A lei do silêncio de Del Nero: confinado no Brasil por caso FIFA
Presidente da CBF é blindado para não explicar por que não vai ao exterior com a seleção
Um assunto de interesse público virou tema proibido na CBF. A principal entidade do futebol no Brasil resolveu impor uma lei do silêncio a todos os assuntos relacionados ao presidente da entidade, Marco Polo Del Nero. Em especial, sua recente decisão de não acompanhar mais a Seleção Brasileira nos destinos internacionais desde que estourou o escândalo da Fifa, em maio, quando grandes cartolas mundiais entraram de vez no radar do FBI e da Justiça norte-americana. A estratégia ficou explícita diante do esquema montado na quinta-feira para blindá-lo ante a imprensa durante o anúncio da convocação da seleção para os jogos contra Argentina e Peru.
"A pergunta é sobre o jogo Brasil e Argentina, se o presidente Marco Polo Del Nero vai à Argentina acompanhar a seleção. O senhor ficou de dar uma coletiva explicando essas suas ausências (nos eventos fora do país), então gostaria de saber se o senhor pode falar sobre isso."
Del Nero nem esboçou reação. Assim que o jornalista terminou de falar, o assessor de imprensa da CBF assumiu o microfone e informou que o assunto ali deveria ser apenas a convocação.
A expectativa em relação à presença de Del Nero em Buenos Aires é grande. A provável ausência do dirigente no jogo contra a Argentina será a décima falta seguida a eventos e jogos oficiais da seleção brasileira. Ele não sai do país para representar a CBF desde o fim de maio, quando viajou à Zurique para participar da eleição para a presidência da FIFA e viu o então presidente da Confederação, José Maria Marin, ser preso por suspeita de corrupção e recebimento de propina na venda de direitos de transmissão da Copa América e outras competições.
Del Nero, que era vice de Marin, voltou ao Brasil horas após a prisão do dirigente e de outros cartolas em um hotel de Zurique. Abandonou a Suíça sem aviso prévio em 28 de maio, não participou da eleição da FIFA e só falou sobre o assunto quando já estava no Brasil. Negou uma possível renúncia e disse que não estava envolvido nos crimes que levaram Marin para a cadeia. Seja como for, age como se estivesse na mira do FBI e da Justiça dos EUA, que foram responsáveis pelas prisões de Marin e de outros dirigentes na Suíça.
Além de vetar a pergunta, a CBF também impediu que os jornalistas saíssem do auditório na sede da entidade após a entrevista. A liberação só aconteceu quando Del Nero já estava longe do saguão do local. Segundo a Folha de S. Paulo, no único momento em que foi interpelado por um repórter, Del Nero apenas balançou a cabeça negativamente quando questionado se cogitava renunciar ao cargo no Comitê Executivo da FIFA.
Perda de força e Globo
Desde a viagem a Zurique, Del Nero perdeu força política nos bastidores da CBF e da Conmebol, teve seu sigilo bancário e fiscal quebrado pela CPI do Futebol e trocou farpas com o senador Romário, criador da Comissão. Até a Globo, emissora detentora dos direitos de transmissão dos jogos da seleção brasileira, também se pronunciou oficialmente sobre o sumiço de Del Nero dos eventos oficiais da CBF, principalmente depois da ausência do cartola na Copa América, em junho.
Quando soube que Del Nero usou a CPI para justificar a ausência em Santiago para acompanhar a seleção no primeiro jogo das eliminatórias, contra o Chile, em 8 de outubro, Romário rebateu os argumentos do presidente para permanecer no Brasil.
“Marco Polo Del Nero alegou novamente que não pode deixar o País porque precisa acompanhar os desdobramentos da CPI do futebol [...] O presidente precisa parar de se preocupar tanto com a CPI [...] Del Nero não tem com o que se preocupar. Pode viajar tranquilo, a gente te espera para um depoimento em breve”, escreveu Romário em postagem em uma rede social.
O narrador Galvão Bueno, principal nome da equipe esportiva da Globo, fez um discurso em tom editorial no dia 6 de julho, no programa Bem Amigos, do canal Sportv, cobrando Del Nero. O pronunciamento foi feito semanas antes da reunião do Comitê Executivo da FIFA, que aconteceu em 20 de setembro. "Se nós não tivermos representatividade na reunião da Fifa no dia 20, se não for ninguém, com medo de ir na Suíça, então é hora de zerar a pedra e começar de novo. Não podemos não ter o presidente da CBF na Copa América e não podemos não ter o presidente da CBF na reunião da Fifa que funciona para decidir o destino do futebol mundial. O Brasil é peça importante. Então vai caber a ele (Marco Polo Del Nero) ter que entender que não pode mais exercer o cargo."
De nada adiantou o apelo feito pela Globo. Del Nero ficou no Brasil, apesar de ser esperado pela FIFA na reunião do Comitê. Entre outros assuntos, ele deveria tratar sobre o futebol nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. A ausência do brasileiro revoltou dirigentes da FIFA, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.
É nesse cenário caótico que Del Nero vai se equilibrando à frente da entidade. O dirigente parece só se sentir seguro dentro do Brasil. Mais especificamente no bunker em que transformou a sede da CBF.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.