Não há como voltar atrás
Governo espanhol não pode alegar razões econômicas contra os refugiados
As palavras do primeiro-ministro, Mariano Rajoy, na sexta-feira, corrigindo a recusa inicial de cumprir a cota de asilados políticos designada pela União Europeia aos países membros, receberam aplausos de cidadãos espanhóis e europeus e abriram uma janela de esperança às centenas de milhares de refugiados que devem chegar este ano.
No entanto, nas últimas 48 horas foram ouvidas vozes oficiais esclarecendo que o plano está dependendo da atribuição de fundos e que, por enquanto, o Executivo não dispõe de meios para isso. O ministro de Relações Exteriores, José Manuel García-Margallo, chegou a falar no domingo que o número de refugiados depende do ministério de Finanças. E o vice-secretário de Comunicações do PP, Pablo Casado, lembrou que o Governo vai pedir à UE que leve em conta fatores como o PIB ou a taxa de desemprego em cada país na hora de definir as cotas no dia 14 de setembro.
Essas atitudes contrastam com as ocorridas em outros países europeus. O primeiro-ministro britânico, David Cameron – que acompanhava Rajoy na sexta-feira no momento do anúncio – disse ontem que a Grã-Bretanha vai acolher 20.000 refugiados este ano, embora não esteja incluído nas cotas oficiais. A chanceler alemã Angela Merkel, designou 6 bilhões de euros (25 bilhões de reais) para garantir a política de apoio às centenas de milhares de pessoas que buscam refúgio na Alemanha para escapar da guerra em seus países de origem. Também a França, falando através do seu presidente, François Hollande, anunciou que irá cumprir seu compromisso de receber os refugiados propostos por Bruxelas, inicialmente estimado em 24.000 pessoas.
A ação firme e decisiva desses três líderes para resolver o problema da imigração está ocorrendo apesar da rejeição de parte da opinião pública nesses países. No Reino Unido, a emigração é quase um assunto tabu; na Alemanha proliferam grupos xenófobos que se opõem violentamente a receber mais refugiados, e na França uma pesquisa recente mostrou que a maioria dos cidadãos é contra o plano do governo de conceder mais asilo político. No entanto, Cameron, Merkel e Hollande estão dispostos a cumprir os acordos assinados e defender o espírito fundador da União Europeia e os tratados internacionais sobre refugiados políticos.
Na Espanha não ocorreram movimentos contra a solidariedade com os refugiados. Pelo contrário, há um grande movimento de solidariedade entre os cidadãos, apoiado pelos municípios, pelas comunidades autônomas e pelas ONGs.
Neste ponto, não há como voltar atrás no compromisso assumido pelo primeiro-ministro espanhol. Não é possível alegar razões econômicas quando na última sexta-feira o Conselho de Ministros aprovou um crédito extraordinário de 250 milhões de euros para pagar aos funcionários a parte que falta do bônus em 2012. Há sempre maneiras de fornecer fundos para projetos identificados como prioritários. Vamos esperar que a comissão interministerial que se reuniu pela primeira vez no domingo passado cumpra a palavra de Rajoy.
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