Obama solicita que Netanyahu tome "decisões difíceis" no processo de paz
Ambos os mandatários se reúnem nesta segunda na Casa Branca. Netanyahu tem como prioridade o desarme nuclear do Irã
Benjamín Netanyahu, primeiro ministro israelense, chegou a Washington para se reunir nessa segunda-feira com o presidente norte-americano, Barack Obama, com uma prioridade em sua agenda: que as potenciais mundiais que negociam com o Irã cheguem a impor a esse país um desmantelamento completo de seu programa nuclear. Obama, no entanto, tem outra prioridade: respaldar seu secretário de Estado, John Kerry, na ronda do processo de paz com os palestinos que reativou em julho. Nos últimos meses, Kerry recebeu numerosas críticas e inclusive desqualificações por parte de membros da coalisão do Governo que Netanyahu lidera, por esses esforços. Obama deixou claro que crê que o tempo de negociar está acabando e exige de seu aliado decisões difíceis em um momento crítico para Israel.
“Chega um momento em que um não pode seguir administrando isso por mais tempo, e deve começar a tomar decisões muito difíceis.”, disse Obama em uma entrevista à agência de notícias Bloomberg publicada no domingo à noite. “Se vai resignar ao que finalmente equivale uma ocupação permanente da Cisjordânia? É esse o caráter de Israel como Estado por um período prolongado de tempo? Vai perpetuar, ao longo de uma ou duas décadas mais e mais políticas restritivas em respeito ao movimento de palestinos? Imporão mais restrições sobre os árabes israelenses de um modo contrário as tradições de Israel?”
Essas palavras marcam uma mudança na atitude recente de Obama a respeito do processo de paz. Desde o início de seu segundo mandato havia deixado a Kerry que mediasse entre as partes, algo que fez com especial empenho, com 10 viagens a Jerusalém e Ramalá em apenas um ano. Kerry conseguiu reatar as negociações e agora está elaborando um acordo marco que apresentará por iniciativa própria a ambas as partes nas próximas semanas. Em sua primeira viagem como presidente a Israel e Cisjordânia, há um ano, Obama evitou escrupulosamente mediar o processo de paz, além de algumas menções a necessidade de criar um Estado palestino e garantir a segurança de Israel.
Em sua chegada a Washington, Netanyahu respondeu com a mesma franqueza, em um comunicado distribuído por seus assessores com um tom direto e claro. Fazendo referência a um ditado que mantém “são necessárias duas pessoas para dançar um tango”, o primeiro ministro disse: “O tango de Oriente Próximo necessita ao menos três pessoas. Durante anos houve dois, Israel e Estados Unidos: agora falta ver se os palestinos também estão presentes. Em qualquer caso, para que cheguemos a um acordo devemos também preservar nossos interesses vitais. Dei provas do que posso fazer, ainda enfrentando todas as pressões e a confusão, e seguirei fazendo agora também”.
Não é a primeira ocasião em que ambos os mandatários, que convivem em seus postos atuais desde 2009, mostram clara divergência de opiniões e interesses. A sintonia entre ambos não é de toda boa desde que Netanyahu quis obrigar Obama a apoiá-lo em um possível ataque contra o Irã em 2012, algo que este resistiu, preferindo finalmente as negociações diretas junto a outras potências do chamado grupo P5+1, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas mais Alemãs.
Vai-se a resignar ao que finalmente equivale uma ocupação permanente de Cisjordania?” Barack Obama, a Benjamín Netanyahu
Embora essas negociações com o Irã inquietassem profundamente a quase todos os aliados dos Estados Unidos na Ásia Menor, incluindo Arábia Saudita, Netanyahu foi o único que expressou sem rodeios sua oposição ao que qualificou como um possível “mau acordo”. Obama, que mantém uma nova política de aproximação ao Teerã desde a chegada ao pode Hassan Rohaní, sustenta que um novo pacote de medidas sancionadoras, enquanto estão em processo as negociações do P5+1 com o Teerã, fariam fracassar seus esforços diplomáticos para alcançar uma saída pacífica no conflito com o país asiático.
O propósito do presidente norte-americano é sondar o primeiro ministro israelense e logo repetir a operação com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmud Abbas, que visitará a Casa Branca no próximo 17 de março, e conseguir de ambos um compromisso sobre o plano elaborado por Kerry antes que o mês termine. Esta manobra é considerada, por muitos, um sinal da intenção de Obama de se envolver mais diretamente no processo de negociação. Contudo, dias atrás, a Casa Branca quis diminuir as expectativas assegurando que o encontro com os dois mandatários era somente “uma oportunidade para fazer um balanço do ponto em que estão as negociações e falar sobre os detalhes com ambos”.
Netanyahu também previu defender a necessidade de que a comunidade internacional mantenha duras sanções ao Irã se não renunciarem ao enriquecimento de urânio durante um discurso, na terça-feira, diante do Comitê de Assuntos Públicos América-Israel, o grupo de pressão de maior influência no Capitólio. É muito provável, contudo, que tanto no Comitê como na Casa Branca, o primeiro ministro israelense encontre alguns interlocutores mais preocupados com a crise na Ucrânia e o último desafio do presidente russo Vladimir Putin diante da autoridade da União Europeia, que pela ameaça iraniana.
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