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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Derrota e vitória

As eleições na Catalunha são para o separatismo um triunfo eleitoral e um fracasso plebiscitário

Ninguém pode ignorar este resultado. Todos, incluindo o Governo, precisam reagir. As eleições realizadas na Catalunha foram tremendamente significativas. Apesar da confusão a respeito do caráter da convocação (plebiscito ou eleição); apesar do fato, desestimulador do voto, de ser feita durante uma emenda de feriado na grande Barcelona (o território menos secessionista), e apesar da baixa qualidade do debate, o nível de participação foi extraordinário, representando um recorde histórico para eleições de cunho autonômico.

De fato, a participação superou não só a de 2012, mas a de todas as convocatórias anteriores deste teor. Além disso, houve nas urnas uma variadíssima gama de opções, e aumentou o número de votantes em todas as circunscrições, urbanas e rurais, de catalães de sempre e de novos catalães. Tudo isso outorga às eleições deste domingo na Catalunha um invólucro político que deve acarretar grandes consequências.

Quais? O presidente que deixa a Generalitat, Artur Mas, definiu-as como eleições plebiscitárias: “Queríamos um plebiscito e é o que teremos”, disse no encerramento da campanha; estas eleições “serão vistas como um plebiscito”, insistiu neste domingo. E o líder do separatismo antissistema, Antonio Baños, acrescentava que “é preciso” atingir pelo menos “50% dos votos, porque estas eleições são um plebiscito”.

Como este jornal ressaltou antes da realização da eleição, o pretendido caráter de plebiscito para a independência era enganador, pela natureza da convocatória (votava-se em partidos, não numa única questão) e pela falta de competência jurídica para isso por parte do convocador.

Com quase 100% dos votos apurados, as forças (contraditórias entre si) partidárias da secessão não chegavam nem perto da metade dos votos. Mas é evidente que a cidadania catalã se mostrou severamente fraturada em dois blocos, de diferentes, mas semelhantes, dimensões. Como o plebiscito desejado por seus organizadores, portanto, os separatistas perderam nitidamente a partida. É um fator fundamental, especialmente na arena internacional. Acima de tudo caso se considere que em casos assim são exigidas não somente maiorias simples, mas reforçadas (Montenegro, nas instâncias da UE; Quebec, do Tribunal Superior do Canadá), o que é lógico em questões transcendentais.

Contudo, como eleições de importância especial, tivera resultado contundente a favor do independentismo. Em cadeiras, lembrando que um voto barcelonês vale duas vezes e meia um leridano, Junts pel Sí (Juntos pelo Sim) vence com folga, muito acima da ascendente e meteórica obtenção do segundo lugar pelo Ciutadans (Cidadãos, que desbanca o PP, convertido em força menor), e do valoroso terceiro lugar do PSC, que tantos consideravam sem esperança. O que dá ao Junts legitimidade para continuar sua estratégia pró-independentista, sempre que o faça atendo-se estritamente à legalidade.

Está certo que seu resultado empalidece porque consegue muito menos assentos que a soma anterior de Convergência e Esquerda. E porque precisará do concurso da imprevisível formação antissistema CUP para recolocar como presidente seu número quatro, Mas. Entretanto também é certo que qualquer outra opção parece dificílima, se não impossível.

Por tudo isso, e porque muitos votos de outras listas exigem melhora do autogoverno, ninguém, nem mesmo o Governo central, pode fazer ouvidos moucos ao resultado. Precisa reagir com urgência, oferecendo canais de diálogo e vias de solução capazes de responder ao desejo de mudança manifestado solidamente pelos catalães: vias de solução com a assinatura do Governo, que não pode continuar cedendo a iniciativa aos tribunais de Justiça.

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