Os erros de Renzi
Uma reforma constitucional deve ser o resultado de um amplo consenso e não de uma iniciativa individual
A derrota do primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, que renunciou ontem, no referendo constitucional realizado no último domingo não deve ser considerada superficialmente como outra vitória do populismo a ser adicionada à lista em que estão o Brexit, o não ao tratado de paz na Colômbia ou e a vitória de Donald Trump nos EUA. Não há nada pior em tempos de incerteza que instigar o temor entre os cidadãos com visões generalizadas.
Renzi sofreu uma derrota de tal magnitude que, embora nos últimos meses tivesse tentado separar o referendo sobre a reforma de seu futuro pessoal, por coerência não teve outro remédio a não ser apresentar sua renúncia ao presidente Sergio Mattarella. Mas isso não diminui a legitimidade da necessidade – apresentada por Renzi com um projeto concreto – de uma reforma constitucional na Itália. Reforma profunda que é discutida há décadas, especialmente desde que, no início dos anos noventa, todo o sistema político e institucional do país foi abalado pelo gigantesco escândalo de corrupção que nasceu com Tangentopoli. A Itália, uma das principais economias do mundo e motor importante da União Europeia, precisa de reformas urgentes. E isso é inquestionável.
No entanto, Renzi cometeu vários erros graves. Em primeiro lugar, uma reforma constitucional não pode ser uma iniciativa pessoal, mas deve ser o resultado do consenso mais amplo possível. O ex-prefeito de Florença tinha não só toda a oposição contra ele, mas uma parcela significativa de seu próprio partido. O erro foi ainda pior ao apresentar, em um primeiro momento, a primeira votação como um plebiscito pessoal. Não adiantou voltar atrás depois. Finalmente, não se deve confundir uma reforma constitucional com uma mudança da lei eleitoral, que é o que realmente precisa a Itália, de forma urgente. Ainda assim, contra todos, Renzi conseguiu 40,89% dos votos, percentagem invejável em outras circunstâncias.
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