Economia em viagens e bolsas Chanel
Regina Manssur e Val Marchiori, que integraram reality show sobre a classe alta, cortam supérfluos e reduzem a compra de grifes
O Brasil dos últimos anos deixou os brasileiros muito iludidos, achando que no país não tinha crise, acredita a advogada Regina Manssur, dona de um escritório em São Paulo. “O mundo estava caindo e os brasileiros estavam comprando, gastando e viajando, por conta de uma valorização fictícia do real. De repente, a coisa desandou”, reclama Manssur enquanto apoia os braços adornados de joias sobre a mesa. Nascida no chamado “berço de ouro”, a personagem do reality show “Mulheres ricas”, recebeu a reportagem do EL PAÍS no escritório que carrega o seu sobrenome, no bairro do Morumbi, zona Sul de São Paulo, a poucas quadras de sua mansão.
Vestindo um discreto tubinho florido meia manga do italiano Roberto Cavalli, com um sapato Casadei, também italiano, Regina desculpa-se pelas unhas por fazer e pelos cabelos (em sua opinião) desarrumados. “Até gosto das unhas bem feitas, mas não ligo muito para isso. Tenho ido menos ao salão de beleza, inclusive. Eu costumava ir duas vezes por semana. Agora, vou só uma”, afirma. Naquela tarde, contudo, já tinha agendado escova no cabeleireiro. “Hoje preciso almoçar com uma cliente importante”, justifica.
Regina afirma que começou a sentir os efeitos da crise ao receber a fatura da conta de luz. A conta, que geralmente chegava a 1.000 reais por mês, triplicou. Por conta disso, mandou trocar todas as lâmpadas da casa por modelos de LED, que consomem até 80% menos energia. Não sabe quantas chegou a trocar, mas gastou cerca de 8.000 reais com essa tarefa, “no cartão, em cinco vezes”.
A maior economia que está fazendo, contudo, é com viagens. “Este mês não vou a Punta del Este”, conta. Regina explica que tem o costume de passar um final de semana por mês no balneário de luxo do Uruguai. “No Brasil, para almoçar e jantar fora no fim de semana, em um lugar bacana, e pegar um cinema, você gasta quase 3.000 reais. Com mil dólares – que até o começo do ano era a mesma coisa, eu podia pegar um avião para o Uruguai, curtir em um cassino, comer bem e ficar em um hotel luxuoso”, complementa. Atualmente, com o dólar a 4 reais, a viagem acaba ficando cerca de mil reais mais cara. Por isso, foi temporariamente cancelada.
O próximo destino será Roma, onde Regina participará de congresso de direito para o qual foi convidada. Também deverá ir a Los Angeles para um evento beneficente que apoia. “Mas vou de classe econômica, em assento confort, que tem mais espaço para esticar os pés. Consegui juntar as datas dos eventos para fazer uma viagem só, saindo de Roma a Los Angeles, sem passar pelo Brasil”, conta. A economia que fará deixando de viajar pela classe executiva garantirá as diárias do hotel italiano, que soma quatro estrelas em vez das usuais cinco.
Já a tradicional viagem de réveillon ao exterior não ocorrerá este ano. “Desta vez, estou combinando com a minha família de passarmos o ano novo na nossa casa de praia, no litoral paulista”, explica. Regina também pensa em cancelar a viagem que faz todos os anos a Aspen, entre janeiro e fevereiro, para esquiar. Ainda não sabe se poupará Paris, que visita todos os anos religiosamente em julho para um curso de francês na Universidade de Sorbonne.
Em relação a compras, Regina garante que nunca foi de gastar muito. “Trabalho 25 horas por dia, não tenho tempo para bater perna em shopping”, diz. Mesmo no exterior, a executiva afirma que tem evitado comprar. “A gente não se sente bem gastando dinheiro com essa crise. Se você falar que comprou uma bolsa de 20.000 reais vai pegar mal. Nunca gostei de ostentação, é brega. Mas hoje ostentar ficou bem over”, afirma. Ela não chegou a substituir marcas por outras mais baratas, mas passou a desfilar só com o que já tem. “Acabei revendo meu armário e percebi que estou cheia de coisas boas, não preciso de mais. É muito difícil para uma mulher chegar nessa conscientização”, complementa.
Enquanto empresária, Regina vem percebendo uma certa inadimplência de parte de seus clientes. “No meu escritório, a crise está começando a pesar. Se o dinheiro não chega aos clientes, também não chega até mim. E se eu não recebo o que eu estava esperando, atraso as contas. Meus funcionários dependem da minha receita”, afirma. Ainda assim, a advogada descarta cortes na equipe, composta por 20 pessoas, incluindo advogados, estagiários, faxineiros, cozinheira e motorista. “Esse é o número ideal do meu negócio, com menos não conseguiria realizar o trabalho com a mesma qualidade. Prefiro fazer economia onde dá e rezar para o cliente pagar”, justifica.
Ainda que reclame da crise que vivencia o país, Regina não pretende “fugir para Miami”, afirma, em tom de brincadeira. “Até pensei em morar fora um dia, mas não por causa dessa crise de hoje. A nossa crise vai muito além da financeira. É de segurança, de moral. No Brasil não podemos sair na rua que somos assaltados. Carro blindado é para chefe de estado, eu não deveria ter um carro blindado!”, conclui. Não se muda para o exterior com o marido, o desembargador Antonio Manssur, porque prefere ficar perto de seus quatro filhos e dez netos. “Meus filhos também são advogados. Dois são juízes, uma é promotora de justiça e outro trabalha comigo em sociedade. Lá fora não conseguiriam manter o posto que conquistaram com tanto esforço aqui”, relata.
Só uma mala
De malas prontas para embarcar para a Europa neste fim de semana, Val Marchiori, a socialite que também ganhou fama após participar do programa Mulheres Ricas, não encontrou tempo para a entrevista. Entretanto, enviou por meio de sua assessoria de imprensa algumas declarações. “Como mãe, mulher e socialite não deixo de fazer nada. Continuo com minhas viagens, mas meu comportamento mudou um pouco. Sou apaixonada por bolsas da marca Chanel. Antes da crise, durante as viagens, costumava comprar dez bolsas. Agora são três”, afirmou em nota. “Se eu voltava com três malas cheias de ‘modelitos’ novos, agora volto com uma apenas”, complementa.
No mais, a rotina é a mesma. Val relata que continua viajando todos os fins de semana com os filhos para Angra dos Reis, frequentando os restaurantes de sempre. “A vida segue”, conclui.
Enquanto sócia de um grupo de empresas, como a Torke Empreendimentos, a socialite reclama do ambiente pouco favorável a investimentos, uma consequência da atual crise econômica. “Como empresária, a primeira coisa que fiz foi por o pé no freio dos investimentos da empresa. Isso até que o cenário tenha mudado, que transmita mais confiança aos empresários, que tanto estão sofrendo com essa ‘baderna’ que o país vive”, diz em nota.
Em outubro do ano passado, a Torke foi alvo de escândalos envolvendo empréstimos do Banco do Brasil no valor de 2,7 milhões de reais. O crédito, concedido por meio de uma linha subsidiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tinha como objetivo a compra de caminhões. A socialite, contudo, teria utilizado um excedente para aquisição de um porche para uso pessoal. Na ocasião, o presidente do BB era Aldemir Bendine, hoje número um da Petrobras. A operação vem sendo investigada pela Polícia Federal.
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