Morre o ator Omar Sharif
O ator, um dos maiores ícones do cinema com ‘Lawrence da Arábia’, morreu aos 83 anos
Três lendas rodeavam o ator egípcio Omar Sharif: sua habilidade com as mulheres, seu mau-humor homérico e seus dias que começavam ao meio-dia. Todas estavam certas, e todas bem visíveis. Assim como seus gostos refinados, seu garbo e sua paixão pelo bridge. Toda essa sabedoria no viver e na atuação terminaram na tarde desta sexta-feira em um hospital do Cairo, onde a lenda do cinema faleceu aos 83 anos devido a um ataque cardíaco.
Qualquer entrevista com o ídolo implicava, primeiro, em esperar que o protagonista de Doutor Jivago, Che!, Funny girl, Os Cavaleiros do Buzkashi e dezenas de filmes egípcios, o homem que surgia da imensidão do deserto em Lawrence da Arábia, assinasse autógrafos para todo lado: até seus últimos dias manteve sua fama mundial. Nascido em Alexandria em 1932, estreou no cinema em 1954 com Shaytan al-Sahra, e quando a equipe de David Lean chegou ao Egito para rodar parte de Lawrence da Arábia, em 1962, seu papel do xeque Ali lançou-o no cinema mundial. Graças àquele drama ganhou um Globo de Ouro e sua única candidatura ao Oscar. O segundo Globo de Ouro resultou de outra colaboração com David Lean: Doutor Jivago.
Sharif falava um espanhol preciso: quando ganhou algum dinheiro trouxe sua família a Madri, e até a morte de sua mãe, em 1998, o ator passava longas temporadas na Espanha. “Não voltei porque me dói muito a lembrança. Embora tenha sobrinhos e sobrinhos netos madrilenhos”, recordava no festival de Granada em 2009. Ainda em Madri, no bairro de Salamanca, funciona a loja de camisas de algodão egípcio Sharif.
O ator sempre morou em hotéis, com poucas posses, e até o início deste século, como bom jogador apaixonado, movia-se de torneio em torneio de bridge. Escrevia sobre esse jogo de cartas no Chicago Tribune. “Cheguei a perder um milhão de dólares em uma noite. Parei porque me centrei em meus netos. Meu filho Tarek vive no Cairo com três filhos”. Embora tenha continuado a trabalhar até dois anos atrás, quando foi diagnosticado com Alzheimer (seu último filme é Rock the Casbah, de 2013), era muito crítico com o passado. “Doutor Jivago era mediano, a segunda parte de O Senhor Ibrahim e as flores do Corão sobrava... Só salvaria alguns de meus primeiros filmes com Youssef Chahine e Lawrence da Arábia”. Não ia mais ao cinema. “Só me atraem na televisão os filmes mudos de Chaplin”.
Nascido cristão – converteu-se ao islã para se casar – , Sharif falava muito sobre o entendimento entre religiões e, ao final, se definia como ateu: “Mas sou bondoso e quando as coisas iam mal, Deus me mandava filmes para que eu voltasse a ganhar dinheiro. Suspeito que na Espanha não me entenderiam, e no Egito me matariam”.
“Do meu ar de galã”, confessava em Granada, onde recebeu um prêmio do Festival de Cinemas do Sul, “já não resta nada. Desde 2004 não tenho namorada. Bom, agora sim, duas de 35 anos, uma no Cairo e outra em Paris, mas saímos para jantar de vez em quando. Ao final, damos dois beijos na bochecha e vamos cada um para sua casa”.
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