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Obama afirma que o referendo da Crimeia viola a lei internacional

A Casa Branca anuncia a proibição de vistos a servidores públicos russos e ucranianos e as bases para congelar ativos e vetar negócios com pessoas e empresas Lavrov diz que as medidas "não são construtivas e só contribuem para aumentar a tensão"

Eva Saiz
O presidente dos EUA, Barack Obama.
O presidente dos EUA, Barack Obama.Pablo Martinez Monsivais (AP)

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deixou claro ontem que seu país não reconhece a legitimidade do referendo separatista convocado pelo Parlamento pró-Russo da Crimeia. Como tem feito desde que a crise ucraniana aumentou, o governante apelou à lei internacional e alegou que a consulta prevista não cumpre com a legislação e viola a constituição ucraniana. As palavras de Obama chegaram horas depois de a Casa Branca dar um novo passo em seu esforço para isolar econômica e politicamente a Rússia em represália pela sua presença militar na Ucrânia e anunciar um novo pacote de sanções contra Moscou.

"Qualquer decisão sobre o futuro da Ucrânia deve incluir seu governo legítimo”, advertiu o presidente norte-americano em um pronunciamento diante dos meios que não estava previsto, demonstrando, de novo, o apoio de Washington ao Executivo interino ucraniano. “Superamos o tempo em que as fronteiras podiam ser definidas sobre as cabeças dos líderes democráticos”, assinalou. O referendo convocado pelo Parlamento da Crimeia afiançaria, segundo Washington, o desejo do presidente russo, Vladimir Putin, em ter o controle e reafirmar a influência de Moscou sobre a península ucraniana. Obama, no entanto, em sintonia com os esforços de sua Administração para reduzir a tensão no conflito na Ucrânia, ressaltou que existe “uma via para sair da crise que respeita os interesses da Rússia e do povo ucraniano”.

O presidente dos EUA quis demonstrar a seu homólogo russo sua firmeza e confiança em sua estratégia de isolamento da Rússia e lembrou que, se Moscou não respeitar o direito internacional como ele reclama, seu Governo está disposto a continuar pela via das sanções e adotar novas medidas de punição que se somem às que sua Administração anunciou no início da manhã desta quinta-feira. A Casa Branca autorizou ontem a proibição de vistos a altos servidores públicos russos e ucranianos envolvidos na violação da soberania da Ucrânia e adotou uma ordem executiva que dá as bases para impor multas individuais a particulares e empresas.

As multas anunciadas pela Casa Branca contemplam a proibição de vistos, não só a altos servidores públicos russos, senão também a ucranianos que colaborem com a "violação da soberania e a integridade territorial da Ucrânia”, de acordo com o comunicado do porta-voz da presidência, Jay Carney.. A ordem executiva outorga ao Departamento d Tesouro a faculdade de congelar ativos e impor vetos às relações comerciais com particulares e entidades russas responsáveis por ter promovido “a desestabilização da Ucrânia, incluída a intervenção militar na Crimeia” e que favoreçam a evasão de capitais do país. A determinação das companhias e indivíduos afetados demorará  várias semanas para se concretizar já que não se espera que a disposição começa de maneira imediata.

As últimas medidas da Casa Branca são as mais duras de todas as que foram adotadas nos últimos dias, entre elas, o congelamento das negociações comerciais e as práticas militares conjuntas, e se adotaram no meio de um intenso debate internacional sobre a resposta mais efetiva para enfrentar a invasão russa da Crimeia. Com tudo, Washington é consciente de que se a União Europeia não contribui com decisões similares, a pressão contra a Rússia poderia significar nada. A dependência do gás russo, tanto por parte da Ucrânia como da UE, é um dos condicionantes mais importantes que explicam a fraqueza das medidas adotadas até o momento por Bruxelas. No Congresso já estão surgindo as vozes para que os EUA aproveitem seu superávit de gás –neste ano, o país poderia superar a Rússia em produção- para tentar a subordinação europeia.

O Partido Republicano, extremamente crítico com a forma com a qual Obama abordou a crise ucraniana, abraçou o novo turno de multas. “Seguimos comprometidos com a Administração para oferecer ao presidente o maior número de ferramentas que ponham a Putin em seu lugar e evitem que a Rússia infrinja a soberania de seus vizinhos”, assinalou o líder dos conservadores no Congresso, John Boehner. Ontem, o Capitólio trabalhava contra o relógio para aprovar antes do fim de semana seu próprio menu de penalizações contra a Rússia e de ajudas à Ucrânia, que lhe permitam fazer frente a sua dependência do gás de Moscou.

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