A Índia se liberta da pólio
O país asiático está há três anos sem registrar um só caso. A OMS certificará em março que o Governo indiano conseguiu erradicar a doença
Nazma, de 16 anos, está condenada a viver em uma cadeira de rodas em sua remota aldeia de Gajner, no deserto do Thar, no Rajastão. Suas pernas ficaram imobilizadas pela pólio. Seus pais não sabiam que a vacina, administrada com simples gotas, poderiam a ter livrado desta doença. Como Nazma, muita gente na Índia ficou incapacitada pelo vírus que ataca o sistema nervoso e pode causar uma paralisia irreversível. Mas agora Índia está a ponto de se converter em um país livre da pólio: nos últimos três anos não se registrou nenhum novo caso e se espera que em março a Organização Mundial da Saúde (OMS) certifique sua erradicação.
“É um grande triunfo para a Índia e para o continente asiático”, afirmou Carmen Garrigós, responsável pela campanha contra a polio de Unicef no Afeganistão. O importante é que o Governo queira acabar com a doença, e as agências devem realizar boas campanhas de conscientização. “Estejam onde estiverem, as crianças têm direito à vacina”.
Para isso, a Índia fez um grande esforço. Ainda em 2009 foram registrados no país quase a metade do total de novos casos no mundo: 741 de 1.604, segundo a Unicef. Muitos especialistas asseguravam que seria o último país a erradicar a doença. Mas depois de uma campanha que convencia as famílias a vacinar seus filhos, um bom monitoramento centrado na imunização dos mais vulneráveis, em 2012 finalmente não surgiu nenhum caso novo.
O último foi detectado ocorreu no dia 13 de janeiro de 2011: uma criança de 18 meses chamada Rukhshar Khatoon, natural de Shahpara, um povo de Bengala Ocidental. Ela voltou a mover-se com relativa normalidade depois de receber tratamento, segundo comunicou a Fundação Bill e Melinda Gates.
As campanhas em todo o país foram massivas: por ano 155.000 profissionais administram 172 milhões de vacinas a menores de cinco anos. O plano necessitou de um investimento governamental de 2,5 milhões de dólares (1,8 milhões de euros) desde 1995.
"Alcançámos essa meta graças aos esforços consistentes e perseverantes", disse nesta segunda-feira R. K. Saboo, um dos fundadores do programa contra a pólio do país, ao jornal The Times of India. A partir de 2015, as gotas serão substituídas gradualmente pela vacina por injeção. O processo começará a ser implantado nos estados de alto risco.
Cada local teve suas dificuldades. No Estado do Rajastão, o deserto converte muitas aldeias em inacessíveis. Ali, todos os meses é realizado o “domingo contra a pólio”. Os trabalhadores sanitários vão até as casas mais remotas e montam postos em locais públicos, como estações de ônibus e trens. “A chave na luta contra esta doença foi chegar a cada casa, e que as pessoas saibam como ela pode ser evitada", explica Ravi Mishra, da ONG URMUL que trabalha no deserto.
Os pais de Nazma, que está condenada a não caminhar, imunizaram suas outras duas filhas quando se percataron de que só a vacina funcionava. A Unicef, agência colaboradora —junto com a OMS— com o Governo indiano no programa, afirmou em um comunicado que o exemplo da Índia é a prova de que a erradicação mundial desta doença já não é mais questionada. A pergunta é quando chegará. “Estamos bem perto”, afirma Garrigós, “e então as agências poderão se concentrar em erradicar outras doenças infecciosas, como o sarampo”.
2012 era o objetivo da OMS para erradicar a pólio, mas a meta não foi cumprida: no entanto, houve uma queda 66% do número de casos na comparação com o ano anterior. Em 2013, houve 148 casos novos no Afeganistão, Nigéria e Paquistão, últimos três países com focos endêmicos. Além disso, em 2013, detectaram-se 224 novos doentes em países considerados não endêmicos como Somália, Síria e Quênia.
No Afeganistão, os talibã não se opõem à vacinação, o que permitiu reduzir de 37 para 13 os casos entre 2012 e 2013. No entanto, morreram nos últimos anos dezenas de trabalhadores da vacinação no Paquistão pelas mãos de homens armados. Alguns pacientes, além disso, negam-se a se imunizar por desconfiança. Em 2011 surgiu a notícia de que a CIA organizava uma falsa campanha de vacinação de hepatite B no povoado onde se escondia Osama Bin Laden. Segundo The Guardian, o objetivo da missão era encontrar o DNA do terrorista. Desde então, em diversas zonas do Paquistão floresceram as teorias de conspiração que animam a parte da população a recusar a vacina da pólio.
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