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A nova corrida dos EUA para ir à Lua com a força de empresários bilionários

Objetivo de Trump de enviar norte-americanos à Lua antes de 2024 e a concorrência entre empreendedores animam o efervescente setor de viagens ao espaço

Pablo Guimón
Lançamento de um Falcon Heavy da SpaceX em abril
Lançamento de um Falcon Heavy da SpaceX em abrilJoe Raedle (Getty Images)

Ártemis. Irmã de Apolo, deusa da Lua. Ninguém poderá acusar a NASA de falta de imaginação no momento de alimentar a paixão dos fãs do espaço. Não tem muito mais a oferecer desde que abandonou seu programa Shuttle em 2011 e aceitou a humilhação de enviar seus astronautas à Estação Espacial Internacional (EEI) com custosas passagens para o Soyuz pagas ao outrora arqui-inimigo galáctico russo.

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A agência espacial norte-americana recorreu à deusa das terras selvagens na mitologia grega, gêmea do deus que deu nome ao mítico programa que levou o primeiro homem à Lua há 50 anos, para batizar sua missão de voltar a levar norte-americanos ao satélite terrestre. “Estamos emocionados de enviar a primeira mulher e o próximo homem à superfície lunar antes de 2024”, publicou no Twitter na terça-feira Jim Bridenstine, administrador da NASA.

Aproveitando a ocasião, Bridenstine solicitou ao Congresso um bilhão de dólares (4 bilhões de reais) de orçamento adicional para tornar realidade o desejo da Administração Trump, expressado em março pelo vice-presidente Mike Pence, de adiantar em quatro anos o objetivo inicial de levar americanos à Lua em 2028, dando assim a Donald Trump um glorioso epílogo a um eventual segundo mandato. Não contente com isso, o insaciável ego do republicano o levou a atualizar seu orçamento, via Twitter, com 1,6 bilhão de dólares (6,5 bilhões de reais) para “voltar à Lua, e depois a Marte” durante sua presidência. Agora será o Congresso que decidirá se aprova esses gastos, à custa de um programa de bolsas estudantis.

Para atingir seu objetivo a NASA conta com as empresas privadas, menos sujeitas aos vaivéns que atrasaram a corrida espacial pública, de uma Administração a outra, nas últimas décadas. Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, fundador da Amazon e da empresa espacial Blue Origin, se adiantou em uma semana à oferta da NASA, apresentando uma maquete de nave que afirma estar em condições de enviar astronautas à Lua em 2024. “Oh, não hesite, Jeff”, lhe respondeu pelo Twitter, acompanhado de um emoticon de piscada de olho, o também bilionário Elon Musk, chefe da Tesla e da SpaceX, que há duas semanas lançou com sucesso da Flórida a 17° missão de seu contrato de abastecimento com a NASA. Um foguete reutilizável Falcon, que aterrissou de pé em um barco não tripulado após colocar em órbita uma cápsula Dragon Cargo, que se acoplou à EEI para levar aos astronautas material científico e provisões. No ano que vem planeja levar e trazer os próprios astronautas. Meta em que disputa quase paralelamente com outro competidor, a ULA, consórcio da Boeing e Lockheed Martin, que já realizou 120 lançamentos desde 2006.

A corrida espacial privada atravessa tempos de entusiasmo inusitado. No final de 2015, a SpaceX e a Blue Origin lançaram pela primeira vez, com um mês de diferença, foguetes que depois aterrissaram com sucesso verticalmente para poder ser reutilizados. Voar ao espaço é agora, portanto, mais barato. Por trás do discurso altruísta com o qual vestem suas operações, todos sabem que também existem extraordinárias possibilidades de negócio para quem pode se permitir estar aí.

Por trás do discurso altruísta existem grandes possibilidades de negócio. Os empreendedores espaciais compartilham megalomania e paixão

Os empreendedores espaciais compartilham a megalomania e a paixão. Mas diferem em suas visões a longo prazo, que vão desde o projeto orientado ao turismo espacial de Richard Branson, à colonização de Marte pretendida por Musk, como seguro de vida diante das sombrias perspectivas da Terra, e a ideia de Bezos de expandir a civilização ao espaço, mas não em planetas e sim em plataformas construídas pelo homem.

A sociedade não parece compartilhar a urgência em avançar na exploração do espaço, pelo menos não com seu dinheiro. 60% dos norte-americanos, de acordo com uma pesquisa do ano passado, acham que a NASA deve focar em monitorar o clima e detectar meteoritos que possam se chocar com a Terra. Somente 18% e 13%, respectivamente, defendem que a prioridade deve ser levar humanos à Lua e Marte.

“Escolhemos ir à Lua não porque é fácil, mas porque é difícil”, disse o presidente Kennedy em seu famoso discurso de 1962, para conseguir apoio popular ao programa Apolo. Hoje são os novos empreendedores do espaço, ricos e visionários, os encarregados de dar sedução a Ártemis.

Competir e cooperar

A nova corrida espacial é mais complexa do que a velha competição da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. Agora existem novos agentes privados, por sua vez competidores e colaboradores entre si e com as agências, cada um com seus próprios planos que frequentemente vão além dos das agências. A NASA trabalha em seu próprio foguete, o poderoso SLS, mas ao mesmo tempo pode aprender com os avanços das empresas privadas e contratar com elas. “Da mesma forma que a Darpa (Agência de Projetos de Pesquisa Avançados de Defesa) serviu de ímpeto inicial para a Internet e cobriu muitos dos custos do desenvolvimento da rede em seu início, pode ser que a NASA tenha feito essencialmente o mesmo ao financiar as tecnologias fundamentais”, disse Elon Musk, um ano após lançar o SpaceX em 2002. “Ao trazer ao setor comercial, poderemos ver a mesma dramática aceleração que vimos na Internet”.

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