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Temer reduz atuação no Governo e oposição tenta ganhar terreno

Desconfiança de petistas e barreiras de Levy afastaram o vice da articulação política

Temer e Dilma recebem Merkel, na quarta-feira.
Temer e Dilma recebem Merkel, na quarta-feira.UESLEI MARCELINO (REUTERS)

O vice-presidente da República, Michel Temer, confirmou nesta segunda os boatos que correram na semana passada sobre sua saída da articulação política. A partir de agora, Temer deixa o 'varejo' dos cargos de segundo escalão e distribuição de emendas parlamentares. Mal saiu do dia a dia do cargo que ocupou desde abril, e líderes da oposição procuraram Temer (PMDB) para conversar. Chegaram a anunciar que seriam recebidos pelo peemedebista em um jantar na residência oficial, o que foi negado por sua assessoria. De qualquer forma, tentam insistentemente se aproximar ainda mais dele, na esperança de conseguirem convencê-lo a levar o seu partido, do qual é presidente, para o outro lado da bancada. Até a noite desta segunda, não tinham obtido sucesso.

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Considerado o fiador da estabilidade política desde que assumiu a função de articulador, Temer tem bom trânsito em quase todos os partidos. Ao comunicar Rousseff que deixaria o varejo da articulação junto ao Congresso Nacional e trabalharia apenas com a macropolítica, deu um fio de esperanças para um lado e um novelo de preocupações para o outro.

Mesmo Temer dizendo que não vai mais negociar cargos e emendas parlamentares, mas que continuará ajudando Rousseff com os temas maiores, como projetos de interesse do Governo na Câmara e no Senado. Nesta terça-feira, por exemplo, ele deverá receber um grupo de líderes da base aliada na Câmara para discutir "projetos de interesses" da União.

Um dos argumentos dados por ele quando anunciou sua decisão foi de que o grosso do trabalho já tinha sido feito, que era o de garantir a aprovação do ajuste fiscal no Congresso Nacional. Agora, a passagem de bastão será feita pelo braço-direito de Temer, Eliseu Padilha, o ministro da Aviação Civil, que o ajudava na articulação e promete manter o auxílio até setembro. O nome do substituto não foi definido.

Bomba esperada

Mesmo que fosse um movimento já esperado, houve quem considerasse a saída de Temer da rotina de articulador uma bomba política. A relação entre o peemedebista e a presidenta estremeceu duas semanas atrás. Na ocasião, Temer deu uma declaração dúbia ao fazer um apelo aos deputados federais. Disse que, diante da atual crise política, alguém precisaria assumir a responsabilidade de “reunificar o Brasil”.

Nos últimos dias, os ataques internos contra ele aumentaram. Os principais “atiradores” foram petistas que circundam Rousseff. Esse grupo imaginava que ele estava levantando o dedo e chamando para si a responsabilidade de retirar o país da crise. A oposição se animou achando que ele era a favor do impeachment presidencial. Foi quando petistas como Giles Azevedo, um assessor especial que já foi chefe de gabinete de Rousseff, passaram a atuar junto aos congressistas — papel que era exclusivo de Temer e de Eliseu Padilha.

Somado a isso, havia as várias barreiras financeiras impostas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O toma lá, dá cá da política brasileira inclui a troca de nomeações e o pagamento de emendas parlamentares por apoio parlamentar. Assim, a dupla Temer-Padilha fazia promessas de cargos e verbas para os aliados. Mas Levy, que teve um forte apoio do PMDB para ser indicado ao cargo, barrava certas promessas dizendo que o caixa do Governo estava apertado. Ou seja, como diz um aliado do deputado, “ele tinha o poder, mas não a chave do cofre”.

Quando assumiu a função de articulador em abril, Temer parecia saber que havia uma espécie de maldição na Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Dos nove ministros que ocuparam a pasta desde que ela foi criada, em 2004, apenas um ficou no cargo mais de dois anos. O ministério é uma espécie de telhado de vidro do Governo. Todas as queixas dos congressistas são voltadas a ele. O deputado Pepe Vargas (PT-RS), atual chefe da Secretaria de Direitos Humanos, que o diga. Ficou menos de quatro meses na função.

Talvez seja por isso que Temer pediu para não ser nomeado ministro. Acumulou as funções da SRI na vice-presidência. Assim ele não precisou ter um rompimento brusco com o Governo quando decidiu diminuir sua atuação. Um dos deputados que o acompanha desde a década de 1990 disse que Temer foi tão estrategista que não abriu nem fechou as portas para o Governo nem para a oposição. Deixou todas entreabertas.

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