Vantagem para Putin
Frente à Rússia, a imprevisibilidade de Trump se transforma em fraqueza
Na disputa pela Casa Branca, Trump chegou a elogiar Putin como “um líder forte” que fazia “um grande trabalho”. Inclusive expressou o desejo de transformar o presidente russo em “seu melhor amigo”. Cabe questionar se a atitude cordial de Trump em relação a Putin teve mais a ver com o seu visível ódio por Obama e Hillary Clinton ou com os laços obscuros com Moscou, tanto os pessoais como os de sua campanha – um assunto ainda sob investigação do FBI e do Congresso. Mas não há dúvida de que, após 17 anos à frente de seu país, e com pleno controle sobre todos os recursos de poder da Rússia, incluindo os militares e midiáticos, Putin é um líder experiente, diante do qual o novato amante da improvisação terá uma partida difícil de vencer.
Porque o que ficou claro com as primeiras escaramuças da política exterior de Trump, na Síria e na Coreia do Norte, é a ruptura do processo de formulação de políticas – algo que uma superpotência com interesses e responsabilidades globais, como os Estados Unidos, não pode permitir em nenhuma circunstância. Na primeira oportunidade ficou demonstrado que, por trás das bazófias imprevisíveis de Trump, não há nada além de incoerência. Ou pior: ignorância, ausência de autoridade e fragmentação do processo decisório.
Depois de mostrar um interesse nulo pela abertura dos regimes da região (vide a recepção ao presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi) e de apostar tudo na cooperação com a Rússia contra o Estado Islâmico (EI) e o terrorismo jihadista, Trump decidiu se posicionar contra Bashar al-Assad na Síria, mesmo que isso tenha significado uma tensão com Moscou. E sem saber muito bem se o fez por motivos estratégicos, anunciando uma mudança de política, ou puramente emocionais, ou seja, pensando na política interior. Seja como for, em pouco menos de uma semana Trump enfrentou seus dois principais rivais, Rússia e China, à custa da proteção que ambos oferecem aos dois regimes fantoches, em Damasco e Pyongyang, respectivamente.
Acusar Moscou de cinismo por amparar, com subterfúgios legais e estridências propagandísticas, o inaceitável emprego de armas químicas contra a população síria é plenamente justificado. Mas não se pode ignorar que se trata de um padrão recorrente na conduta de Putin, manifestado também no conflito ucraniano, no qual é sabido que foram seus mísseis que derrubaram o avião da Malaysia Airlines, provocando 298 mortes em julho de 2014, assim como na ilegal anexação da Crimeia, que Trump tanto se nega a condenar, colocando em evidência, novamente, os interesses obscuros que dominaram sua campanha.
A Administração Trump deve, de maneira urgente, desenvolver uma política realista para a Rússia, que responda à complexidade de uma relação em que é tão importante definir os limites que não podem ser ultrapassados sem consequências, além dos espaços de cooperação para explorar os interesses comuns. A visita de Tillerson a Moscou deveria marcar o começo do despertar de Trump em relação à Rússia. Os EUA devem pensar no longo prazo e com coerência. Do contrário, Putin, muito mais experiente, ganhará sempre a partida e imporá seus interesses.
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