Putin é um aliado tático
O fato de a Rússia combater o EI não deve levar a Europa a fechar os olhos para sua atuação na Síria
O começo dos ataques da aviação russa sobre posições do Estado Islâmico (EI) na Síria — que coincide com o bombardeio dos EUA contra os talibãs no Afeganistão e ocorre poucos dias depois de bombardeios franceses na Síria — tem de ser aceito de modo positivo, já que representa um novo esforço para acabar com uma ameaça surgida das atrocidades do integrismo; mas também com cautela porque não convém perder de vista vários fatores que condicionam a ação militar desencadeada por Moscou.
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que Vladimir Putin declarou apoio explícito ao regime de Bashar al Assad, um cruel ditador responsável em grande parte pelo banho de sangue em que seu pais se encontra mergulhado e que provocou centenas de milhares de mortes, além de milhões de refugiados.
Putin joga um jogo próprio e se move com tranquilidade nos parâmetros estabelecidos durante a Guerra Fria, embora ela tenha terminado há quase duas décadas. Sua intervenção na Síria parece estar mais ligado à intenção de defender o interesse estratégico histórico de Moscou nesse país e em toda a região do Oriente Médio do que em acabar com uma situação flagrante de violação sistemática dos direitos humanos.
Sem dúvida, a Rússia tem um papel fundamental a jogar na resolução do cada vez mais intrincado tabuleiro do Oriente Médio, e isso tem de ser reconhecido. Mas isso não pode constituir uma carta branca para que Putin apoie ditaduras que há tempos deveriam ter desaparecido ou adote unilateralmente decisões que possam influir no restante da comunidade internacional. E tampouco pode servir para eliminar a responsabilidade de Moscou na guerra civil que assola uma parte do território ucraniano nem na anexação ilegal da Crimeia à Federação Russa.
A Europa não deve ceder à tentação de fechar os olhos à atuação de Moscou na Síria pelo fato de Moscou combater o EI. Esse é só um primeiro passo. E Putin deve saber disso.
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