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O Lady Gaga da matemática

O francês Cédric Villani é o jovem matemático mais influente do mundo: excêntrico e pop

Carlos Marcos
Cédric Villani, com seu laço de seda e seu broche de aranha.
Cédric Villani, com seu laço de seda e seu broche de aranha.A. Desforges

Acha graça quando perguntamos como se sente ao ser chamado de "Lady Gaga da matemática", certamente por suas roupas chamativas e sua personalidade excêntrica. "Acho engraçado. Por que não? Além disso, ela canta muito bem. Seu álbum de jazz é maravilhoso", diz ele.

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Sem dúvida, somos seres preconceituosos. Caso contrário, não se entenderia por que a aparência de Cédric Villani chama tanto a atenção, com seu laço de seda decorando o pescoço, o broche de aranha, essa juba de poeta do século XIX... Ou de fato se entende: Somos, definitivamente, preconceituosos. "É que a matemática é a poesia da ciência, como dizia o escritor africano Senghor," afirma para destacar seu ar romântico.

A aparência de Villani por si só renderia um artigo completo, mas estamos diante de um dos matemáticos mais importantes da atualidade, provavelmente o mais jovem entre os influentes (nasceu há 42 anos, em Brive-la-Gaillarde, França). Em 2010, ganhou a Medalha Fields, considerada em seu campo o equivalente ao Prêmio Nobel, e comprovamos que é difícil conciliar sua agenda para uma entrevista. "Não, agora estou na África dando palestras"; "Poderia ser semana que vem? É que estou indo para o Chile para uma reunião de matemáticos...”. Essas e muitas outras desculpas surgiram durante nossas tentativas para um encontro. Um dia, Cédric e suas aranhas aparecem: "Vou estar alguns dias em minha casa, em Paris. Daria para vocês?".

Como é possível, então, que um estudioso criterioso tenha se tornado um ícone da modernidade pop? Não foi sempre assim. Villani passou os primeiros anos de sua vida refugiado em si mesmo, com medo de seu entorno e alheio ao exibicionismo pelo qual desliza, desinibido e brincalhão, atualmente. "Era extremamente tímido na escola. Na sala de aula, os professores nunca ouviram o som da minha voz. É curioso, porque agora é difícil passar dois dias sem falar em público." Foi sua paixão pelos números que operou esse milagre, sua ânsia por transmitir o poder de cura das raízes quadradas e dos algoritmos. "A matemática não é apenas números. É lógica e verdade. Diz respeito sobre como ordenar o mundo, entendê-lo e aprofundá-lo através dos sentimentos. Além de ser, claro, o principal motor dos avanços tecnológicos."

A iluminação matemática é comparável à relação sexual. Mas o prazer é mais longo

OK, OK, mas como motivar um garoto com as equações cabeludas? O especialista responde rapidamente: "Devemos explicar às crianças que elas estão usando a matemática através da tecnologia. Os computadores, os mapas da Internet ou as buscas do Google. Tudo isso é matemática; as equações explicam isso. São ferramentas que estamos utilizando o tempo todo. Isso definitivamente vai motivá-las".

Cédric é acadêmico da Universidade de Lyon e dirige desde 2009 o principal centro matemático francês, o Institut Henri Poincaré de Paris. Além disso, acaba de lançar Teorema Vivo (traduzido em 12 línguas, inclusive ao português, publicado pela editora Gradiva), que continua recebendo excelentes críticas. "Mais do que um livro, é uma aventura. Tenho buscado respostas, feito perguntas às pessoas, cometido erros, superado obstáculos... Sinceramente, acredito que não exista um livro tão emotivo sobre a matemática como este."

Devemos explicar às crianças que elas estão usando a matemática através da tecnologia. Os computadores, os mapas da Internet, as buscas do Google... Tudo isso é matemática. Isso definitivamente vai motivá-las

É preciso falar sobre os recentes acontecimentos que abalaram seu país. Dos ataques de novembro passado: "Estava em Lisboa. No dia seguinte, fui, com muitos portugueses, colocar velas nas praças para lembrar as vítimas e para dizer que estamos unidos, e que ninguém vai nos derrubar". Ou sobre a incessante ascensão da Frente Nacional, de Marine Le Pen: "Há motivos para preocupação. Existe um movimento antieuropeísta radical em alguns países. Temos um desafio e devemos nos unir. Sou um europeísta federalista. Acredito que a Europa só pode sobreviver se estiver unida. Isso nos dará força. Temos um enorme desafio". O professor acredita que o futuro pertence à ciência: "Vivemos em um mundo cada vez mais fascinantemente complicado. E continuará sendo no futuro. A matemática vai nos ajudar a entendê-lo, porque é uma ciência com uma grande capacidade de simplificar a realidade".

É hora de fazer uma pausa para dissecar seu estilo. Apesar de estar muito ocupado com seus números, Villani (casado com uma bióloga e com dois filhos; todos moram em Paris) investe muito tempo em seu guarda-roupa. Compra as roupas na Hackett, os sapatos na Church’s, as abotoaduras em uma loja da Califórnia, os laços em Paris e o broche de aranha foi desenhado por um artista tuaregue de Níger. "Tenho mais de 30 objetos em forma de aranha. Eu me apaixonei por elas há dez anos, depois de uma coisa que aconteceu comigo, mas que nunca contarei", diz, misterioso.

Mas sobre a relação entre o sexo e a matemática, ele fala. Sim, existe, caro leitor. "Um amigo matemático comparou uma vez o caso da iluminação matemática [ou seja, a compreensão súbita após um longo período de estudo e pesquisa] com a relação sexual. E acrescentou que na iluminação o prazer era mais longo. E é verdade." Como estamos falando do assunto, perguntamos sobre seus mitos sexuais. Depois de dizer que num patamar superior está Audrey Hepburn, detalha uma longa lista que inclui todas as épocas: Scarlett Johansson, Rita Hayworth, Elle McPherson e Irina Shayk. "E não esqueço das heroínas Paprika e Taarna". Já perceberam: o matemático pop.

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