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Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

#AgoraÉQueSãoElas

No começo dos anos 1990, o fanzine '02 Neurônio' já empoderava o movimento feminista. É de uma das autoras, Jô Hallack, a crônica que ocupa, sem favor algum, esta coluna

Ali no começo dos anos 1990, o fanzine 02 Neurônio, de acento punk-rock-feminista, já empoderava o movimento e organizava o carnaval, com muito David Bowie, na Torre do Doutor Zero, bar dançante e moderno de SP. No comando da publicação, o power trio composto por Nina Lemos, Raq Affonso e Jô Hallack. Cada uma ao seu estilo, as meninas seguiram com Bowie & Beauvoir e muita sátira de costumes. Como veremos agora na crônica de Jô, que ocupa, sem favor algum, esta coluna no embalo do #AgoraÉQueSãoElas:

Mea-culpa do macho

Por Jô Hallack*

"Dê amor. Dê segurança. De anca na anca dela. E amanheça de cabeça dentro dela". (Tatá Aeroplano)

Eles ali no chão da sala. Daquele jeito deles, só deles, só deles. Sussurrinho bom no pé do ouvido.

- Vontade de fazer uma loucura.

- Que delícia, lindo. Fazer o quê?

- Um mea-culpa.

Ele era aquele tipo que muitas de nós já conhecemos. Moderninho, mas até hoje lavava a roupa na casa da mãe. "É ela que se oferece!" Não era dos mais fiéis, mas quando ficou sabendo de um chifre, chorou sentado no meio-fio. O resto era aquele combo que a gente tá acostumada e vai levando, sabe como é. Então, esse sujeito está ali, no chão da sala, e ele quer fazer um mea-culpa gostoso.

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- Um o quê?

- Um mea-culpa.

- Que foi, dessa vez?

- Nada. É um mea-culpa pelo meu comportamento machista dos últimos anos.

- Dos últimos anos, você diz, desde sempre?

- É a cultura do patriar...

Pois é, pessoal, naquela semana, finalmente, ele tinha se tocado do que as mulheres estavam falando desde o século retrasado. Vamos repetir para ter uma noção temporal bem exata: DESDE O SÉCULO RETRASADO. Demorou um século inteiro pra chegar naquele mea-culpa de meia tigela mas, beleza, vamos ter boa vontade com a rapaziada. Só que poderia ter ficado pra outra hora.

- Que hora?

- Uma hora em que a minha calcinha não estivesse no chão da sua sala.

- A sua calcinha está no chão da minha sala, mas isso não significa, necessariamente, que você esteja querendo fazer sexo. Agora tô a par de tudo.

- Amor, foi você que arrancou a minha calcinha com a sua boca. A gente tava trepando. Falando sacanagem. Bom demais. Vem cá.

- Não, finalmente, agora, eu consigo te ver como uma mulher pensante.

- Você não imagina no que eu tô pensando nesse momento.

- No quê?

- Em pedir um táxi.

Fim.

PS: E quando eles pararem de gentilmente nos ceder espaço? Aí você faz como sempre, baby, chuta a droga da porta.

Xico Sá, obrigada por deixar eu ocupar a sua coluna, mas da próxima vez prefiro uma joia chapeada ou que você me leve pra tomar sorvete. Grata, te amo.

*Jô Hallack escreve, tem o blog defeito.com e faz parte do 02 Neurônio (para sempre).

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