Alckmin adia plano de fechar escolas, mas estudantes mantêm ocupações

Recuo de governador após semana de repressão foi considerado insuficiente por alunos

Estudantes comemoram a notícia nesta sexta.C. Villalba R (EFE)

Por anos se repetiu que o tucano Geraldo Alckmin é feito de teflon: em anos à frente do Estado de São Paulo, nenhuma crise, nem mesmo a falta de água, havia sido capaz de avariar seriamente sua imagem. A máxima foi abalada nesta sexta-feira. Alckmin despertou com a notícia da queda recorde de sua popularidade medida pelo Datafolha. Um dos detonadores do revés, segundo a pesquisa, estava na televisão naquele momento: por mais de uma hora, e ao vivo, estudantes, contrários a seu plano de reorganização escolar e fechamento de colégios, eram alvejados mais uma vez por bombas de gás lacrimogêneo por policiais militares. O tucano acusou o golpe. No final da manhã, veio a público num discurso relâmpago para anunciar o adiamento da reorganização escolar, que já seria implementada no ano que vem.

"Recebi e respeito a mensagem dos estudantes e seus familiares com as suas dúvidas e preocupações em relação a reorganização das escolas aqui no nosso Estado de São Paulo. Por isso, a nossa decisão de adiar a reorganização e rediscuti-la, escola por escola, com a comunidade, com os estudantes, em especial com os pais dos alunos", afirmou o governador.

O anúncio de Alckmin no Palácio dos Bandeirantes durou menos de cinco minutos. Logo depois, ele deixou a sala, sem responder perguntas dos jornalistas. O secretário da Educação, Herman Voorwald, não estava na sala. Pouco depois, foi confirmada a sua saída da Secretaria. O Palácio, porém, não confirmou ainda quem será o novo secretário.

O recuo encerra uma semana que começou com o vazamento de um áudio, publicado pelo coletivo Jornalistas Livres, em que o chefe de gabinete da secretaria da Educação, Fernando Padula, afirmava a dirigentes de ensino que o Governo estava pronto para a "guerra" com os estudantes contrários ao projeto, que já estava sendo implantado e mudaria de escola mais de 300.000 alunos, além de fechar 92 unidades. Foi o estopim para que os alunos, após um quase um mês de ocupações em quase 200 escolas, mudassem a tática de mobilização e passassem também a ir para as ruas, travando o trânsito de importantes vias da cidade de São Paulo. A semana se transformou em uma chuva de bombas de efeito moral usadas pela PM para dispersar as manifestações. A repressão policial nas ruas rendeu imagens de alunos, alguns deles menores de idade, algemados e machucados. Ao menos 30 pessoas foram detidas ao longo dos últimos dias.

Para os estudantes, porém, o movimento de Alckmin foi insuficiente. Um coletivo de estudantes que representa as ocupações anunciou, já na noite da sexta, que a mobilização e as ocupações das escolas seguem.  Os pinguins paulistanos, em alusão à revolução dos secundaristas chilenos que os inspiraram, exigem a revogação do decreto que oficializou a transferência de alunos e funcionários de unidades escolares a partir do ano que vem. Eles dizem que não aceitam apenas o adiamento: querem o cancelamento da reorganização escolar. Mais protestos estão agendados para o fim de semana, quando haverá também uma Virada das Ocupações, com shows de artistas como Paulo Miklos, Maria Gadú e Criollo, acontecerão pelas escolas ocupadas.

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A decisão do Governador tampouco barra ação movida pelo Ministério Público e a Defensoria Pública que pede a suspensão do plano. Um dos pedidos dos promotores era de que o Governo deveria apresentar uma agenda de discussão sobre o tema para o ano que vem. João Paulo Faustinoni, um dos promotores, afirma que, mesmo com o anúncio do Governo, a ação continuará tramitando na Justiça. "A ação continua porque o pedido é mais amplo e inclui uma agenda de discussão ao longo de todo o ano que vem", diz. "Agora vamos verificar se os alunos que já haviam sido transferidos para as outras escolas serão rematriculados em suas escolas de origem."

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