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Bolsas de valores despencam pelas dúvidas sobre a economia chinesa

Índice de Xangai tem uma queda de 8%, Tóquio cai 4,6% No Brasil, a Bovespa chegou a cair mais de 6%. Efeito é mundial

A segunda-feira 24 de agosto é candidata ao título de um dos piores dias para as Bolsas do mundo inteiro nos últimos anos. Isso não é pouco em mercados que desde agosto de 2007, quando estourou a crise das hipotecas subrime nos Estados Unidos, registram muitos dias dignos de figurar nos livros de história como verdadeiros colapsos para os investidores. A semana começou tingida de vermelho pela preocupação sobre os rumos da economia da China –que as últimas medidas do Governo não conseguiram corrigir– e como reação às quedas de sexta-feira nos principais mercados europeus e norte-americanos. 

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O índice de referência das Bolsas chinesas, o de Xangai, caiu 8,49% no fechamento. É a maior queda registrada pelo índice neste verão boreal, que está se transformando num pesadelo para os investidores de renda variável no gigante asiático. De fato, é a maior baixa desde julho de 2007. O outro grande índice chinês, o de Shenzhen, mais focado em títulos de tecnologia, caiu 7,7%. Não é preciso voltar muito no tempo para encontrar um retrocesso maior, mas trata-se de um dos maiores deste novo terremoto.

Essas quedas contagiaram a Europa e a América Latina. O Ibex 35, da Espanha, recuava mais de 7% a duas horas do fechamento. Em Paris, a queda é inclusive superior: mais de 7%. Já em Frankfurt, os números vermelhos ficaram em torno de 6%.

No Brasil, o Ibovespa, o principal indicador da Bolsa de São Paulo, chegou a recuar 6,51%, mas o ritmo de queda diminuía no início da tarde. Foi o menor nível registrado desde 2009, quando a Bolsa começava a se recuperar dos efeitos da crise de 2008. Às 12h25, o Ibovespa caía 3,64%, aos 44.054 pontos.

As preocupações com o futuro da China fizeram as ações negociadas na Bolsa de São Paulo desabarem, com destaque para as da Petrobras. As ações tiveram uma queda de cerca de 8% tanto nas preferenciais quanto nas ordinárias. As ações da Vale também tiveram uma forte desvalorização de 10%.

"O forte tombo na Bolsa chinesa demonstra que as medidas de estímulo do Governo chinês não foram suficientes para impulsionar o mercado. O que vemos é um estouro de uma bolha que foi sustentada nos últimos tempos", afirma André Perfeito, economista da Gradual Investimentos. A tendência é que, nos próximo dias, a Bolsa chinesa continue caindo mas, de acordo com o economista, os efeitos no Brasil já não serão tão fortes como os desta segunda-feira.

Nos Estados Unidos, Wall Street abriu sob intensão pressão. O Dow Jones, índice de referência da Bolsa de Nova York, perdeu instantaneamente cerca de 1.000 pontos, ou mais de 6%, no momento em que a campainha era tocada. É a queda mais brusca no início do pregão desde setembro de 2008. O castigo na Nasdaq foi pior, de 8,5%, informa Sandro Pozzi. Meia hora depois, as perdas de Nova York diminuíram e ficaram na metade.

No Japão, as ações do maior índice do país, o Nikkei, fecharam esta segunda-feira com uma queda de 4,61%. O iene, considerado uma moeda-refúgio em tempos turbulentos, valorizou-se pelo quarto dia consecutivo em relação ao dólar. Se na quinta-feira a cotação da divisa norte-americana chegou a 124 ienes, nesta segunda ficou em 120,79 ienes, um golpe para os exportadores japoneses.

O índice Hang Seng de Hong Kong recuou 5,17, um castigo mais leve que o das Bolsas chinesas, mas igualmente importante para um índice tradicionalmente estável. As Bolsas da Austrália, Cingapura e Malásia também registraram quedas.

O Ibex cai ao seu nível mais baixo desde janeiro

Na Europa, todas as Bolsas seguiram o caminho tomado pela Ásia. O Ibex 35 abriu segunda-feira com quedas superiores a 6,5% e perdeu mais ao longo do dia. Pouco antes das 14h (9h pelo horário de Brasília), o índice acumulava 9.860,7 pontos.

Em pouco mais de um mês, o Ibex 35 caiu mais de 13%. O índice está debaixo dos níveis que registrou nos momentos de maior instabilidade na Grécia em junho e julho passados, quando era grande o risco de saída do euro. O índice agora está no nível mais baixo desde janeiro.

As quedas também aumentaram no resto da Europa. Em Paris e Frankfurt, chegaram a cerca de 5%. O medo na Alemanha, atenuado pouco depois das 14h30 (9h30 pelo horário de Brasília), instalou-se pela exposição das grandes empresas alemãs ao mercado chinês.

Preocupação com a China

O nervosismo dos investidores é alimentado pela preocupação com a economia chinesa, a segunda do mundo, e pelo temor de que a desaceleração possa ser mais profunda que o previsto. No segundo trimestre do ano, o país cresceu a um ritmo de 7%, o mais lento desde 2009. Em 11 de agosto, o Banco Popular da China (Central) anunciou de surpresa uma desvalorização do renminbi, a maior semanal em 21 anos e uma medida que as autoridades econômicas do país já haviam descartado publicamente em várias ocasiões. Desde o início da iniciativa, destinada a estimular um setor exportador que havia sofrido fortes quedas, os valores no mundo todo perderam cerca de 5 bilhões de euros (20,5 bilhões de reais).

Na sexta-feira, os dados oficiais mostravam uma contração na indústria chinesa nas três primeiras semanas de agosto, num ritmo desconhecido desde a eclosão da crise financeira global.

O anúncio de domingo – o Governo chinês permitirá que o principal fundo de pensões estatal invista na Bolsa – não foi suficiente para conter os temores. O fundo poderá investir até 30% de seus ativos líquidos em ações cotadas nos mercados nacionais e em outros instrumentos financeiros. A ideia é tentar injetar liquidez nos mercados de renda variável após a fuga de muitos pequenos poupadores, preocupados com a redução de seus fundos.

A Bolsa chinesa acumula uma queda superior a 30% desde as fortes correções de julho e está no menor patamar dos últimos cinco meses. As autoridades não conseguem transmitir uma mensagem de estabilidade aos investidores.

Em entrevista coletiva no domingo, o diretor executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Itália e Grécia, Carlo Cottarelli, quis enviar uma mensagem de tranquilidade. A instituição financeira prevê que a China crescerá 6,8% este ano. A desaceleração chinesa e a queda das suas ações são um ajuste “necessário”, de modo que falar de uma crise “é absolutamente prematuro”, afirmou Cottarelli.

Queda do petróleo

O brent, petróleo de referência na Europa, ficou esta manhã abaixo dos 45 dólares por barril pela primeira vez desde março de 2009, há quase seis anos e meio. O óleo norte-americano também está em seus valores mais baixos desde a crise financeira.

Sua queda já provocou o cancelamento de projetos de investimento multimilionários e a demissão de centenas de milhares de funcionários das petroleiras.

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