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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Chamada de atenção

Não podemos evitar o 'Brexit' ou a fragilidade externa, mas é possível fazer alguma coisa

O Ministro da Economia da Espanha, Luis de Guindos.
O Ministro da Economia da Espanha, Luis de Guindos.EFE

Aos poucos, a economia espanhola está se acomodando em um caminho de crescimento sem aumento de renda (mas com aumento de desigualdade), redução do desemprego à custa da precariedade trabalhista, vulnerabilidade externa (a dívida pública supera os 100% do PIB e a privada cai, é verdade, mas não à velocidade desejada) e baixa produtividade, justamente o que mais dano pode causar a uma economia em caso de uma nova recessão. Tudo isso se manifesta —e se baseia, em grande parte— em falta de confiança empresarial. Os resultados das empresas com ações na bolsa durante o primeiro semestre confirmam que a reativação da economia é volátil, que o crescimento do PIB a índices de 3% não implica necessária nem automaticamente em aumento da prosperidade e que todo o trabalho sério em âmbito econômico está por ser feito. Enquanto o investimento e o consumo não recuperarem a confiança perdida, os alardes macroeconômicos refletem apenas uma parte, e não a decisiva, da realidade.

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Os resultados das empresas cotadas em bolsa caem ou estancam naturalmente por motivos que podem ser interpretados como conjunturais, mas que um analista prudente faria bem em examinar a fundo em busca de obstáculos estruturais. A paralisia, quando não simples queda, não é um fator conjuntural. Indica que a fragilidade da renda está contendo o consumo e que, portanto, a política econômica (ou seja, as decisões que cada governo toma para equilibrar a renda, a produção e a poupança) no caso da Espanha é errada ou inexistente. Os empresários começam a se dar conta de que só com uma reforma trabalhista, juridicamente conflitiva além de tudo, não é possível pavimentar o caminho da reativação econômica; na verdade o processo fica no ar, ao sabor de contingências externas ou da volatilidade política interna, como, por exemplo, a incapacidade institucional para formar governo.

Há outros fatores que influem nos resultados das empresas que realmente têm caráter cíclico ou conjuntural —como a oscilação convulsa e a cotação das moedas, a incerteza financeira e comercial causada pelo Brexit e os benefícios extraordinários, que existem hoje e não amanhã. E há obstáculos conjunturais na aparência que, no entanto, com o passar do tempo, se transformam em fatores estruturais de risco. Para os resultados bancários, a política de juros próximos a zero estabelecida pelo Banco Central Europeu (BCE) começa a se tornar uma ameaça. É uma política correta, obviamente; o problema é que, se for prolongada por muito tempo, priva o negócio bancário de margem; reduz sua margem tradicional de lucro. Se, além disso, levar-se em conta que um período prolongado de crescimento baixo ou paralisia deteriora a solvência de empresas e famílias, a probabilidade de que os bancos tenham de enfrentar novos ajustes (ou fusões) em um breve intervalo de tempo cresce exponencialmente.

As contas empresariais do primeiro semestre são uma chamada de atenção sobre a política econômica. Nada se pode fazer, exceto que cada empresa tome as medidas oportunas para remediar a fragilidade dos mercados externos —que em 2015 foram responsáveis por boa parte dos resultados das grandes empresas— ou alterar a decisão dos votantes britânicos sobre a Europa. Mas é possível, sim, garantir o ajuste orçamentário, aplicado com racionalidade (minimizando os danos sobre educação e saúde, pelo menos) e aplicando-se uma reformulação das leis trabalhistas, que permitam estabilizar as contas das empresas. Não há por que recorrer às demissões ou à redução de renda quando há modelos na Europa que permitem ao Estado cooperar com a remuneração dos trabalhadores das empresas em apuros.

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