_
_
_
_
_

Nem iene nem dólar, bitcoin

A moeda virtual, cuja cotação saltou, neste ano, de 10 para 500 euros, vai ganhando presença no mundo real

Um cliente observa o primeiro caixa de bitcoins.
Um cliente observa o primeiro caixa de bitcoins.david taylor (AFP)

Se você quer um bitcoin, pergunte na cidade catalã Cambrils por Escalicha, que os vende a 845 euros, ou pelo sevilhano Basybil, que trafica a 503. Fiquem na internet em um café, e levem seus smartphones para comprovar a transferência desta moeda virtual que nem se vê, nem se toca e nem existe realmente, mas que em janeiro valia 10 euros e agora vale 500, a capricho de um mercado misterioso, anônimo mas a cada dia mais ampliado.

Casas de câmbio como Mt.Gox realizam 80% das transações das bitcoins, mas também há transações entre particulares, ainda mais discretas. Em Localbitcoins encontra-se ao menos trinta pseudônimos, de Huesca a Málaga, que vendem a moeda virtual.

Criado em 2009 por Satoshi Nakamoto, que não se sabe se é uma pessoa ou um grupo e do que, em qualquer caso, não fica rastro, o bitcoin é um sistema monetário descentralizado, anônimo e seguro, independente de governos e bancos; uma moeda criptografada e com sistema de circulação P2P, entre iguais.

Desde janeiro, sua capitalização saltou de 106 a 6.430 milhões de euros

Nakamoto deixou traçado todo o sistema monetário: criação periódica de moeda até os 21 milhões de bitcoins no ano 2140 (atualmente há 11 milhões), com recompensa aos informáticos que validam as transações com complicadíssimas operações matemáticas em milhares de computadores e que impedem que um mesmo bitcoin seja usado em mais de uma operação.

Nesta primavera, a Universidade Chipriota, de Nicosia, aceitará o pagamento das matrículas em bitcoins e dará um Mestrado em Moedas Virtuais. "Nossa intenção é facilitar os pagamentos e introduzir neste campo para comprovar a experiência", justificou um porta-voz. "Em certos países a comissão dos bancos pelas transferências estão acima de 10%". É uma das vantagens do bitcoin: zero comissões, zero intermediários, zero autoridades que podem desvalorizar de surpresa uma moeda. A Universidade pretende que seu país se converta em "centro mundial para o comércio de bitcoin".

A moeda é um código criptográfico que as pessoas trocam como pagamento. Cada proprietário possui um ou vários caixas eletrônicos, com uma chave pública para receber pagamentos e uma chave privada para os efetuar. Um sistema para que ninguém, nem sequer Nakamoto, possa ser dono ou administrador da moeda e manipular seu valor.

Desde esse ano, a moeda virtual teve sua credibilidade estendida, tanto na internet, como no comércio físico. Em outubro de 2012, o Banco Central Europeu advertia que, se seguisse seu progresso (e seguiu), o bitcoin prejudicaria a reputação dos bancos centrais. Na passada semana, o Senado dos Estados Unidos citava economistas para escutar argumentos favoráveis e contrários à moeda. Enquanto isto ocorria, o bitcoin se disparava a cifras recordes para depois cair com a mesma velocidade. Assim foi todo o ano enquanto as explicações dos experientes eram tão efêmeras como o valor da moeda.

Seattle, terra de Starbucks, Microsoft, e de Grey's Anatomy (série que passa no canal Sony), abraça o bitcoin. A caminhonete amarela dos irmãos Saxbe tornou-se famosa porque recebem bitcoins para pagar seus sanduíches. Na verdade, em uma semana só aconteceram dois casos, "mas porque as pessoas guardam suas bitcoins como investimento", declara Tom Saxbe a GetWire. Cruzando a fronteira, em Vancuver, o café The Waves instalou o primeiro caixa automático que muda dólares de papel por moeda intangível.

Na mesma cidade canadense, Mike Yeung fundou o Clube Bitcoin para fomentar o uso da moeda. Estudante de Economia, compara o bitcoin e o Skype. "Um intercâmbio entre pessoas, seja voz ou dinheiro, sem pagar a intermediários".

Em janeiro, a capitalização do mercado de bitcoins era de 106 milhões de euros, hoje é de 6.430 milhões. A preocupação por seu crescimento desordenado é mais das autoridades do que do consumidor particular que adquire voluntariamente esta moeda.

Os que acreditaram que a internet mudaria a tudo e a todos, veem cumpridas suas previsões. A internet não só afetou o cinema e as associações de taxistas (que passam a usar aplicativos); a internet chegou para questionar a eficácia do dinheiro de papel.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_