O Vaticano reforça o controle de suas finanças
O papa cria dois órgãos para administrar de forma “fiel e prudente” e ganhar credibilidade depois dos escândalos O arcebispo de Sydney, George Pell, será o secretário de Economia do Vaticano
Os dados alinhados a seguir dizem muito sobre a opinião que o papa Francisco tem da hierarquia católica. No domingo, durante a missa que celebrou em conjunto com os 19 cardeais que havia nomeado no dia anterior, Jorge Mario Bergoglio lhes preveniu: “Os cardeais –e isso eu digo a vocês– entram na Igreja de Roma, não em uma corte. Evitemos hábitos e comportamentos cortesãos, intrigas, fofocas, grupinhos, favoritismos preferências…”. Neta segunda-feira o papa criou dois novos órgãos –uma Secretaria de Economia e um Conselho para a Economia– com a missão de administrar, de modo “file e prudente”, as finanças da Santa Sé depois dos graves escândalos que marcaram a renúncia de Bento XVI. À frente da secretaria –uma espécie de ministério– estará o cardeal australiano George Pell, atual arcebispo de Sydney, mas o Conselho será formado em partes praticamente iguais por prelados e laicos. Junto com oito cardeais e bispos, Bergoglio escolherá pessoalmente sete laicos de vários países com experiência em administração e finanças. O objetivo parece claro. Ir lançando luz, embora pouco a pouco, ao que durante séculos o Vaticano foi ocultando: as lutas de poder e os seus enormes rendimentos.
A ladainha de tudo aquilo que os cardeais não devem fazer é justamente o que os documentos roubados de Joseph Ratzinger demonstraram que era prática habitual. Os altos membros da cúria pareciam estar mais preocupados em disputar o poder mediante guerras internas do que com sua verdadeira missão. Daí que, mediante um Motu proprio – ou decreto pontifício –, Jorge Mario Bergoglio tenha achado por bem refrescar-lhes a memória: “Os administradores têm o dever de cuidar meticulosamente do que lhes foi confiado, assim como a Igreja tem consciência da responsabilidade de tutelar e gerir com atenção seus bens, à luz de sua missão de evangelização e com especial atenção aos necessitados”.
No fundo, como sempre desde que Francisco se sentou na cadeira de Pedro, surge o debate sobre se o IOR –o Instituto para as Obras da Religião, mais conhecido como o banco do Vaticano– tem motivo para existir ou está condenado ao desaparecimento.
A reestruturação da área econômica do Vaticano, segundo explicou seu porta-voz, o padre Federico Lombardi, tem duas funções principais. Uma é lançar credibilidade e transparência às contas e aos bens do Vaticano – que não são exatamente poucos– e a segunda, e talvez mais importante ainda, é a de “investir melhor os recursos do Vaticano entre os pobres e marginalizados”. Daí o nome do Motu proprio —Fidelis dispensator et prudens (administrador fiel e prudente)— e também sobretudo o detalhe nada pequeno de criar dois órgãos que se complementam e se vigiam, incluindo, além do mais, olhares diferentes dos da cúria. O documento explica que a Secretaria de Economia —cujo número 2 será o sacerdote espanhol Lucio Ángel Vallejo– vai pôr em andamento as indicações do Conselho, que se reunirá “periodicamente para preparar e analisar informes sobre as atividades econômicas da Santa Sé”. De fato, o Conselho vem a substituir aquela comissão chamada de G-15 por Francisco no início de seu pontificado para que o informasse dos problemas organizacionais e econômicos da Santa Sé. A secretária, ou ministério, agora criada terá “autoridade sobre todas as atividades econômicas e administrativas da Santa Sé e do Estado do Vaticano”. Vai também elaborar um orçamento anual e terá atribuições sobre os recursos humanos. Quanto a esse aspecto, e segundo se depreende de uma carta assinada pelo secretário de Estado, Pietro Parolin, divulgada pelo diário Il Messaggero, o Vaticano pôs em andamento uma série de medidas para conter e reduzir os gastos, que incluiriam o congelamento das promoções e salários dos funcionários, bem como a suspensão da renovação de contratos.
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