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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Triste confirmação

Posse de Trump confirma o pessimismo sobre sua presidência

Donald Trump jura como presidente dos EUA.
Donald Trump jura como presidente dos EUA.Drew Angerer (AFP)

Cumprindo as piores previsões, as primeiras palavras de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos estiveram impregnadas de populismo, nacionalismo e agressividade. Se um discurso inaugural serve para mostrar como podem ser os próximos quatro anos, o de Trump mostra que o mundo deve se preparar para atravessar tempos difíceis cheios de turbulências e atitudes tão hostis quanto imprevisíveis.

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Seguindo o roteiro básico do discurso populista, Trump sublinhou repetidamente a divisão entre as pessoas e aqueles que considera os inimigos, sejam a classe política de Washington, a economia internacional ou as nações amigas com as quais os EUA colaboraram na defesa. Mais uma vez esbanjou ataques ao establishment de Washington e apelou para a solidariedade entre os cidadãos mais patriotas e humildes, ignorando o fato de que sua trajetória empresarial e declarações de impostos revelariam, se concordasse em publicá-las, como suas promessas são cínicas e falsas.

É revelador do narcisismo de Trump que em seu discurso não tenha citado absolutamente ninguém importante na história do país que ele tanto ama. Não encontrou nenhum presidente, pensador, político ou filósofo do qual pudesse pedir emprestada uma citação ou ideia. Do início ao fim foi apenas Trump. E ele desenhou um país devastado e empobrecido que contradiz na realidade com o legado do seu antecessor, Barack Obama, sendo que este foi obrigado a assumir a presidência em meio à mais grave crise econômica desde os tempos da Grande Depressão e nesta sexta-feira se despediu do cargo com 12 milhões de postos de trabalho criados.

Igualmente distorcida é a visão de mundo que ofereceu o novo presidente nesta sexta-feira. Uma comunidade internacional hostil que empobrece os norte-americanos e que acusa de arrancar a riqueza das famílias de classe média para distribuir pelo mundo. Em meio a nebulosas ameaças não podia faltar a fanfarronada habitual contra o terrorismo islâmico, que prometeu erradicar militarmente, sozinho e sem ajuda de ninguém. Resumindo, uma abdicação completa por parte dos EUA de sua trajetória e responsabilidades preferindo o isolacionismo, o unilateralismo e o protecionismo.

Depois de protagonizar uma das transições mais tumultuadas já vista, o presidente dos EUA mostrou não estar à altura do cargo que aceitou nem da Constituição que prometeu defender. Seu discurso foi, novamente, de campanha eleitoral, cheio de frases fáceis e vazias, clichês e tópicos que, ao invés de dissipar, confirmam os piores medos.

Sabemos que Trump é incapaz de falar como presidente. E temos dúvidas de que vai agir como tal. Toca agora, dentro e fora dos EUA, ser vigilante. Como disse Obama, em sua despedida, de que iria intervir se Trump fosse longe demais e atacasse direitos e liberdades básicas dos norte-americanos, os demais países também devem estabelecer claramente quais são as linhas vermelhas que não podem deixar Trump ultrapassar.

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