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Obama solicita que Netanyahu tome "decisões difíceis" no processo de paz

Ambos os mandatários se reúnem nesta segunda na Casa Branca. Netanyahu tem como prioridade o desarme nuclear do Irã

Barack Obama recebeu por última vez a Benjamín Netanyahu em setembro de 2013.
Barack Obama recebeu por última vez a Benjamín Netanyahu em setembro de 2013.Charles Dharapak (AP)

Benjamín Netanyahu, primeiro ministro israelense, chegou a Washington para se reunir nessa segunda-feira com o presidente norte-americano, Barack Obama, com uma prioridade em sua agenda: que as potenciais mundiais que negociam com o Irã cheguem a impor a esse país um desmantelamento completo de seu programa nuclear. Obama, no entanto, tem outra prioridade: respaldar seu secretário de Estado, John Kerry, na ronda do processo de paz com os palestinos que reativou em julho. Nos últimos meses, Kerry recebeu numerosas críticas e inclusive desqualificações por parte de membros da coalisão do Governo que Netanyahu lidera, por esses esforços. Obama deixou claro que crê que o tempo de negociar está acabando e exige de seu aliado decisões difíceis em um momento crítico para Israel.

“Chega um momento em que um não pode seguir administrando isso por mais tempo, e deve começar a tomar decisões muito difíceis.”, disse Obama em uma entrevista à agência de notícias Bloomberg publicada no domingo à noite. “Se vai resignar ao que finalmente equivale uma ocupação permanente da Cisjordânia? É esse o caráter de Israel como Estado por um período prolongado de tempo? Vai perpetuar, ao longo de uma ou duas décadas mais e mais políticas restritivas em respeito ao movimento de palestinos? Imporão mais restrições sobre os árabes israelenses de um modo contrário as tradições de Israel?”

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Essas palavras marcam uma mudança na atitude recente de Obama a respeito do processo de paz. Desde o início de seu segundo mandato havia deixado a Kerry que mediasse entre as partes, algo que fez com especial empenho, com 10 viagens a Jerusalém e Ramalá em apenas um ano. Kerry conseguiu reatar as negociações e agora está elaborando um acordo marco que apresentará por iniciativa própria a ambas as partes nas próximas semanas. Em sua primeira viagem como presidente a Israel e Cisjordânia, há um ano, Obama evitou escrupulosamente mediar o processo de paz, além de algumas menções a necessidade de criar um Estado palestino e garantir a segurança de Israel.

Em sua chegada a Washington, Netanyahu respondeu com a mesma franqueza, em um comunicado distribuído por seus assessores com um tom direto e claro. Fazendo referência a um ditado que mantém “são necessárias duas pessoas para dançar um tango”, o primeiro ministro disse: “O tango de Oriente Próximo necessita ao menos três pessoas. Durante anos houve dois, Israel e Estados Unidos: agora falta ver se os palestinos também estão presentes. Em qualquer caso, para que cheguemos a um acordo devemos também preservar nossos interesses vitais. Dei provas do que posso fazer, ainda enfrentando todas as pressões e a confusão, e seguirei fazendo agora também”.

Não é a primeira ocasião em que ambos os mandatários, que convivem em seus postos atuais desde 2009, mostram clara divergência de opiniões e interesses. A sintonia entre ambos não é de toda boa desde que Netanyahu quis obrigar Obama a apoiá-lo em um possível ataque contra o Irã em 2012, algo que este resistiu, preferindo finalmente as negociações diretas junto a outras potências do chamado grupo P5+1, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas mais Alemãs.

Vai-se a resignar ao que finalmente equivale uma ocupação permanente de Cisjordania?” Barack Obama, a Benjamín Netanyahu

Embora essas negociações com o Irã inquietassem profundamente a quase todos os aliados dos Estados Unidos na Ásia Menor, incluindo Arábia Saudita, Netanyahu foi o único que expressou sem rodeios sua oposição ao que qualificou como um possível “mau acordo”. Obama, que mantém uma nova política de aproximação ao Teerã desde a chegada ao pode Hassan Rohaní, sustenta que um novo pacote de medidas sancionadoras, enquanto estão em processo as negociações do P5+1 com o Teerã, fariam fracassar seus esforços diplomáticos para alcançar uma saída pacífica no conflito com o país asiático.

O propósito do presidente norte-americano é sondar o primeiro ministro israelense e logo repetir a operação com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmud Abbas, que visitará a Casa Branca no próximo 17 de março, e conseguir de ambos um compromisso sobre o plano elaborado por Kerry antes que o mês termine. Esta manobra é considerada, por muitos, um sinal da intenção de Obama de se envolver mais diretamente no processo de negociação. Contudo, dias atrás, a Casa Branca quis diminuir as expectativas assegurando que o encontro com os dois mandatários era somente “uma oportunidade para fazer um balanço do ponto em que estão as negociações e falar sobre os detalhes com ambos”.

Netanyahu também previu defender a necessidade de que a comunidade internacional mantenha duras sanções ao Irã se não renunciarem ao enriquecimento de urânio durante um discurso, na terça-feira, diante do Comitê de Assuntos Públicos América-Israel, o grupo de pressão de maior influência no Capitólio. É muito provável, contudo, que tanto no Comitê como na Casa Branca, o primeiro ministro israelense encontre alguns interlocutores mais preocupados com a crise na Ucrânia e o último desafio do presidente russo Vladimir Putin diante da autoridade da União Europeia, que pela ameaça iraniana.

 

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