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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Alerta na Áustria

Vitória apertada do candidato verde não deve esconder a ameaça populista

Alexander Van der Bellen saúda a multidão
Alexander Van der Bellen saúda a multidãoCHRISTIAN BRUNA (EFE)
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A vitória bastante apertada do ecologista Alexander Van der Bellen nas eleições presidenciais da Áustria traz um alívio para o seu país e para toda a Europa após aquilo que se desenhou durante várias horas como a possibilidade concreta de que o país passasse a ter como chefe de Estado o ultradireitista Norbert Hofer.

No entanto, a estreita margem da vitória de Van der Bellen – uma diferença de apenas 31.026 de um total de 4,6 milhões de votos – e o fato de que foi preciso aguardar a contagem dos votos dados por correio para desempatar a apuração evidenciam o avanço do ultranacionalismo em toda a Europa. Já há algum tempo que este e outros movimentos semelhantes – racistas, eurofóbicos e populistas, com perigosos vernizes totalitários – ultrapassaram o nível de uma presença pessoal nos Parlamentos nacionais para se converter em um fator de radicalização em suas sociedades e em uma ameaça para a sobrevivência de um projeto europeu baseado na democracia, na tolerância e na integração.

A lista já é bastante longa, desde a Aurora Dourada grega – abertamente neonazista – até a Frente Nacional de Marine Le Pen – que está em condições de disputar a presidência da França –, passando pelo auge de movimentos como os alemães Pegida e Alternativa para a Alemanha e os preocupantes partidos ultradireitistas pan-escandinavos.

É importante alertar para o fato de que o ultranacionalista Partido Liberal da Áustria (FPO) esteve perto de conquistar a presidência graças a uma combinação de fatores que se reproduz em toda a Europa: a queda do prestígio das formações tradicionais – neste caso, os sociais-democratas e os conservadores – que vinham garantindo a estabilidade do sistema e o avanço da sociedade; o descontentamento da classe média diante daquilo que se percebe como uma falsa saída para a crise econômica global que vem minando o Estado de bem-estar; e, por fim, uma crise gigantesca, como a dos refugiados, mal administrada tanto em nível nacional como em nível europeu. Esse foi o caldo de cultura perfeito para o desenvolvimento do vírus xenófobo e nacionalista empregado por Norbert Hofer durante a sua campanha.

À véspera do referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, uma vitória extremista na Áustria teria implicado um golpe muito duro contra um projeto europeu que – apesar do intoxicante discurso populista – vai muito além da economia. Os valores menos espetaculosos, mas muito mais sólidos, como a integração, a diversidade e a colaboração no avanço comum, foram os que Van der Bellen defendeu. É necessário comemorar que seja ele o futuro presidente da Áustria, mas, ao mesmo tempo, convém não subestimar nem interpretar equivocadamente o resultado apertado do pleito. A realidade é que, explorando problemas reais para os quais não tem soluções, a extrema-direita esteve muito perto de presidir um país da União Europeia.

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