA muda a aliança com a Arábia Saudita

Embora as prioridades possam mudar, os especialistas advertem que Washington não deve ignorar o peso estratégico de Riad no Oriente Médio

Eva Saiz
Plataforma de extração pela técnica da fratura hidráulica na Califórnia.
Plataforma de extração pela técnica da fratura hidráulica na Califórnia.D. M. (AFP)

“Os papéis estão mudando. A geopolítica da energia global está sofrendo uma metamorfose enorme, como evidenciaram os últimos acontecimentos políticos na região. Washington já não depende do petróleo do Oriente Médio como em anos anteriores”. A descrição foi feita pelo Saudi Gazette há alguns meses, no contexto da visita do presidente Barack Obama à Arábia Saudita. A libertação em relação à submissão ao petróleo da região, graças à revolução energética experimentada pelos Estados Unidos pelas mãos do fracking (técnica de fratura hidráulica), permitiu à Casa Branca reestruturar sua estratégia e redefinir suas prioridades em uma área que, no entanto, não pode ser alvo do privilégio de ficar sem atenção.

Obama se reuniu ontem com o rei saudita Abdullah, em circunstâncias muito diferentes das que cercaram o primeiro encontro há cinco anos. Em 2013, pela primeira vez desde 1995, os EUA produziram mais petróleo do que importaram. A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que, em 2015, superará a Arábia Saudita em extração de cru e que, em 2020, será o maior produtor do planeta. Na última década, Washington reduziu de maneira drástica as importações petrolíferas da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Para muitos analistas, esse novo cenário energético permitiu aos EUA adotarem na região suas políticas em torno do Irã, da Síria e do Egito sem ter de contemporizar, como antes, com as demandas da Arábia Saudita.

“O boom da produção de petróleo ampliou a crença de que agora já podemos ignorar o que ocorre no Oriente Médio, mas isso não é totalmente verdade”, adverte a associação Securing America´s Energy Future (SAFE), dedicada a reduzir a dependência dos EUA do petróleo, e que em janeiro deste ano publicou um relatório sobre os efeitos da autonomia energética do país em sua política exterior e de segurança. A SAFE sustenta que o fato de os EUA continuarem sendo um dos países que mais petróleo consome faz com que sigam sendo vulneráveis aos altos e baixos do mercado e às alterações políticas em países como Irã, Iraque ou a própria Arábia Saudita.

O país de Abdullah é o que mais petróleo fornece aos EUA, atrás apenas do Canadá, e é um dos territórios que ainda tem uma importante margem para incrementar sua produção –pode aumentar sua capacidade em até três milhões de barris diários-, tornando-se indispensável para compensar potenciais desabastecimentos no mercado. Até agora, a Arábia Saudita conseguiu incrementar sua produção para manter os preços estáveis, mas a possibilidade de que o Irã possa, em um futuro próximo, reavivar suas exportações, poderia determinar que seu Governo reduzisse o volume de extrações, provocando uma escalada no preço do barril que afetaria, especialmente, o cru norte-americano, cujos preços são dos mais baixos, após os da África (entre 50 e 100 dólares por barril, em relação à média de 82 dólares que Riad precisa para manter seu orçamento e o nível de despesa social no país).

A independência energética dos EUA e a redução de suas importações tornou a China no principal importador de petróleo do Oriente Médio, uma presença que a Administração norte-americana, de acordo com a SAFE, não deveria ignorar, tendo em vista a importância que supõe garantir a segurança dos envios de petróleo nessa região. “Podemos mudar a ordem das prioridades, mas não dar as costas para o Oriente Médio", destacam.

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