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Por que nos ciberataques o resgate é pedido em bitcoins?

É uma moeda difícil de rastrear. Mas peritos alertam: bitcoin não é culpado nem protege crime

Guillermo Vega
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A maior parte das empresas espanholas está indefesa ante ataques cibernéticos. E é assim por uma questão de base: suas estruturas contam com todo o tipo de lacunas, o que abre brechas para ataques, e boa parte delas não conta com planos de contingência para enfrentar ações como a ocorrida nesta sexta-feira. “As empresas espanholas não estão preparadas de modo algum”, sentencia com contundência Víctor Escudero, especialista em bitcoin e cibersegurança. “As grandes, um pouco mais, mas também é verdade que este teria sido difícil de conter.”

Esses ataques vêm sendo feitos desde o final dos anos 80, com a entrada em cena do PC Cyborg Trojan. A partir daí, há hackers que tentam bloquear os sistemas através de um arquivo infestado e, posteriormente, extorquir a empresa em troca da descodificação, explica Santiago Márquez Solís, consultor tecnológico especializado em blockchain e autor de livros como Bitcoin, Guía Completa de la Moneda del Futuro (bitcoin, guia completo da moeda do futuro).

O ataque desta sexta-feira, com ransomware — um programa maligno que restringe o acesso a determinadas partes ou arquivos do sistema infectado e pede em troca um resgate (ransom, em inglês) —, trouxe novidades perigosas: permaneceu um tempo latente até ser ativado e foi capaz de infectar computadores da rede. Em troca da descriptografia, pediram bitcoins.

Por que bitcoins? Esta é uma criptomoeda digital, pseudoanônima e muito segura, explica Álex Preukshcat, consultor Blockchain, especialista em modelos de negócio digitais de cibersegurança e coautor de Bitcoincomic.org e de Blockchain: la Revolución Industrial de Internet (Blockchain: a revolução industrial da Internet). “Existem meios de retraçar (rastrear), mas também há formas de dificultar sua localização.”

A mais comum (entre os que estão acostumados a operar com criptomoedas, bem-entendido) é a do mixing (mescla). Essa modalidade, explica Preukschat, é oferecida por serviços não legalizados, que permitem que assim que o resgate for cobrado seja enviado a um serviço que mistura os valores com outros. Criptomoedas como Dash, Zerocoin e Coakcoin contam com serviços de mixing diretamente incluídos em seu protocolo ou com sistemas de criptografia que evitam seu rastreamento como dinheiro físico. Neles, “as transações são juntadas em um pool no qual se perde o rastro”. Um depositário põe seu dinheiro e o sistema devolve a ele a criptomoeda de outro, com um objetivo similar ao de mandar o dinheiro a paraísos fiscais. “Como não se sabe bem como o dinheiro se movimenta nas contas, ele acaba se evaporando”, completa Santiago Márquez.

Está claro que há algumas diferenças em relação aos paraísos fiscais. O dinheiro não se movimenta estritamente para nenhum lado. Nem tampouco são novos: já foram usados no Silk Road, um mercado negro online que operava no que se conhece como Internet profunda (a Deep Web, que não está indexada pelos buscadores convencionais, e ao qual se tinha acesso por meio de The Onion Router (Tor), com um roteamento que permitia ocultar a identidade dos participantes). O FBI o fechou em 2013, embora depois disso tenham surgido outras.

O fato de querer cobrar os resgates em bitcoin é um facilitador para o crime cibernético? Há algumas vozes que garantem que sim e que isso possibilitou um boom desde 2016. Tanto Preukschat como Márquez, porém, questionam isso com contundência: “O bitcoin não é algo que se destine a sistemas criminais. É uma ferramenta que pode ser usada por redes criminosas como a que operou nesta sexta-feira”, explica Preukschat, Márquez Solís afirma que o fato de que tenham sido usados bitcoins “é completamente curioso” e observa que haveria criptomoedas melhores para o pedido de resgate, como a Monero, que permite um anonimato completo. “Ou até mesmo dólares, uma moeda usada por redes criminosas e do narcotráfico em todo o mundo sem que ninguém suspeite de sua conveniência.”

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