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Azar o meu: atores que recusaram papéis que depois viraram grandes sucessos Al Pacino não quis ser Han Solo, Tom Selleck quis matar seu agente por recusar o papel de Indiana Jones, Michelle Pfeiffer recusou ser Clarice em ‘O Silêncio dos Inocentes’... e outros casos No mundo real, a gente recusa um emprego e depois pode se esquecer dele para sempre. Em Hollywood, dizer não a um papel implica ver depois uma outra pessoa a interpretá-lo e até mesmo se transformando em um grande nome graças a ele. Um passo em falso pode lhe custar a carreira, e James Caan, provavelmente o ator dotado da mais fraca das intuições entre os colegas de sua geração, sabe disso muito bem. Segundo a teoria dos universos paralelos (defendida, entre outros, por Stephen Hawking), existe uma realidade alternativa na qual James Caan, além de ser o mítico Sonny Corleone de 'O Poderoso Chefão', estrelou 'Guerra nas estrelas', 'Apocalipse now', 'Superman', 'French connection', 'Contatos imediatos de terceiro grau' e 'Kramer vs. Kramer'. Conheça os casos mais doloridos de atores que recusaram um papel e que lamentarão a vida inteira por terem feito isso. Juan Sanguino/Madri Estrela quase esquecida nos EUA, John Travolta resgatou alguma popularidade com 'Olha quem está falando' e suas sequências, mas se sentiu bastante ridículo diante da ideia de interpretar aquele autista (Forrest Gump) com síndrome de sábio que vivia aventuras delirantes, e acabou se encantando por um outro personagem: Vincent Vega, de 'Pulp fiction'. Naquele ano (1994), Travolta estava destinado a fazer história. Juan Sanguino/Madri Tom Selleck era um astro promissor de televisão graças a 'Magnum', mas seu agente tomou a liberdade de recusar Indiana Jones, eleito recentemente o terceiro maior personagem da história do cinema. “Tom, esse negócio desse arqueólogo com chicote e chapeuzinho é ridículo. Esse papel não está à sua altura”, aconselhou-o com uma falta de intuição gritante. Anos depois, Selleck escreveu ao seu agente (por ele demitido assim que 'Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida' estreou) uma carta que representa uma eloquente obra de ódio epistolar: “Você me disse que Indiana Jones era uma merda. Eu me pergunto agora quem é que é uma merda realmente. E acredito que é você. Você é uma merda tão grande que eu não sei como consegue passar pela porta do teu escritório asqueroso. Se estivesse neste momento na sua frente, eu o estrangularia com as minhas próprias mãos. Atenciosamente, Tom Selleck”. Juan Sanguino/Madri Ícone adolescente dos anos oitenta, Molly Ringwald não soube se reciclar como estrela adulta ao recusar projetos como 'Uma linda mulher' (considerou-o degradante) ou 'Ghost'. Em sua defesa, deve-se dizer que a versão de 'Uma linda mulher' que lhe haviam oferecido (intitulada '3.000 $') era um drama obscuro em que a prostituta não era uma mulher adorável, mas uma drogada violenta. Depois, o roteiro foi suavizado e oferecido a Julia Roberts, e, agora, assistimos ao filme, felizes, todos os anos. Juan Sanguino/Madri Embora atraído pela complexidade desse yuppie metido a serial killer chamado Patrick Bateman, DiCaprio acabou aceitando a opinião de seu agente e recusou um papel que teria destruído a sua imagem de ídolo adolescente construída a partir de 'Titanic”. Christian Bale foi o escolhido, e, desde então, DiCaprio expressou várias vezes o seu arrependimento. Hoje em dia, ele tem, sem dúvida, a coragem de vestir a pele de personagens sociopatas e narcisistas, como em 'O lobo de Wall Street'. Mark Wahlberg sempre se mostrou como um heterossexual em todos os aspectos. E foi com esse perfil que se apresentou para o diretor de 'O Segredo de Brokeback Mountai'n, filme que conta o relacionamento homossexual clandestino ente dois vaqueiros. E o que aconteceu foi o seguinte: “Li várias páginas do roteiro e me bateu uma aflição. As cenas de sexo eram explícitas demais, com aquela coisa toda de cuspir na mão etc”. Dessa forma, recusou o papel, que acabou ficando com Heath Ledger. Juan Sanguino/Madri O romance fora um fenômeno, mas ninguém queria se meter nessa história sórdida de canibalismo, sedução e esfolamento que é 'O Silêncio dos Inocentes'. Michelle Pfeiffer achou o filme deprimente, assim como Gene Hackman, que aceitou inicialmente o papel de Hannibal Lecter, mas que, depois de se ver atuando em 'Mississippi em chamas', sentiu que não queria mais negatividade em sua vida. Jodie Foster batalhou pelo papel e, depois de conquistá-lo, sugeriu o nome do desconhecido ator de teatro Anthony Hopkins para ser Hannibal Lecter. O resto é história. Ou seja: cinco Oscar, inclusive para Jodie Foster. Michelle Pfeiffer, por sua vez, ainda não ganhou nenhum, e chegaria a matar para ter uma estatueta. Juan Sanguino/Madri O roteiro de 'Seven' definia que o companheiro e mentor do jovem protagonista (interpretado por Brad Pitt) fosse negro, e, naquele momento, Hollywood só tinha olhos para três atores: Denzel Washington, Morgan Freeman e Eddie Murphy. Washington recusou o papel por não confiar no diretor David Fincher, cuja estreia, com 'Alien 3', aparecia como a produção mais desastrosa da década. Denzel sempre se arrependeu por não ter pego esse papel, e, como uma forma de punição, protagonizou vários plágios de Seven, ininterruptamente: 'O Colecionador de Ossos' e 'Fallen' mostraram que Washington se sai bem nos ‘psicothrillers’, mas ninguém dá conselhos como Morgan Freeman. Juan Sanguino/Madri O canal HBO perdeu a oportunidade de apresentar aquela que seria a série mais emblemática da década, 'Mad Men'. O até então irrelevante canal AMC comprou o projeto e o ofereceu a Thomas Jane, uma potencial estrela cujo agente declinou do convite com palavras que devem deixar o ator atormentado até hoje: “Thomas Jane não faz televisão”. Desde então, Jane fez muita televisão, certamente bem mais do que gostaria. Juan Sanguino/Madri Esse drama histórico, ganhador de 7 Oscar, representaria o reencontro de Harrison Ford com Steven Spielberg depois da saga de Indiana Jones, não fosse a recusa do ator. Ford considerou que a sua fama internacional desviaria as atenções da profunda relevância cultural do filme, e foi substituído por Liam Neeson, que não foi nada mal na sua atuação. Juan Sanguino/Madri O quase estreante diretor Lee Daniels perseguiu sem descanso a atriz britânica Helen Mirren para que aceitasse o pequeno papel de uma assistente social que tenta auxiliar a desgraçada protagonista de ‘Preciosa’, grávida após ser estuprada por seu pai, maltratada por sua mãe e portadora do HIV. O minúsculo orçamento do filme espantou Mirren, que pediu a Daniels que a deixasse em paz: “Tenho um trabalho de verdade, no qual me pagam dinheiro de verdade”. O diretor acabou dando o papel à cantora Mariah Carey, que, para surpresa de muitos, o fez com muita dignidade. Sandra Bullock se apaixonou pela personagem da boxeadora obstinada de ‘Menina de Ouro’, mas a produção atrasou tanto que, quando o estúdio deu sinal verde, ela já estava comprometida por contrato com ‘Miss Simpatia 2: Armada e Poderosa’. O projeto chegou a estar sobre a mesa da cineasta Isabel Coixet, que zombou de ‘Menina de Ouro’ dizendo que nem louca dirigiria um filme com Sandra Bullock. Clint Eastwood e Hilary Swank afinal levaram o filme às telonas, obtendo quatro Oscars – por coincidência, quatro Oscars a mais do que Isabel Coixet possui. O ex-rapper Will Smith reconhece que o maior erro da sua carreira foi recusar a proposta das irmãs Wachowski para ser Neo em 'Matrix’. Mas confessa que não entendeu absolutamente nada quando lhe contaram o conceito do filme. Eram os anos noventa, e a promessa de “vamos suspender o tempo e o espaço movendo a câmara a 200 km/h” não era fácil de vender, então Smith optou pelo bem mais acessível ‘Inimigo do Estado’. Quem acreditou na visão das diretoras foi Keanu Reeves, cuja permanente expressão de “estou boiando” acabou caindo perfeitamente ao hacker/messias Neo. Juan Sanguino/Madri A estrela do futebol americano O. J. Simpson foi cotado para o papel do ciborgue mais famoso do cinema. Neste caso, Simpson não teve oportunidade de rejeitar a proposta porque o diretor, James Cameron, descartou a ideia: “É simpático demais para fazer um assassino a sangue frio”, disse Cameron, que optou por Arnold Schwarzenegger. O júri do julgamento de O. J. Simpson pelo assassinato de sua ex-mulher deve ter pensado a mesma coisa. Juan Sanguino/Madri Poucos confiavam no apelo comercial de uma trilogia de fantasia ('O Senhor dos Anéis') num momento em que a espada e a bruxaria ainda eram reduto da cultural marginal friki [termo derivado do inglês freaky, que descreve pessoas com gostos pouco usuais). Se esse filme tivesse fracassado, suas duas sequências teriam sido lançadas diretamente em DVD porque a distribuidora não teria um tostão. Para evitar isso, tentaram contratar uma estrela como Sean Connery com um cachê pequeno mas com uma porcentagem de 15% sobre a arrecadação do filme. O escocês não viu o potencial de bilheteria da saga nem ficou entusiasmado com a ideia de passar um ano inteiro rodando na Nova Zelândia. Por isso rejeitou a oferta, que teria sido de quase 400 milhões de euros (1,6 bilhão de reais). O ator Ian McKellen (esquerda) saiu mais barato e não reclamou das eternas maratonas de gravação, de modo que todos saíram ganhando. Todos menos Connery. Tom Cruise faz parte da geração de estrelas que não aceitam um papel sem introduzir mudanças no roteiro. Para esta epopeia de sobrevivência, o ator propôs que o engenheiro biomédico preso no espaço mantivesse conversações com sua ex-namorada, trabalhadora de uma base de controle da NASA. Também pediu um resgate espetacular com muitos helicópteros em sua chegada à Terra. A produtora do filme, Warner, aceitou, mas o diretor, Alfonso Cuarón, recusou argumentando que Cruise não havia entendido o filme. O diretor então considerou Angelina Jolie para o papel, mas descartou-a por não considerá-la verossímil como engenheira. Cuarón finalmente escolheu Sandra Bullock, mostrando ter muito mais intuição (e menos preconceitos) que Isabel Coixet (ver quadro nesta reportagem sobre 'Menina de Ouro'). E como o outro protagonista seria George Clooney, era possível assim ter uma dupla mocinho/mocinha, que tem mais apelo. Juan Sanguino/Madri Al Pacino reconhece que leu o roteiro de George Lucas, mas não entendeu nada daquela religião Jedi, daquelas espadas laser e daquela máscara com respirador incorporado. A ficção científica era algo minoritário e, com a mesma falta de visão com que a Fox cedeu todos os lucros dos brinquedos a Lucas, Pacino preferiu não embarcar num projeto que parecia destinado ao ridículo. Posteriormente, Al Pacino recusaria 'Uma Linda Mulher' (personagem de Richard Gere) e Duro de Matar (personagem de Bruce Willis), o que levou Pacino a presumir que Bruce Willis lhe deve tudo o que tem. Às vezes, transformar-se em lenda só depende de estar no lugar certo na hora certa, mas, sobretudo, de saber quando dizer que sim ainda que os outros achem que você está louco. Juan Sanguino/Madri