Confusão na Grécia
Europa começa a aplicar as medidas para conter fluxo de refugiados
As medidas acordadas na semana passada pela União Europeia e a Turquia para tentar conter a crise migratória não poderiam ter um pontapé inicial mais desolador. Se o objetivo era conter de uma só vez a onda de desembarques na Grécia pela rota do mar Egeu, não há como negar que o resultado foi decepcionante. A principal porta de entrada para o território comunitário continua sendo um local de fácil passagem. No domingo, primeiro dia de entrada em vigor do ambicioso pacto, quase mil pessoas chegaram às ilhas gregas sem que o sistema grego de vigilância do litoral e a Frontex, a agência europeia de controle, conseguissem evita-lo.
Desde o ano passado, um milhão de migrantes irregulares entraram na Grécia por via marítima. Será difícil frear da noite para o dia a ininterrupta avalanche humana e parece ilusório acreditar que o acordo entre Bruxelas e Ankara conseguirá extinguir o tráfego de botes de borracha carregados até o limite com pessoas que fogem da guerra da Síria ou da situação se insegurança do Iraque. O caos e a improvisação que marcaram o início da aplicação dos acordos anti-imigração expuseram as dificuldades de uma tarefa gigantesca que o governo de Alexis Tsipras não tem condições de enfrentar sem um apoio firme – e não apenas no aspecto econômico — dos membros da União Europeia.
A Grécia ainda registra em seu território quase 50.000 refugiados e imigrantes, grande parte deles recolhidos em campos que carecem das mais elementares condições de vida. Do outro lado do Mediterrâneo, muitos dos que embarcaram, ludibriados pelas máfias que organizam e cobram por seu transporte, ignoram que a fronteira foi fechada e empreendem uma viagem que agora passou a ser, irremediavelmente, de ida e volta.
O desafio se mostra maior ainda quando se leva em conta que não se trata apenas de organizar de modo rápido e eficaz as expulsões, mas também de mostrar a mesma energia no momento de administrar as entradas legais de refugiados a fim de cumprir o essencial do acordo fechado entre os Vinte e Oito e o Governo turco. O esquema “um por um” implica que, para cada pessoa expulsa, será facilitada a realocação na UE de um solicitante de asilo, dentre os milhares de sírios que aguardam na Turquia a documentação necessária para se instalar na Europa legalmente.
Colocar em prática o acordo que visa o retorno dos migrantes – inclusive os refugiados — que entram na Grécia sem documentação exige organização e meios, e a imagem de caos projetada pela gestão inicial do processo por parte da UE é preocupante. A Comissão Europeia estima que que, para levar a cabo essas devoluções expressas, será necessário mobilizar vários milhares de especialistas, entre eles juízes, advogados e policiais. Trata-se, antes de mais nada, de garantir que o processo conte com todas as garantias. No afã de expulsar os migrantes, seria uma imprudência fazê-lo indiscriminadamente, mandando de volta a seus países perseguidos políticos cujas vidas sejam colocadas em risco fora do refúgio europeu.
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