Cortinas de fumaça
Países europeus dão uma resposta decepcionante ao escândalo da Volkswagen
O escândalo de fraude nos motores de veículos da Volkswagen (VW) está chegando ao ponto exato em que se esclarecem as posições de cada um dos atores ou vítimas do delito. Bruxelas ofereceu uma reação de baixa intensidade, consciente de que a empresa de Wolfsburg representa crescimento e empregos na Europa; a Alemanha demorou em decidir sobre o registro da sede da firma automobilística, imprescindível para descobrir os autores do desmando, e nos Estados Unidos um grupo de congressistas pediu a abertura de um processo penal, para que os responsáveis arquem com as consequências. A irritação no mercado norte-americano disparou quando se anunciou que Michael Horn conhecia o truque delitivo desde 2014 e guardou um silêncio cúmplice.
Na realidade, não é verossímil a hipótese de um engano em massa (11 milhões de veículos afetados), sobre o qual o amplo grupo de diretores da VW não teve conhecimento. Esse é o argumento que justifica o pedido dos congressistas de que se abram processos penais que possam acabar em prisão. É mais provável que estejamos não perante um caso de negligência –a alta direção da empresa não soube ou não pôde controlar as práticas ilegais de um grupo de empregados–, mas ante uma infração consciente das normas de emissão de gases nocivos e outras leis ambientais. A violação da lei teria ocorrido para contornar as limitações financeiras decorrentes de normas rígidas; a conduta seria intencional.
Para corroborar ou descartar essa hipótese, é imprescindível realizar uma investigação judicial logo. E isso é exatamente o que não estão fazendo as autoridades alemães. A resposta dos Governos europeus também é, em geral, decepcionante. Parecem mais interessados em observar o impacto da crise sobre a VW do que em defender os interesses dos cidadãos enganados. O caso do Governo espanhol é de uma pobreza política singular. O ministro da Indústria, José Manuel Soria, confundiu não só a si mesmo proclamando primeiro que os responsáveis espanhóis pela resposta à crise estavam em permanente contato com Wolfsburg, para depois dizer que a empresa não atendia o telefone, antes de retornar, por fim, à tese do contato permanente, e ainda se ofereceu como porta-voz insuspeito da direção da VW ao assegurar que os investimentos na Espanha (4,2 bilhões de euros) estão garantidos. Os empregados de Martorell e Landaben ficariam mais tranquilos se fosse Matthias Müller quem pronunciasse as palavras mágicas.
Enquanto isso, os afetados pela fraude não sabem ao que se atentar. Hoje desconhecem que tipo de correções seus carros precisam, nem em que estado ficarão depois da retirada do software fraudulento (é provável que percam potência), nem durante quanto tempo ficarão sem o veículo, nem os procedimentos para realizar os reparos. A informação que recebem dos telefones habilitados pela Volkswagen é muito deficiente. Proliferam as associações de vítimas, mas as reclamações legais terão que ser pagas de seus próprios bolsos, e desconfiam que a pressão do Governo sobre a VW seja realmente efetiva.
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