A agenda síria de Erdogan
A intervenção turca na Síria é um indicativo da nova política externa de Ancara
Com a ofensiva terrestre lançada nesta quarta-feira contra a cidade síria de Jarablus, o presidente Recep Tayyip Erdogan dá um giro qualitativo na participação da Turquia no conflito. Qualquer derrota do Estado Islâmico pelas forças turcas deve ser celebrada, mas a justificativa usada assim como suas implicações estratégicas oferecem uma séria advertência sobre a direção que está tomando a política externa turca.
A Turquia disse que a operação pretende evitar uma nova onda de refugiados e reforçar a segurança em sua fronteira. Apesar disso, não devemos perder de vista um precedente importante: Kobanî. Em certo sentido Jarablus teve mais sorte — se é possível falar de sorte em um conflito tão trágico como o sírio — que a cidade que, desde 2014, sofreu uma verdadeira agonia nas mãos do EI, com milhares de mortos e dezenas de milhares de refugiados, enquanto as tropas turcas permaneciam a poucos quilômetros na fronteira sem receber a ordem de avançar. Foram soldados curdos que libertaram Kobanî em fevereiro de 2015 e é precisamente isso o que agora Erdogan evitou. Como ele mesmo reconheceu, não é tanto o combate ao EI quanto o conflito com os curdos que motivou o ataque.
Além disso, Erdogan deu este passo, de implicações importantes, sem levar em conta seus compromissos adquiridos. A Turquia é um país membro da OTAN — que garante sua defesa – cujo Exército cruzou a fronteira de um terceiro país para ser envolver ativamente em um conflito. Faz isso, ademais, convergindo com a Rússia e o Irã, países que apoiam a ditadura de Bashar al-Assad. O presidente turco deve entender que seu país, crucial para a segurança na região, deve manter objetivos compatíveis com as organizações das quais é membro e que agir por conta própria pode ter o efeito indesejável de agravar ainda mais o conflito.