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Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

De Monty Python ao Porta dos Fundos, o sacrilégio que desperta a fúria de radicais

Netflix enfrenta a fúria conservadora por causa da paródia do grupo Porta dos Fundos, com Jesus e um amigo gay. Um humor selvagem e eficaz, menos refinado que o do Monty Python

A equipe do Monty Python durante as gravações de "A vida de Brian"
A equipe do Monty Python durante as gravações de "A vida de Brian"ARCHIVO TERRY JONES
Ricardo de Querol

Há alguns meses, quando A Vida de Brian completou 40 anos, foi dito que essa genial comédia do Monty Python, sobre um judeu do século I que é confundido com o Messias, jamais seria possível nos dias de hoje, com tantos ofendidos fazendo barulho nas redes sociais. Não é verdade: o filme já enfrentou ataques ferozes na sua época, o que fez sua lenda aumentar. O final dos anos setenta foi selvagem, mas hoje também há lugar para a transgressão: nas plataformas de vídeo por streaming.

A mais nova paródia bíblica é A Primeira Tentação de Cristo, que mantém a Netflix sob cerco. Essa plataforma produziu e lançou na época natalina o telefilme da irreverente trupe carioca Porta dos Fundos. O enredo gira em torno de uma festa-surpresa preparada para Jesus em seu 30º aniversário. Ele acaba de passar 40 dias no deserto, mas chega com um companheiro inesperado, um jovem abertamente gay, para surpresa da Maria, José, do próprio Deus-pai, dos Reis Magos e de outros convidados. A trama cresce quando Jesus descobre quem é seu verdadeiro pai.

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Nesta semana, de Natal, a sede da produtora Porta dos Fundos no Rio foi atacada com coquetéis molotov, sem deixar feridos. Grupos cristãos batalham sem êxito contra o filme nos tribunais. E dois milhões de brasileiros assinaram uma petição para que a Netflix retire o filme da plataforma e que seus autores sejam processados. Tudo isto num país cujo presidente diz que preferiria ter um filho morto a um filho homossexual.

O humor destes brasileiros é selvagem e eficaz, menos refinado que o do Monty Python. Pode causar gargalhadas e pode perturbar. O bom da televisão sob demanda é que ninguém precisa ver nada que não quiser. E a gente se atreve a imaginar que aquele pregador que escolheu se cercar de párias e pecadores e que enfrentou os poderosos estaria hoje mais perto da turma do arco-íris do que de quem se enfurece em seu nome.

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