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Carta aberta do diretor do EL PAÍS à Redação do jornal

Antonio Caño fez uma reunião com a equipe para explicar a iminente transformação do jornal em um veículo essencialmente digital

Antonio Caño
Antonio Caño, na redação do EL PAÍS.
Antonio Caño, na redação do EL PAÍS.Ricardo Gutiérrez

Queridos companheiros:

Conversamos nesta manhã sobre a dura realidade enfrentada pela nossa profissão e pelos jornais em todo o mundo. No EL PAÍS, estamos fazendo ajustes há algum tempo e conseguimos realizar a transformação digital paliando, na medida do possível, os danos que está provocando no nosso setor. Felizmente, e apesar das dificuldades, continuamos sendo o jornal impresso mais vendido na Espanha, com bastante distância sobre nossos concorrentes, e nossas edições digitais alcançaram, nos últimos dezoito meses, crescimentos espetaculares que transformaram o EL PAÍS no meio de comunicação em espanhol mais acessado e lido no mundo.

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Antonio Caño, no Facebook: “Devemos ouvir os leitores”

Graças ao sacrifício e à colaboração de vocês estamos em uma posição competitiva e em condições de prolongar a liderança do EL PAÍS. Mas isso não significa que a batalha esteja ganha ou que nossa sobrevivência esteja garantida. A revolução que afeta os meios de comunicação ainda não foi concluída, o panorama ainda é muito confuso. A crise, provavelmente, ainda não chegou ao fundo do poço. A transferência de leitores do papel para o digital é constante. Podemos encarar como fato consumado que o hábito de comprar o jornal em banca reduziu-se a uma minoria. A maioria das pessoas, principalmente os mais jovens, busca a informação em outros suportes e a consome de forma diferente.

A situação ainda continua incerta também no mundo digital. A transferência maciça de leitores da Web para os telefones celulares, bem como o surgimento de novos dispositivos móveis e de ameaças recentes como os bloqueadores de publicidade, juntamente com outras mais conhecidas como a instalação da cultura da gratuidade, tornou muito complexo também o horizonte no campo das novas mídias. Estou começando a ter a impressão de que a passagem do papel para o digital é apenas um e não o maior dos muitos passos que os jornais terão de dar até alcançar o nosso verdadeiro espaço futuro.

A passagem do papel para o digital é apenas um dos muitos passos que teremos de dar até alcançar o nosso verdadeiro espaço futuro

Essas mudanças, como todas as mudanças, têm grandes vantagens. A primeira e mais importante é que milhões de pessoas em todo o mundo hoje mostram interesse e têm capacidade para acessar os nossos produtos. Mas, sem dúvida — e isso é o que mais nos angustia hoje —, este novo tempo é também um grande desafio para todos nós. E uma grave ameaça para aqueles que duvidam ou resistam ao avanço incontido da transformação do nosso trabalho e do negócio que o mantém.

No EL PAÍS nós decidimos não apenas não ter medo da mudança, mas antecipar-nos na medida do possível para estar na vanguarda dessa mudança, assim como estivemos na vanguarda do nascimento da imprensa independente na Espanha e na da informação de qualidade e competitiva em espanhol.

Nossos valores

É bom olhar por um momento para trás e lembrar como tudo começou e que é a razão primeira pela qual estamos aqui. No dia 4 de maio comemoraremos nosso 40º aniversário. Naquele primeiro número, Juan Luis Cebrián afirmou que este jornal tinha sempre sonhado consigo mesmo como um jornal independente, capaz de rejeitar as pressões que o poder político e o poder do dinheiro exercem continuamente sobre o mundo da informação.

Vamos mudar, sim, mas não vamos renunciar aos valores de liberdade e independência que nos trouxeram até aqui. Incorporaremos novas dinâmicas de trabalho que sejam capazes de aumentar a qualidade e a quantidade dos conteúdos e dos produtos que o EL PAÍS oferece e que hoje podem ser lidos em papel, por meio de aplicativos móveis, televisões inteligentes ou redes sociais. Mas estaremos vigilantes para que em todas essas plataformas a marca do EL PAÍS esteja presente.

Não vamos renunciar aos valores de liberdade e independência que nos trouxeram até aqui

Depois de mais de um ano e meio de trabalho e discussões, estamos nos aproximando de um momento-chave na história do EL PAÍS. Nos próximos dias estará concluída a primeira fase do trabalho que habilitará a nova redação, e com isso chegará o momento da conversão do EL PAÍS em um jornal essencialmente digital; em uma grande plataforma geradora de conteúdos que serão distribuídos, entre outros suportes, no melhor jornal impresso da Espanha. Assumimos o compromisso de continuar publicando uma edição impressa do EL PAÍS da mais alta qualidade durante o maior tempo possível. Mas entramos ao mesmo tempo na construção de um grande meio de comunicação digital de alcance global que possa atender às demandas dos novos e futuros leitores. O eixo desse meio será a informação. Suas ferramentas serão todas aquelas que a tecnologia puser à nossa disposição. No momento, como já estão vendo, apostamos na imagem e no vídeo como um grande instrumento de comunicação de massa. Esse meio é e será cada vez mais americano, pois é na América onde o nosso crescimento é maior e nossa expansão mais promissora.

Para tudo isso, como já dissemos, estamos fazendo obras que facilitem a transição do trabalho de ontem ao de amanhã. Vamos passar daquilo que o setor chamou de “integração de redações” para um novo sistema de sincronização de equipes e canais. Vamos implementar modernas ferramentas de comunicação para atender com rapidez e qualidade as demandas de informação transparente de uma sociedade cada vez mais exigente com a tarefa que nos confiou.

Será uma redação sem escritórios, aberta à colaboração e à troca de ideias, na qual as equipes se misturarão para construir novas histórias. A partir de agora, no coração da planta principal será instalado um moderno espaço aberto dedicado à criação e à coordenação de informações e sua distribuição nos diferentes canais. O centro dessa redação contará com uma moderna ponte de comando, na qual haverá perfis jornalísticos, de desenvolvimento tecnológico, de edição gráfica e de vídeo, de design, de produção, de medição de audiência, de redes sociais, de SEO [otimização de sites] e de controle de qualidade. A partir dali serão criadas novas narrativas e novas formas de comunicação que continuarão a manter este jornal na vanguarda do jornalismo global.

Nossos leitores

Toda essa mudança tem um objetivo principal: manter-nos conectados com cada um dos nossos leitores. O EL PAÍS sempre foi uma organização jornalística focalizada em seus sempre atentos e informados leitores. Hoje ele deve sê-lo ainda mais: temos de continuar a ser um jornal que atende as necessidades e demandas daqueles que nos consultam, que nos leem, que confiam em nós. Não trabalhamos para ninguém mais importante do que o leitor, mas sabemos que os leitores de hoje se tornaram usuários que estão em lugares muito diferentes e vêm até nós não só comprando um exemplar a cada dia, mas também por meio do nosso site, por meio do telefone celular ou de seus perfis nas redes sociais.

Este novo espaço pretende continuar sendo o melhor lugar para publicar os mais importantes jornalistas, escritores, ilustradores, fotógrafos, designers e outros criadores de informação e cultura em língua espanhola, mas hoje o conteúdo é tão importante quanto a forma de fazê-lo chegar ao nosso público. Portanto, além das assinaturas, estamos nos dotando de novos sistemas de trabalho e ampliando nossos planos de formação para poder moldar os conteúdos jornalísticos de modo que sejam fáceis de encontrar, de ler e de ver, porque os leitores consomem com cada vez mais avidez os conteúdos multimídia. Nessa linha, o lançamento do EL PAÍS Vídeo foi um dos mais recentes sucessos. Experiências com as quais aprendemos muitas coisas.

Este jornal precisa de todos aqueles que tragam criatividade e bom trabalho

Para facilitar a implementação de tudo isso, reforçamos nossa equipe de direção com novos perfis, mais adaptados às necessidades atuais. Embora eu não tenha dúvida da sua capacidade e esforço, nem eles nem qualquer um de nós conseguirá o difícil objetivo almejado se vocês não nos acompanharem, se não nos ajudarem com suas sugestões, com suas críticas, com seu trabalho em busca da excelência. Acredito que temos a visão, as capacidades e o conhecimento necessários, mas queremos ouvir com humildade suas ideias e as demandas dos nossos leitores e de toda a comunidade que fez deste jornal a referência que nos deixa orgulhosos. Em Únete a la Conversación resumimos isso na nossa comunicação aos leitores. Este jornal precisa de todos aqueles que tragam criatividade e bom trabalho. Devemos fazer um esforço coletivo para mudar permanecendo fieis a nós mesmos e para torná-lo ainda melhor, e espero que seja desfrutando e sendo felizes enquanto realizamos essa viagem emocionante.

O EL PAÍS segue seu caminho para comemorar seus próximos 40 anos mais vivo do que nunca. Você está convidado a participar dessa linda aventura de inventar o futuro desta casa que você construiu e que é o nosso jornal.

Muito obrigado pela sua confiança e esforço.

Um abraço

Antonio Caño

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