Ex-chefe da Porsche terá desafio de reerguer Volkswagen após escândalo
Proximidade do novo presidente Matthias Müller com antiga cúpula é um ponto negativo
![Luis Doncel](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/https%3A%2F%2Fs3.amazonaws.com%2Farc-authors%2Fprisa%2F64158797-297c-4250-bcf6-df63acefa8c3.jpg?auth=41f0c1c9035a93d745b533997997bf4407c24bdbe30e6578c03fefbc9dadb01f&width=100&height=100&smart=true)
![Matthias Mueller, novo presidente da Volkswagen, em março.](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/P3CW2LTIWL6UU5Y6TVCPNSXBD4.jpg?auth=9aee12e002271e79bbaf87b44db1ad169a5d1027acde10a771288f3db1bc0f65&width=414)
A Volkswagen apresentou nesta sexta-feira “o novo começo” que Martin Winterkorn anunciou esta semana ao deixar o comando da empresa. O eleito para pilotar as mudanças é um homem da casa, Matthias Müller, até agora chefe da Porsche e profundo conhecedor do grupo. Será o responsável por superar o escândalo mundial que a Volkswagen qualificou nesta sexta-feira como “desastre político e moral” e pelo qual responsabilizou “um pequeno grupo de empregados”. Mas a tarefa será difícil. Somente na Alemanha há 2,8 milhões de veículos afetados pela manipulação das emissões de gases, segundo anunciou o Governo nesta sexta-feira.
Müller terá de tirar a Volkswagen de sua maior crise desde o final da Segunda Guerra mundial. Era tido como o favorito durante toda a semana, até mesmo antes de Winterkorn anunciar sua demissão, na quarta-feira. “Sob minha liderança, a Volkswagen fará tudo o que puder para desenvolver e pôr em andamento os padrões de cumprimento das normas e de governança mais altos de toda a indústria”, disse o novo presidente.
Não vai ser fácil. Ninguém questiona seus conhecimentos técnicos e dos meandros de um grupo que emprega 600.000 pessoas, tem fábricas em 119 países distribuídos por três continentes e no ano passado faturou mais de 200 bilhões de euros (890 bilhões de reais). Ligado à Volkswagen há quase 40 anos, Müller é um homem de confiança dos principais acionistas, a família Porsche-Piëch, e colaborou estreitamente durante anos com o até agora homem forte, Martin Winterkorn.
![Matthias Mueller, novo chefe da Volkswagen, em primeiro plano, junto a seu predecessor, Martin Winterkorn, em 2011.](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/5FRVCW7N7YL4ICEIZ6QYEFILB4.jpg?auth=15855fb92f8630d070651e3483af86e79f71e5c8135e0b2c7b4c877126c4d07f&width=414)
Mas precisamente sua proximidade com a cúpula anterior pode semear dúvidas sobre as práticas para evadir as normas ambientais e até onde pode levar sua tarefa de depurar a empresa. Segundo informação interna à qual teve acesso a agência Bloomberg, o mecanismo para falsificar as emissões foi comandado por altos diretores a partir da sede do grupo em Wolfsburg. De acordo com esses dados, foram os engenheiros alemães, e não algum dos EUA, que configuraram o mecanismo que resultou no escândalo.
Suspensão de empregados
Para fazer frente a qualquer dúvida de fraqueza, o presidente do Conselho de Supervisão, Berthold Huber, usou as palavras mais graves que encontrou para desculpar-se perante “nossos clientes, a opinião pública, as autoridades e os investidores”. “Quero ser bem claro. A manipulação dos testes de motores diesel é um desastre político e moral”, afirmou. Huber anunciou que a empresa suspendeu temporariamente, em medida de caráter imediato, um número indeterminado de funcionários até que a investigação esclareça os detalhes do ocorrido. Bernd Osterloh, também membro do Conselho de Supervisão, apontou como responsáveis “um pequeno grupo de empregados”.
Além disso, a Volkswagen reduziu o número de membros da cúpula e eliminou o posto de chefe de produto. Jürgen Stackmann, presidente da Seat há três anos e meio, passará a ser o responsável mundial por vendas e marketing. Para seu lugar irá Luca de Meo, até agora encarregado de vendas e marketing da Audi. Uma junta extraordinária de acionistas prevista para 9 de novembro deverá aprovar as mudanças.
Enquanto o Conselho de supervisão deliberava em Wolfsburg, o ministro dos Transportes, Alexander Dobrindt, anunciava em Berlim que só na Alemanha há 2,8 milhões de veículos afetados pelo engodo dos gases poluentes. Um caso que a princípio parecia circunscrito a meio milhão de veículos vendidos nos EUA deu um salto gigantesco na terça-feira, quando a empresa admitiu que o número de veículos sob suspeita era de 11 milhões em todo o mundo, uma cifra que supera as vendas do grupo em todo um ano.