Candidato Trump
A retirada de seus rivais deixa o Partido Republicano à mercê do populismo
O abandono do senador Ted Cruz e do governador John Kasich da corrida pela nomeação republicana para as eleições presidenciais de novembro deixa livre o caminho para que o milionário Donald Trump seja proclamado oficialmente candidato à Casa Branca na convenção de julho. Abre-se um cenário real no qual um candidato populista, xenófobo, homofóbico e machista encabeçará uma das opções para ocupar a presidência dos Estados Unidos durante os próximos quatro anos.
Desde que anunciou sua participação nas primárias, Trump protagonizou situações e fez declarações inaceitáveis para quem aspira a ostentar o cargo político eleito mais poderoso do mundo. Em parte por esse comportamento extravagante, suas chances de vitória foram desprezadas, à espera de que as primárias acabassem mostrando o desgosto do eleitor conservador republicano com um candidato que a própria direção do partido rejeitava. Não foi assim. Sua campanha se viu coroada de triunfos em campos diversos que demonstram um claro respaldo popular: Se qualquer outro republicano que não fosse Trump tivesse obtido os mesmos resultados, provavelmente seus rivais teriam se retirado há tempos.
O Partido Republicano, sem uma estratégia clara nem candidatos convincentes, fracassou em suas tentativas de bloquear a nomeação. Primeiro, buscando suas derrotas nas sucessivas primárias; depois, forçando o processo em favor de Cruz em Estados como Colorado: em seguida, agarrando-se à fantasia de uma Convenção aberta, apesar do risco político –e de ordem pública– que isso representa...
Mas o que o establishment conservador não entendeu esse tempo todo é que foi o próprio partido que, durante anos, sentou as bases para o passeio triunfal de Trump: tolerou –e simpatizou com– a existência em seu seio de um movimento populista radical como o Tea Party, que minou sistematicamente a confiança na classe política; submeteu o Congresso a uma paralisia por motivos puramente táticos; e levou ao limite sua hostilidade contra a Casa Branca pelo fato de estar em mãos de um partido rival, permitindo até boatos que punham em dúvida a legitimidade de Barack Obama para ser presidente.
Sejam acertadas ou não as análises nos EUA que prognosticam que, com o êxito da candidatura de Trump se assiste ao suicídio de um partido com 160 anos de história –e há já reputados conservadores que tornam pública sua intenção de votar em Hillary Clinton em novembro–, o certo é que sua consagração é a fase final de um processo que começou quando os republicanos ainda ocupavam pela última vez a Casa Branca, com George W. Bush.
Trump soube combinar os reflexos antissistema de um partido que é parte fundamental do sistema com o profundo descontentamento causado entre a classe média pela crise econômica, tudo temperado com grandes doses de escândalo e polêmica. Para preocupação do que reste de sensato no Partido Republicano, e sem dúvida para desassossego do cenário global, Donald Trump já não tem em seu campo rivais na corrida para a Casa Branca.
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