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Chile conquista a América

Disputa de pênaltis proporciona à ‘Roja’ o primeiro título de sua história, contra a Argentina

Ramon Besa
Jogadores do Chile comemoram a vitória contra a Argentina.
Jogadores do Chile comemoram a vitória contra a Argentina.JORGE ADORNO (REUTERS)

Valeu a pena para o Chile aguardar a vida toda para conquistar uma Copa América. A Roja sagrou-se campeã pela primeira vez em sua histórias às custas da Argentina. A disputa de pênaltis condenou a seleção alviceleste, derrotada na final da Copa do Mundo e da Copa América, e coroou o sofrido Chile. Apesar de não existir destino mais cruel do que as cobranças da marca de 11 metros, os anfitriões conquistaram merecidamente a taça por terem parado Messi, vencedor no Barça, perdedor na Argentina. Não foi um torneio para os atacantes com talento, mas sim para atacante insistentes como Alexis; jogadores físico ao estilo de Medel; táticos categóricos, poucos como Sampaoli; e torcidas arrebatadas, nenhuma como a do Chile

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Houve um momento em que parecia se anunciar o fim do mundo no Estádio Nacional. Não havia outra cor que não o vermelho, o vermelho do fogo; a torcida rugia; e o time atacava cada bola como se fosse a última, a decisiva, a que finalmente daria uma vitória como Deus manda ao sofrido Chile. Não era uma ofensiva selvagem, nada de bárbaros, porque as equipes de Sampaoli procuram se movimentar de forma sincronizada, exigente, treinada. Não é por acaso que o técnico do Chile compartilha da ideologia de Bielsa e Guardiola. Simplesmente jogando fora do centro, o Chile conseguiu colocar a Argentina em uma máquina de lavar e a centrifugação foi tremenda durante quase meia hora.

A partir de uma linha de três zagueiros, os laterais chilenos se lançavam com profundidade e velocidade, uma tortura principalmente para Rojo. Os volantes de Martino não davam conta ante o assédio do Chile. A Roja jogava de forma agressiva, sincronizada, coletiva, como se fosse apenas um jogador, chegando com até cinco homens, uma vez depois da outra, sem parar, sem concessões, sem cansaço; não dava um respiro sequer, menos quando a bola chegava em Valdivia. O Mago, no entanto, tocou poucas vezes na bola em uma partida muito comprimida, sem nenhum respiro, menos quando do outro lado aparecia Messi.

Nenhum jogador expressou melhor a declaração de intenções do que Alexis. Não existe jogador mais voluntarioso, imparável, generoso e, principalmente, precipitado, porque perde a bola com a mesma facilidade que a recupera o Niño Maravilla, do deserto de Atacama. Faltava para ele concluir as jogadas, encontrar a meta, finalizar o trabalho da Roja. Romero pouco teve que intervir, a não ser em um tiro de Vidal, enquanto, por outro lado, Bravo tirou dois chutes do gol, uma finalização de Kun Agüero e outro tiro de Lavezzi, acionado perfeitamente por Pastore.

Chile 0 X 0 Argentina (4-1)

Chile: Bravo; Silva, Medel, Marcelo Díaz; Ilha, Vidal, Aránguiz, Beausejour; Valdivia (Mati Fernández, m. 74); Alexis Sánchez e Vargas (Henríquez, m. 94).

Argentina: Alecrim; Zabaleta, Demichelis, Otamendi, Vermelho; Biglia, Mascherano; Pastore (Banega, m. 80); Messi, Kun Agüero (Higuaín, m. 73) e Dei Maria (Lavezzi, m. 28).

Pênaltis: Mati Fernández, gol. Messi, gol. Vidal, gol. Higuaín, fora. Aránguiz, gol. Banega, para Bravo. Alexis Sánchez, gol.

Árbitro: Wilmar Roldán. Colômbia. Amonestó a Silva, Medel, Marcelo Díaz, Vermelho, Mascherano, Aránguiz e Banega.

Nacional de Santiago. 48.665 espectadores.

Não era fácil ficar com a bola ante tantos choques, empurrões e atropelamentos, principalmente quando os chilenos encontravam o ponto exato para aumentar a pressão. As transições argentinas foram poucas, mas seletivas, inclusive depois da saída de Di Maria, derrubado pelo ritmo do Chile. As faltas se sucediam, o jogo tinha pouca continuidade e os cartões se repetiam para o Chile. O intervalo não fez bem aos jogadores, porque a partida continuou sendo pouco lúcida, mas ainda perdeu entusiasmo, intensidade, energia.

A paisagem, no entanto, continuava sem despertar o interesse de Messi. O 10 estava tão fora do jogo que inclusive saia de lado, nem que fosse para tocar a bola, irritado porque os seus não sabiam como encontrá-lo e os adversários sabiam escondê-lo, já fora com a pressão, com a marca do tédio. A Argentina foi se apequenando, cada vez mais submissa, entregue aos chutões, já com Higuaín em campo como substituto de Kun.

As mudanças

Martino acabou por trocar também Pastore e colocou em campo Banega, sinal de que via a equipe desordenada e desorientada, sem bússola, superada pela alta voltagem do Chile. E já se sabe que o técnico argentino sempre foi acusado de não saber intervir quando suas equipes estão desmontando; aconteceu com a Argentina; já havia ocorrido com o Barça.

A Roja fechou seu campo e se apoiou muito bem no do adversário. O problema é que continuava sem acertar o último passe e, menos ainda, o chute a gol. A falta de pontaria ofuscou seu futebol entusiasta e, de novo, o foco estava em Alexis. Por um palmo escapou do atacante um voleio difícil que se enganchou numa virada, e a partida caminhou irremediavelmente para a prorrogação, uma vez que o árbitro não marcou pênalti de Silva em Rojo e depois, no último lance, Higuaín não aproveitou uma assistência de Lavezzi, acionado por Messi.

Uma jogada do 10, inédita desde que voltou dos vestiários, diminuído pelas marcações chilenas, algumas no limite das regras, poderia ter dado a Copa América à Argentina. O desgaste havia sido tão grande que a prorrogação foi um tormento para as duas equipes, repetitivas no corpo a corpo, nas faltas, nos erros, nas lesões: todos, esgotados, acabados, quebrados, se desdobraram. Até Mascherano, uma fera em uma partida de gladiadores, perdeu a bola e permitiu uma arrancada de Alexis, que falhou na frente de Romero. Não houve forma de fazer um gol e foi preciso recorrer aos pênaltis, como mandava uma noite mais emocionante do que futebolística, e lá a paixão foi chilena, de Bravo e de Alexis,.

Os ganhadores da Copa América

Disputada desde 1916, é o torneio de seleções mais antigo do mundo.

Com essa vitória, o Chile conquista a primeira Copa América de sua história. Venceu dentro de casa, como anfitrião.

O ganhador da edição passada, o Uruguai, é também o time que mais vezes venceu o torneio, com 15 títulos. A Argentina, vice-campeã, tem 14. O Brasil venceu em oito ocasiões; Paraguai e Peru, em duas; Bolívia e Colômbia, uma vez.

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