Ghosn refuta acusações ao comparecer pela primeira vez diante de um juiz
Tribunal manteve a prisão para evitar o risco de fuga e ocultação de provas
Carlos Ghosn, ex-presidente da aliança Nissan-Renault, compareceu perante um juiz nesta terça-feira pela primeira vez desde sua prisão e se declarou inocente das acusações contra ele. O empresário, preso provisoriamente há cerca de cinquenta dias, rejeitou ter cometido práticas irregulares durante seu período à frente da montadora japonesa. Ghosn está sendo acusado de ocultar parte de sua renda milionária pactuada com a Nissan durante anos e de usar a empresa para encobrir as perdas de certos investimentos pessoais.
"Acusaram-me injustamente e fui injustamente detido por causa de acusações que não têm nenhum fundamento", disse Ghosn, 64 anos, à corte em Tóquio. Aquele que era um dos empresários mais admirados do Japão apareceu na sala algemado, de terno, mas sem gravata e com calçados de plástico. Estava visivelmente mais magro e com cabelos grisalhos, de acordo com os jornalistas da agência japonesa Kyodo, que tiveram acesso à audiência.
"Sou inocente das acusações feitas contra mim. Sempre agi com integridade e nunca me acusaram de nenhum delito durante a minha carreira profissional de várias décadas [...] Agi honradamente, de acordo com a lei, e com o conhecimento e aprovação dos executivos dentro da empresa", disse ele perante o juiz, a quem pediu explicações sobre sua detenção prolongada após ser informado das acusações que lhe fazem. O magistrado respondeu que a prisão se deve ao alto risco de fuga e à possibilidade de que possa ocultar provas.
A audiência foi a primeira oportunidade para Ghosn dar sua versão dos fatos em uma declaração lida durante cerca de 10 minutos. O alto executivo disse que não recebeu nenhuma remuneração da Nissan que não tivesse sido divulgada aos reguladores. A Procuradoria o acusa de esconder o equivalente a cerca de 310 milhões de reais de pagamentos ao longo de oito anos, algo que o réu rejeita, garantindo que seus proventos foram revisados por advogados dentro e fora da Nissan. Ele também negou ter transferido perdas equivalentes a 65 milhões de reais, derivadas de investimentos pessoais, para a fabricante de automóveis: e admitiu, sim, o uso da Nissan como garantia para certos contratos de câmbio, mas "isso não custou nada à empresa", disse. São operações que a Nissan conhecia e para as quais deu sua aprovação, de acordo com o advogado de Ghosn, Motonari Otsuru.
Ghosn, que dias depois de ser preso foi demitido a presidência da Nissan e Mitsubishi, ainda permanece na Renault. Se for declarado culpado, cada uma das acusações contra ele pode resultar em uma sentença de até dez anos de prisão. Seu advogado tentará obter sua liberdade sob fiança depois de 11 de janeiro, quando se encerra o prazo máximo permitido para a prisão preventiva desde que a Procuradoria apresentou a última acusação. Então, o juiz decidirá se acata o pedido, desde que nenhuma nova acusação seja apresentada contra ele, caso em que Ghosn retornaria ao centro de detenção por mais vinte dias.
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