Tribuna

Bruno Covas e os lucros das empresas de ônibus de São Paulo

Em artigo, Movimento Passe Livre, que promove protestos contra alta da tarifa de transporte, contesta declarações de prefeito paulistano

Em entrevista ao jornal EL PAÍS, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, justifica os baixos índices de aprovação de sua gestão dizendo que governar é fazer o que ele mesmo acha certo e não o que é pauta popular. Coloca nessa conta o aumento da tarifa no transporte para 4,40 reais, realizado juntamente com seu padrinho político, o governador João Doria, no dia primeiro de janeiro. Covas não menciona, contudo, o motivo pelo qual o aumento de tarifa é impopular: quanto mais alto o preço da passagem, menos pessoas podem circular pela cidade, e os mais prejudicados são os moradores das periferias, a população mais pobre. Quem não tem como pagar fica impedido de se deslocar pela cidade em que mora —seja para procurar emprego, ir à escola, à hospitais e mesmo acesso ao lazer.

Uma pesquisa de 2019 mostrou que quem vive com um salário mínimo em São Paulo gasta um terço de sua renda apenas para pegar ônibus e metrô indo e voltando do trabalho e dados do IBGE de 2018 mostram que os gastos das famílias brasileiras com transporte já superaram os gastos com alimentação. Mas o prefeito prefere ignorar a gravidade dessa situação e usar um velho argumento: dizer que para não aumentar a tarifa recursos deveriam necessariamente retirados de outras políticas sociais —no caso, a construção de CEUs e hospitais— para aumentar o subsídios ao transporte.

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O que não aparece aí, curiosamente, são os lucros das empresas de ônibus, quepermanecem intocáveis, inquestionáveis e, esses sim, pressionando os gastos do orçamento público. É daí, das grandes empresas e fortunas que devem ser retirados os recursos para que o transporte funcione como um direito, sendo gratuito e de qualidade para todos.

Diferentemente do que pensa Covas, a sua impopularidade não é fruto de ignorância do povo, mas fruto da consciência das pessoas que vivem na pele o efeito perverso das suas escolhas políticas: corte na integração do vale-transporte, limitações e bloqueios no bilhe teúnico, priorização do transporte individual, redução da frota e cortes de linhas de ônibus, negação do passe estudantil para cursinhos populares. Medidas que fortalecem a lógica do transporte como mercadoria, na qual se insere as tarifa e seus aumentos. É preciso deixar claro: ao escolher aumentar a tarifa, a Prefeitura repassa os gastos maiores com transporte para os usuários, para a população mais pobre. Em vez de a mobilidade ser pensada como uma política pública e como uma questão social, ela é novamente tratada como um problema individual.

É das grandes empresas e fortunas que devem ser retirados os recursos para que o transporte funcione como um direito

Se Bruno Covas escolhe continuar não reconhecendo as pautas populares e tratando-as como como caso de polícia, questionamos: prefeito, você governa para quem? O aumento de tarifa é um absurdo. Pagar R$4,40 em algo que deveria ser público é absurdo. Daqui de baixo, reafirmamos nossa posição e mostraremos nas ruas para o prefeito que é insustentável pagar cada vez mais para circular cada vez menos. Mostraremos nas ruas que quem deve decidir é a população que usa e faz o transporte funcionar.

Movimento Passe Livre luta pelo transporte público e gratuito. É um movimento horizontal, autônomo, apartidário e independente, e a independência se faz não somente em relação a partidos, mas também a ONGs, instituições religiosas e financeiras.



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