Latinos viciados no Facebook
Há mais usuários de redes sociais na América Latina que em qualquer lugar do mundo
Sete e meia da manhã. O despertador toca. Manuel mal abre os olhos, pega o celular, desliga o alarme e, quase automaticamente, entra no Facebook. Ainda sem ter posto o pé no chão, este rapaz mexicano de 31 anos fica sabendo os detalhes da vida de seus 1.040 contatos. O relógio marca 7h45 horas quando termina o primeiro de quase uma dezena de passeios digitais que ele faz durante o dia.
Na América Latina o caso de Manuel não tem nada de excepcional. Na região —com uma penetração de Internet de 50,1%—, o uso das redes sociais é o mais intenso do mundo. A proporção de usuários que têm conta nessas plataformas, entre as pessoas que têm acesso à web, é de 78%, superior à registrada em regiões industrializadas como a América do Norte (64%) e a Europa Ocidental (54%), lugares com maior penetração da Internet (83% e 73%, respectivamente), segundo um relatório recente da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
A segunda macroárea em proporção de usuários de redes sociais é a região Ásia-Pacífico, com mais de 1 bilhão de pessoas conectadas à Internet, das quais 73,2% usam as redes sociais, segundo os cálculos da Cepal com dados de 2013. “Os cidadãos latino-americanos se caracterizam por ser muito sociáveis, gostam de compartilhar e encontraram nas redes uma das melhores vitrines”, comenta Osbaldo Franco, analista da consultoria de tecnologia eMarketer.
As redes sociais se tornaram sinônimo de Internet: para muitas pessoas que entram na web, a primeira coisa é abrir uma conta no Facebook e no Twitter, diz Franco. Com números de 2014, a Cepal indica que a rede criada por Mark Zuckerberg se tornou a mais popular, com 145 milhões de usuários únicos por mês, seguida por LinkedIn (34 milhões), Twitter (29 milhões) e Taringa (27 milhões).
Manuel chega ao escritório, no qual trabalha como contador, às 9 da manhã. No navegador do computador abre uma janela para o correio eletrônico, depois uma para o Facebook e outra para o Twitter. Atualiza seu mural e seu microblog. Quando está entediado, durante sua jornada de trabalho de oito horas, navega em seus perfis. Nunca fica desconectado. Leva o celular para o trabalho; na hora do almoço checa se recebeu alguma nova notificação; indo para casa, clica várias vezes em “gosto”; envia corações no Instagram, compartilha, retuíta, posta.
As redes sociais não apenas servem para compartilhar como também são usadas como sistemas de mensagens instantâneas e de voz, comenta Raúl Katz, presidente da consultoria Telecom Advisory Services. “Viraram um complemento dos serviços de comunicação tradicional, como pode ser o uso do celular, que para muitos latino-americanos é caro”, acrescenta o também professor da Universidade Columbia.
Em alguns países da região, de acordo com dados do Fórum Econômico Mundial, o serviço de telefonia celular é caro em comparação com outras partes do planeta. Nas três economias com maior número de usuários de celulares na América Latina —México, Argentina e Brasil— com mais de 188 milhões de assinantes, a tarifa do pré-pago para fazer uma chamada custa 3,48, 3 e 2,5 reais por minuto, respectivamente. Na Espanha, o custo é de 50 centavos, enquanto na Suíça, cujas cidades são eleitas repetidas vezes como as de maior qualidade de vida do mundo, chega a 30 centavos de real. “As redes revolucionaram a comunicação. Agora as operadoras concorrem para oferecer melhores serviços de dados, já que uma grande porcentagem de usuários de redes entra nelas usando o celular”, explica Antonio García Zaballos, especialista em telecomunicações do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
O país mais sociável
A chegada da Internet marca um antes e um depois nas relações pessoais. “Se você não está lá, pode parecer que não existe”, diz Franco, da eMarketer. “As redes e os fóruns e blogs são um fenômeno ao qual boa parte do dia é dedicada”, acrescenta. Na América Latina, três países são caracterizados por sua “alta sociabilização digital”.
A Argentina —onde a empresa de marketing na Internet ComScore estimou em 2014 mais 15,5 milhões de visitantes únicos mensais no Facebook, 3,6 milhões no LinkedIn e mais de quatro milhões no Twitter— é o país no qual mais se dedica tempo às redes sociais, fóruns e blogs, não apenas na região, mas no mundo. Em média, cada argentino fica 4,3 horas por dia nessas plataformas, segundo análise da consultoria especializada em redes We Are Social. A média mundial é de 2,4 horas por dia.
O México —com mais de 22 milhões de visitantes únicos do Facebook, três milhões no Twitter e quase quatro milhões no LinkedIn, segundo a ComScore— ocupa o segundo lugar no ranking latino-americano, com 3,9 horas por dia, seguido pelo Brasil, com 3,8 horas.
Nos EUA as pessoas dedicam 2,7 horas diárias; na Alemanha, 2,1; na Espanha, 2,9, segundo os números da We Are Social. “As redes, fóruns e blogs se tornaram um novo espaço público; além de compartilhar, também se denuncia e se protesta; servem como pontos de informação, análise e entretenimento. Isso explica em grande parte seu sucesso”, afirma García Zaballos, do BID.
“Curtir”, um negócio
O crescimento das redes sociais teve impacto relevante na economia, indica Katz. “Diretamente, geram empregos nos países em que abrem escritórios. Indiretamente, servem como plataformas para a publicidade digital, que se tornou um grande negócio”, destaca.
Para este ano, o gasto feito pelas empresas em publicidade digital na América Latina atingirá perto de 3 bilhões de reais, 11,5% a mais que em 2014, segundo a eMarketer. Para 2019, quando os usuários das redes sociais na região chegarem a 302 milhões, a cifra vai superar os 4,5 bilhões de reais.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.
Mais informações
Arquivado Em
- CEPAL
- Fórum Econômico Mundial
- Apps
- Aplicações informáticas
- Redes sociais
- Telefonia celular multimídia
- ONU
- Programas informáticos
- Celular
- Internet
- América Latina
- Telefonia
- Informática
- Empresas
- Organizações internacionais
- América
- Mobilidade
- Tecnologia
- Relações exteriores
- Telecomunicações
- Economia
- Comunicações