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Desvalorização do yuan já impacta a economia da América Latina

Desvalorização do yuan afeta a cotação das matérias primas

Alejandro Rebossio
Cultivo de soja na Argentina.
Cultivo de soja na Argentina.Ricardo Ceppi

Nos campos mais ricos das províncias argentinas de Buenos Aires e Santa Fé não estão preocupados só com o excesso de chuvas que pode arruinar as plantações de trigo. Também estão inquietos pelo que acontece a 18.000 quilômetros: na China. Lá a desvalorização do yuan nos últimos três dias fez baixar ainda mais as cotações das matérias primas, incluindo as agrícolas.

Os especialistas alertam que a desvalorização da moeda chinesa pode afetar os produtos básicos exportados pela Argentina, Brasil, Chile Colômbia, Equador, Peru e Venezuela ao gigante asiático. Isso faz com que os preços dos produtos industrializados chineses que avançam na região fiquem mais baratos, mas as moedas latino-americanas desvalorizaram muito mais do que a asiática nos últimos meses. O maior temor dos especialistas é que a perda de valor do yuan reverbere e aumente a desaceleração da atividade chinesa, com o conseguinte impacto na América Latina.

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“A desvalorização em si do yuan não foi significativa em comparação com as que tiveram as moedas latino-americanas em 2015”, compara o economista Mauricio Mesquita Moreira, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O dólar subiu em dois dias 3,5% em relação ao yuan, enquanto se valorizou 30,8% em relação ao real brasileiro em 2015, 23,7% em relação ao peso colombiano, 12,4% em relação ao chileno, 10,6% em relação ao mexicano e 9% em relação ao argentino.

É por isso que Mesquita não teme uma invasão dos produtos industriais chineses mais baratos, apesar de Pequim ter como objetivo justamente o impulso de suas exportações diante da desaceleração econômica. Por outro lado, Daniel Titelman, economista da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), prevê uma ampliação do déficit comercial da região com a China, que chega aos 8 bilhões de dólares (27,85 bilhões de reais), 1% da economia latino-americana.

Mesquita, do BID, coloca outras inquietações. “O que mais me preocupa é a solidez da economia chinesa. Ver o quanto crescerá. Por isso a desvalorização do yuan provoca pânico na economia mundial”. Durante décadas a China expandiu-se 9% por ano, mas nos últimos anos baixou seu ritmo a 7%, o que se constituiu em um dos fatores que explicam a desaceleração do crescimento latino-americano. Pela situação da China e outros fatores externos e internos, a CEPAL acaba de abaixar a previsão de crescimento latino-americano a somente 0,5% em 2015 e prognosticou que o desemprego subirá de 6% a 6,5%.

“Se a China cresce menos de 7%, a região será afetada, especialmente a exportação de matérias primas”, observa Mesquita. “As exportações brasileiras à China já caíram 15% no primeiro semestre. Para cada ponto percentual de crescimento do PIB chinês, o latino-americano cresce 0,7 pontos. É uma relação bem alta. O México pode ser afetado pelo petróleo, mas os países sul-americanos irão sofrer. Me preocupo mais com o Brasil, Venezuela e Argentina, que por si só não estão crescendo, do que com a Colômbia, Chile e Peru, que têm economias mais sólidas. O Equador também me gera dúvidas. Mas se com a desvalorização do yuan a China crescer a médio prazo, isso irá beneficiar a América Latina”, completa o economista do BID.

A desvalorização chinesa provoca volatilidade financeira mundial, e isso afeta a América Latina

80% das exportações latino-americanas à China consistem em produtos básicos. Os países que mais vendem são a Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Venezuela, especialmente petróleo, minerais e soja. “A Costa Rica também será afetada porque vende à China insumos eletrônicos que agora ficarão mais caros no mercado chinês” alerta Titelman, da CEPAL.

Titelman teme também os efeitos indiretos da desvalorização do yuan na América Latina: “A desvalorização traz mais volatilidade financeira no mundo, que por sua vez faz com que os investidores se refugiem no dólar. Em dois dias as bolsas de todos as regiões caíram. A desvalorização da China, a maior dos últimos anos desse país, traz volatilidade cambiária”.

Juan Pablo Ronderos, da consultoria Abeceb, por outro lado, pede calma: “Não vejo um impacto grande nas reservas internacionais de países como a Argentina, que têm yuanes em seus bancos centrais. Vejo que a transição que a China quis fazer de seu modelo baseado no investimento e na exportação a um de consumo não está sendo tão bem-sucedido. Se ocorrerem problemas, nossa projeção de bons preços das matérias primas para os próximos dez anos irá se modificar”,

Na Argentina, a equipe econômica do candidato presidencial kirchnerista, Daniel Scioli, também analisa a desvalorização chinesa. “Surpreendeu pela rapidez, mas também não assusta por sua magnitude e não afetará as reservas. Terá impacto nos preços das matérias primas, ainda que não muito nos grãos, que são nossas principais exportações. Para nós é bom a queda do preço do petróleo porque importamos combustível, mas prejudica a exploração da jazida de Vaca Muerta e os projetos de mineração que precisam de boa rentabilidade para que os investidores entrem”, admite um dos integrantes da equipe de Scioli, que em 25 de outubro disputará a presidência argentina contra o candidato de centro-direita Mauricio Macri.

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