Cenas explícitas do que os estudantes realmente fazem na universidade pública
Comunidade acadêmica vai às redes protestar contra os cortes do Governo e ironiza a visão de que há apenas "balbúrdia" nas instituições do Estado. Campanha lança hashtag
Foi preciso apenas uma publicação nas redes sociais de estudantes fazendo protesto pelados, no que aparenta ser uma universidade pública, que o estrago estava feito. O tuíte do deputado José Medeiros, vice-líder do Podemos na Câmara, no Dia do Trabalho, tinha como objetivo justificar seu apoio aos cortes de verbas no ensino superior, mas viralizou. "Ministro vamos gastar dinheiro com instituições que quiserem produzir conhecimento, nada de permitir quem não quer estudar fique usando a universidade para 'fusaca", afirmava na publicação.
Ministro vamos gastar dinheiro com instituições que quiserem produzir conhecimento, nada de permitir quem não quer estudar fique usando a universidade para “fusaca”. pic.twitter.com/bZdjS3pDf2
— JOSÉ MEDEIROS (@JoseMedeirosMT) May 1, 2019
Recebeu defesas apaixonadas. "Exato! Chega de balbúrdia. Universidade é pra quem quer estudar", afirmou uma internauta. "Cultura de pornografia e matemática zero", disse outro. "Isso tem que acabar! O nosso dinheiro está sendo gasto, sem necessidade nenhuma! Qual o retorno para a sociedade que essas pessoas trarão? Eles que vão pagar para fazerem essas coisas! Será que em faculdades particulares os alunos fazem isso? Acho que não!", disse outra.
Pouco importa o contexto das fotos – uma manifestação de cerca de 100 alunos da Universidade de Brasília (UNB), em outubro de 2009, em apoio a então estudante Geisy Arruda, que quase foi expulsa pela Uniban por usar um vestido curto. As imagens foram consideradas provas da "balbúrdia" que tomou conta das universidades. Mas será que é isso mesmo o que se vê no dia a dia da universidade pública.
A jornalista Sabine Righetti propôs um tuitaço com a hastag #oquevinauniversidadepublica, para expor, afinal, o que acontece nas universidades que vivem dos recursos do Estado. Em um momento em que vários protestos contra os cortes e o desmanche da educação estão sendo organizados em várias cidades, inclusive nesta quarta, as respostas de estudantes e professores ajudam a derrubar mitos sobre as universidades públicas no Brasil.
1. Falta de recursos parece ser regra
#tiraamaodomeuif#BalburdiaUniversitaria#balburdia#educacaonaoedespesa#Educacao#oquevinauniversidadepublica pic.twitter.com/V4LVskeZAh
— Victória Gemaque (@Victoriagemaque) May 6, 2019
Tenho 20 anos de universidade pública, e nunca vi balbúrdia; vi, todavia, banheiros sem papel higiênico, salas sem cadeiras, secretarias sem funcionários e material de escritório, lâmpadas queimadas por meses, bibliotecas sem livros atualizados. #oquevinauniversidadepública
— Márcio Faria (@marciocfaria) May 2, 2019
2. Professores apaixonados, estrutura sucateada
#oquevinauniversidadepublica a maior biblioteca da minha vida! Professores apaixonados pela profissão, prédio e laboratórios sucateados pela falta de verba que só existiam pelo esforço dos funcionários e professores de lá. Tive acesso a culturas e mundos diferentes. pic.twitter.com/ceuvOCKzOu
— samantha, é você? (@GrazianneDelgad) May 2, 2019
4. Estudantes que não desistem nunca
#oquevinauniversidadepublica vi eu conseguir me formar porque além da faculdade ser pública eu tive passe livre para conseguir ir até a faculdade pois sem isso eu teria que interromper... passei sufoco, passei perrengue mas eu terminei e é isso ai, é tudo nosso.
— Geovana (@olageovana) May 2, 2019
Eu vi filho de agricultor analfabeto receber título de engenheiro numa das regiões mais pobre do Brasil. #oquevinauniversidadepublica
— Thiago Pereira🌹 (@Thiago_________) May 2, 2019
Vi muito filho de pobre passar 5 anos comendo café da manhã, almoço e janta de bandejão. Sem ensino gratuito e assistência não teriam chance de se formar. #oquevinauniversidadepublica
— ImpreÇionante (@holobionte) May 2, 2019
5. Luta por diversidade
Vi gente estudando e ensinando c/ pouco dinheiro, pouco recurso. Vi gente se emancipando, gente aprendendo a interpretar. Vi muita gente empregada e trabalhando. Vi pouco pobre, pouco negro, pouco índio. Quero a Universidade forte p/ ver muito mais! #oquevinauniversidadepublica
— Juliana da Silveira (@silveirajuliana) May 2, 2019
#oquevinauniversidadepublica eu vejo a univ. pública sendo aberta para se tornar um espaço mais diverso e plural. Eu vejo gente de classe média e da periferia, mais mulheres, mais jovens negros e negras, indígenas, ativistas, artistas... Somos cada vez + um caldeirão de culturas.
— anneclinio (@anneclinio) May 2, 2019
Na Ufopa, no meio da floresta amazônica, tem gente fazendo ciência com mtas dificuldades estruturais (imagine um reagente importado chegar de SP p/ lá) e tem professor ensinando em nheengatu por causa de aluno indígena que nem fala português. Eu vi. #oquevinauniversidadepublica
— Sabine B. Righetti (@binerighetti) May 3, 2019
5. Empreendedorismo
#oquevinauniversidadepublica:
— Antonio Henriques (@AHenriquesJr) May 2, 2019
👨🏾💼: estudantes RALANDO em empresas júnior para fomentar o empreendedorismo
👩🏻🔬: pesquisadores BANCANDO intercâmbio e iniciando parcerias tecnológicas
👩🏾🎓👨🏻🎓: gente sonhadora DESAFIANDO a estrutura social de um dos países mais desiguais do mundo
6. Pesquisa científica
Pesquisas de grande relevância científica sendo realizadas mesmo com baixo investimento! #oquevinauniversidadepublica
— Sou Mais Que (@nutrifladias) May 3, 2019
#oquevinauniversidadepublica professor ralando pra montar laboratório, ralando pra conseguir incentivo a pesquisa, ralando pra melhorar infraestrutura de sala, aluno brigando por auxílio pra defender pesquisa fora do estado! Ajudando na organização de eventos e mostras...
— Gui lérme (@guilbonfim) May 3, 2019
Protestos contra os cortes da ciência
A Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), em parceria com entidades científicas e acadêmicas nacionais, organiza nos dias 8 e 9 de maio, mobilizações contra os cortes nas ciências em várias cidades.
Veja a programação:
DIA 8 DE MAIO
Brasília
10h00 – Presença na Audiência Pública do Ministro da CTIC, Marcos Pontes, na Comissão de Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática – CCTCI da Câmara Federal, no Plenário 13, Anexo II.
17h00 – Lançamento da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br) e em defesa da ciência brasileira, no Plenário 13, Anexo II, com a presença de parlamentares e representantes das sociedades científicas e acadêmicas.
São Paulo, Rio, Recife
Também estão previstos atos na capital de São Paulo. Às 11h será lançado uma Frente Parlamentar em Defesa das Instituições Públicas de Ensino, Pesquisa e Extensão na Assembleia Legislativa. E a partir das 16h, uma marcha pela ciência terá concentração no MASP. No Rio, um ato em defesa da Universidade Federal Fluminense (UFF) será realizado às 16h UFF Gragoatá, em Niterói. Em Recife, um evento aberto ao público que vai discutir “Ameaças à autonomia universitária” será realizado às 16h na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
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