O discurso de Caitlyn Jenner no ESPY Awards que todo o mundo deveria ver
Jenner aproveitou seu prêmio no ESPY Awards para pronunciar palavras emotivas e avassaladoras sobre a transexualidade e a importância de aceitar a diferença
Caitlyn Jenner recebeu na última quarta-feira o prêmio Arthur Ashe Courage Award no ESPY Awards, organizado pela rede ESPN. Depois de projetar imagens da atleta durante os Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976, quando ela ainda era um homem e se chamava Bruce, Jenner fez um discurso avassalador sobre sua transexualidade e as tragédias que rodeiam a comunidade de transgêneros.
Jenner, de 66 anos, anunciou sua mudança de sexo em abril deste ano, depois de anos de rumores sobre sua identidade sexual. Também conhecida por compor o clã das Kardashians, foi casada durante quase 24 anos com Kris Jenner. No discurso emocionado, agradeceu o apoio e respeito que teve da família, sobretudo de seus filhos.
Pouco podemos acrescentar a suas palavras. Reproduzimos aqui o discurso:
“Até alguns meses atrás eu nunca tinha conhecido uma pessoa transexual, não conhecia ninguém como eu. Nunca. Sempre enfrentei minha situação sozinha. Mas consegui transformar esta viagem em uma coisa incrivelmente educativa. Ela me abriu os olhos. Me inspirou, mas também me deu medo.
Neste país, e em todo o mundo, neste exato momento, há pessoas jovens que tentam aceitar sua transexualidade. Estão descobrindo que são diferentes. E estão tentando descobrir como lidar com isso. Além de todos esses problemas, essas pessoas estão sendo assediadas. Estão sendo atacadas. Estão sendo assassinadas. E estão se suicidando.
No mês passado o corpo de Mercedes Williamson, uma jovem mulher transexual, foi encontrado em um campo do Mississippi. Ela tinha sido morta a punhaladas. Também quero falar a vocês de Sam Taub, um jovem de 15 anos de Bloomfield, Michigan. Sam se matou em abril. Sua história me afetou particularmente porque sua morte aconteceu alguns dias antes de a ABC transmitir minha entrevista com Diane Sawyer. Cada vez que isso acontece as pessoas se perguntam: “Poderia ter sido diferente? Aumentar a visibilidade disto pode fazer as coisas mudar?” Nunca vamos saber.
Se vocês quiserem me insultar, vão em frente. Eu posso encarar. Mas as centenas de jovens aí fora que estão tentando entender quem são... Esses jovens não merecem isso
Mas se há uma coisa que eu sei sobre minha vida é o poder dos holofotes. Às vezes ele te supera, mas com a atenção vem a responsabilidade. O que você faz e o que você diz é observado e absorvido por milhões de pessoas, especialmente jovens. Tenho consciência de minha responsabilidade de contar minha história corretamente, de continuar a aprender, de fazer tudo o que estiver ao meu alcance para mudar o modo como os transexuais são vistos e tratados. E, sobretudo, de promover uma ideia muito simples: aceitar as pessoas como elas são. Aceitá-las mesmo que sejam diferentes.
Meu pedido esta noite é que vocês se unam a mim e o façam também. Como podemos começar? Com a informação. Aprenda tudo que você puder sobre as outras pessoas, para poder entendê-las melhor. Sei que as pessoas deste lugar respeitam o trabalho duro, respeitam o estudo, o fato de que se passa por dificuldades para alcançar uma meta ansiada. Eu fiz treinamento rígido. Competi. Por isso as pessoas me respeitaram. Mas esta transição foi mais difícil para mim do que qualquer pessoa pode imaginar. E a mesma coisa acontece com muitas outras pessoas. Nem que seja apenas por isso, os transexuais merecem algo crucial: merecem o respeito de vocês.
E desse respeito sairá uma comunidade compassiva, uma sociedade mais empática. E um mundo melhor para nós todos. [...] Há tantas pessoas que já fizeram isto antes de mim, de Chaz Bono a Laverne Cox. Quero agradecer publicamente a elas. Também quero reconhecer publicamente todos os atletas transexuais que hoje têm a oportunidade de realizar seu sonho do jeito como eles são.
Agora vem a parte dura. Quero agradecer à minha família. O maior desafio na hora de dizer a verdade a meu respeito foi o de não ferir ninguém. Sobretudo minha família e meus filhos. Eu sempre quis que meus filhos tivessem orgulho de seu pai pelo que ele tinha conquistado na vida. Vocês me respeitaram tanto. Estou tão grata por tê-los na minha vida. Obrigada!
E por último, minha mãe. Minha mãe, que foi operada há uma semana e não sabia se ia sobreviver, está aqui comigo esta noite para compartilhar tudo isto. Sempre pensamos que eu tinha herdado a coragem e a determinação de meu pai, que combateu na Segunda Guerra Mundial, mas agora me dou conta de que isso veio de você. Te amo. Estou feliz por você estar aqui para compartilhar este momento comigo.
É uma honra ter a palavra “coragem” associada à minha vida. Mas esta noite há outra palavra que me vem à mente, e é “sorte”. Devo muito ao esporte. O esporte me ensinou o mundo, me deu uma identidade. Se alguém queria me insultar, não havia problema, porque eu jogava futebol. E a mesma coisa acontece hoje. Se vocês quiserem me insultar, vão em frente. A realidade é que posso encarar. Mas as centenas de jovens aí fora que estão tentando entender quem são... esses jovens não merecem isso. Então às pessoas aí fora que perguntam para que faço tudo isto, se é uma questão de publicidade, de coragem, de controvérsia, eu lhes direi do que se trata: trata-se do que vai acontecer a partir de hoje. Trata-se não de uma pessoa, mas de milhares de pessoas. Trata-se não de mim, mas de todos nós. De aceitarmo-nos uns aos outros. Somos todos diferentes. E isso não é ruim – é bom. Mesmo que você pense que é impossível compreender coisas incompreensíveis, vou mostrar a vocês hoje que é possível, sim. Simplesmente precisamos tentar, todos juntos.”
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.