_
_
_
_
Eleições na Venezuela
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

A América sem medo

A primeira necessidade da região é o equilíbrio social e a segunda, acabar com a corrupção

Oposicionistas comemoram em Caracas.
Oposicionistas comemoram em Caracas.JUAN BARRETO (AFP)

Agora foi a Venezuela, há 15 dias, a Argentina e há meses, a Guatemala. Definitivamente, algo está se movimentando na América Latina. Do mesmo modo que um fantasma percorria a Europa na época de Marx, agora o espírito de uma possível recomposição moral cruza da Terra do Fogo até os Andes. Depois de o presidente da Guatemala renunciar em meio a um escândalo de corrupção e Dilma Rousseff ter de enfrentar um processo de impeachment, agora é a vez da Venezuela, onde a tragédia é superior à comédia encarnada por Nicolás Maduro, que diz que dá na mesma ganhar ou perder as eleições, quando sabe que já as perdeu. Uma eleição fracassa quando não se é capaz sequer de imaginar que se pode perder. Ainda assim, garante que vai continuar, uma afirmação que também é uma demonstração de que algo pode mudar.

Mais informações
Venezuela inicia uma nova era com oposição na maioria do Parlamento
Macri chega ao Brasil preocupado com a crise de seu sócio estratégico
Temer expõe racha com Dilma e abre porta de saída do Governo
Presidente eleito e Kirchner brigam até pela faixa presidencial

Desde Montesquieu, a divisão de poderes e a articulação de leis para consagrar o equilíbrio em prol da sociedade são valores aceitos universalmente. O problema é a maioria das leis do continente americano serem de inspiração saxônica, mas cumprimento latino. Ou, dito de outro modo, a lei, em uma região onde as instituições sempre fracassam diante da vontade de quem manda, não é uma prescrição, mas uma aspiração. Então, por que neste momento a corrupção se transformou na cólera do continente? Porque com o empoderamento do cidadão, as leis e o mundo plano da Internet já não há quem detenha a avalanche do insustentável.

Naturalmente, como em todo grande reajuste, haverá muitos erros, mas espero que não seja outra oportunidade perdida para a América de língua espanhola. No caso argentino, por exemplo, é fundamental concentrar-se na luta política que se avizinha, crua e com todas as características dessa parte da América. Mauricio Macri será um presidente que governará entre um Senado e um Congresso hostis e, além disso, enfrentará o chamado fator K, que consistem em dar um papel –coincidindo com a revolução dos meios de comunicação– às novas gerações.

A experiência e a lembrança mais imediata fazem com que os argentinos tenham os mais funestos prognósticos sobre o modo como Macri poderá acabar. Mas também é verdade que, na vida e na política, não se engana quem elimina a palavra impossível de seu vocabulário, ou seja, vivemos uma revolução tão profunda que tudo é possível. Nesse sentido, desconheço se o presidente eleito representa a reestruturação moral, mas sim o encontro com algo que já é impossível ocultar: o fato de que a democracia tem estética e sentido, embora este último estivesse desaparecendo na América que fala espanhol. E não porque a parte que fala inglês seja mais forte, mas porque ali a maioria das instituições ainda é mais importante que a vontade do poderoso mais recente.

No entanto, essa nova luta que se apresenta –por mais voltas ideológicas que lhe deem– deixa evidentes duas realidades. A primeira é que a América em particular, e o planeta em geral, estão em perigo em razão das brechas sociais pendentes. A segunda é que agora o mundo no qual vivemos é plano e não faz distinções nem tem nuances. Assim, com essa reconversão que não é ideológica, acredito que, independentemente de que processem ou não Rousseff, que Macri triunfe ou não, e desde que não seja muito sanguinária a saída dos chavistas, um novo tempo de esperança está se instalando na América Latina.

Mas é preciso ter consciência de que a primeira necessidade da região é o equilíbrio social e a segunda, acabar com a corrupção como sistema de vida. No entanto, a América Latina ainda possui algo que a torna diferente porque são tantos os pesadelos que viveu em tão pouco tempo que, ao contrário do que se passa na Europa ou nos Estados Unidos, é uma região que não tem medo e começa a encontrar certa esperança perdida.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_