O futuro do mundo passa pela China?

Será que precisaremos de códigos verdes de saúde e passaportes de vacinação que nos permitam entrar nos lugares? Em um país com aproximadamente 1,4 bilhão de pessoas como a China, esse tipo de controle pode fazer a diferença

Um vendedor de pescado segura um polvo vivo nas mãos para oferecer às pessoas passam por sua loja na praia de Dapeng Jiaochangwei.Diego Herculano

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A pandemia criou uma nova e despótica realidade em todo mundo. Economias estagnaram ou até encolheram, empresas fecharam, pessoas ficaram desempregadas e começaram a desconfiar até mesmo de um simples aperto de mãos.

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A China, epicentro inicial da pandemia, com testagens em massa e sistemas únicos de controle, mostrou um efetivo combate ao vírus. Lembro-me de um episódio tragicômico que ocorreu em janeiro de 2020, quando fui pegar o metrô na cidade de Cantão, logo no início da pandemia. Um segurança mediu minha temperatura e o equipamento acusou que eu estava com febre. O segurança começou a gritar em chinês para os outros que estavam no local e eu não entendia nada do que ele dizia. Eles não queriam se aproximar de mim, como se eu estivesse sido exposto a algum tipo de radiação. Eu pensei: E agora? Fico ou corro como um louco?

Depois de alguns minutos de desespero, outro segurança apareceu com um novo equipamento e constatou que era apenas um problema com o termômetro. Então, pude respirar aliviado.

Agora, no entanto, o cenário mudou, e acho que podemos vislumbrar como poderá ser o futuro do mundo olhando para a China de agora. Será que precisaremos de códigos verdes de saúde e passaportes de vacinação que nos permitam entrar nos lugares?

Em um país com aproximadamente 1,4 bilhão de pessoas, esse tipo de controle pode fazer a diferença, e nesse sentido é preciso entendermos as particularidades de cada país, levando em conta seus costumes e necessidades.

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A China praticamente se tornou uma ilha, criando mecanismos de controle extremamente rigorosos e obstáculos infinitos para a entrada de estrangeiros em seu território.

Em todos os lugares em que entro, é obrigatório mostrar um código verde que indica que não estive no mesmo ambiente em que esteve alguém infectado. Esse controle é feito através do celular, utilizando o WeChat, o mais popular aplicativo de mensagens na China, equivalente ao WhatsApp no Brasil. Sem ele, não é possível nem entrar em um ônibus ou em alguma padaria, por exemplo. Isso faz com que as pessoas se sintam mais seguras e “relaxem” um pouco mais no uso da mascara, já que foram previamente verificadas.

Ainda assim, apesar de todo esse controle ter ajudado a conter os avanços da pandemia, houve um efeito negativo na economia chinesa, principalmente no turismo, como era de se esperar. Com o recente aumento de casos da variante Delta, o país teve que fechar inúmeros pontos turísticos e recomendou que a população permanecesse em suas cidades.

Na província de Guangdong, responsável pela maior parcela do PIB da China em 2020 ― aproximadamente 1.7 trilhão de USD ―, visitei algumas das principais praias e pude ver como os chineses estão reagindo a essa situação. Estive no distrito de Dapeng, área administrativa localizada sob a jurisdição de Shenzhen, cidade que faz fronteira com Hong Kong. Visitei as praias de Jiaochangwei, Xichong e Dongchong, lugares muito famosos e frequentados pelos chineses.

Todas as entradas da cidade e das praias eram controladas por policiais que verificavam o código no meu celular e minha temperatura. Por essa razão, as pessoas se sentiam mais seguras para tirar a máscara e aproveitar as praias. Temos que levar em conta que a cidade de Shenzhen, assim como Cantão, Foshan, Dongguan, Hong Kong e Macau, fazem parte do Delta do Rio das Pérolas, uma das regiões mais desenvolvidas da China e a maior área urbana do mundo em tamanho e população, de acordo com um relatório do Banco Mundial.

Atualmente, na China, estamos vivendo o final das férias escolares de verão e os chineses adoram viajar com toda a família para desfrutar da beleza do seu próprio país.

Através desse controle rigoroso e muito criticado, a China conseguiu minimizar os efeitos da pandemia e, agora, podemos assistir às cenas de pessoas se confraternizando, avós brincando com seus netos na água, jovens observando o mar, sem a preocupação de transmitir ou se infectar com o coronavírus.

Ver todas essas pessoas aproveitando a praia como se não houvesse covid-19 no mundo me deu esperança de como as coisas podem melhorar se tivermos a capacidade de pensar no coletivo e não individualmente. Ao mesmo tempo, a cada vez que precisava exibir meu código verde para poder ter acesso a algum local, pensava: será esse o futuro do mundo?

Diego Herculano esteve em 11 países atuando como fotojornalista e atualmente vive na China, onde se dedica a documentar o desenvolvimento social do país.

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