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Chile e México fazem bonito

Anfitriões e mexicanos empatam por 3 x 3 em partida alucinante

Juan Diego Quesada
Cidade do México -
Dominguez e Vargas disputam uma bola
Dominguez e Vargas disputam uma bolaPABLO PORCIUNCULA (AFP)

Chile e México brindaram a Copa América com uma partida alucinante. Inspirados no ataque, os dois times foram catastróficos na defesa. Bonito para o espectador neutro, um drama para os que sofriam do coração. O anfitrião e uma seleção mexicana bastante enfraquecida por ausências voluntárias jogaram sem qualquer proteção na estrada, e acabaram empatando em 3 x 3. Arturo Vidal, com dois gols e uma assistência, sempre encontrou espaço entre os defensores mexicanos, órfãos do Rafael Márquez, o capitão. Vidal brilhou em campo. Mais algumas atuações como essa no campeonato e o chileno de penteado punk terá no fim uma coroa de verdade, e não uma de lenda como a do Rei Arthur.

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A seleção do México tem algo de equipe mentirosa. Na primeira partida, contra a Bolívia, foram 70 minutos de bocejo. Quando parecia que não havia mais nada além de tédio, Miguel Herera mudou a formação e durante um instante, por breve que fosse, pareceu uma equipe vibrante. Dessa vez, contra um Chile muito favorito, saiu com coragem e por duas vezes esteve em vantagem no marcador. O México B parecia agora um time de verdade, sólido, tangível. No entanto, desmoronou. O Chile empatou com uma facilidade assustadora. No segundo tempo, com o time da casa em pleno apogeu, os jogadores de Piojo pareciam a ponto de fracassar, cansados e desmoralizados, mas assim trabalharam pelo empate. Não estavam dispostos a morrer tão facilmente. Compreender esse México de Herrera requer um exercício contraintuitivo.

O conceito despistou Sampaoli, o treinador do Chile. Sabia que o México cometia erros na defesa e por isso colocou Vargas para pressionar os zagueiros, lentos e fora de posição em várias ocasiões. Com Márquez lesionado, os jogadores que o substituíram na zaga estavam distraídos. Mas os chilenos olharam tanto para frente que se esqueceram do que tinham em sua própria casa. Na lateral direita, Medel não foi páreo para Tecatito Corona.

Por ali saiu o 1 x 0. O ponta mexicano ganhou nas costas de Medel e companhia e colocou a bola no segundo pau, onde estava Raúl Jiménez. Este tocou para Vuoso, o equivalente mexicano a Vidal, que pegou meio sem jeito. Bravo voou em vão. Pouco durou a alegria do México. Um minuto e meio depois o Chile conseguiu um escanteio. Seus companheiros fizeram uma cortina para Vidal ante os defensores mexicanos, que não viram a chegada do meia. O jogador da Juventus finalizou sozinho da marca do pênalti e a bola ainda quicou na linha antes de entrar. Até então Vidal não tinha feito grande coisa, mas nesse instante compreendeu que essa partida tinha o seu nome.

Do lado de fora, Miguel Herrera se estranhou com o quarto árbitro. Reclamava de falta na jogada dos chilenos. Se em outras equipes isso seria um sinal de descontrole, para o México é boa notícia. Quando Herrera ferve, seus jogadores incendeiam. E foi assim. Em uma cobrança de córner devolveram o golpe. De novo na marca de pênalti. Raúl Jiménez, misteriosamente reserva na primeira partida, deu um salto magnífico e colocou a bola no ângulo direito, onde nem o melhor Bravo sonha em chegar. Outra vez na frente, o México teve os seus melhores minutos. Poderia ter definido.

Não conseguiu e pagou por isso. Vargas, livre, como se ninguém quisesse marcá-lo, finalizou sem nenhuma oposição. Poucas vezes se viu um chute tão fácil. É uma questão ainda em aberto saber onde estavam os zagueiros. Talvez atraídos como os mosquitos pelo brilho, saíram atrás de Alexis e Vidal, que conduzia a jogada. O Rei entrou pela direita e colocou na cabeça de Vargas, que caminhava sozinho no deserto. Sua peregrinação foi recompensada.

A alma do México ficou no vestiário durante o intervalo. A seleção do Chile voltou como um foguete. Valdivia, Aránguiz, Vidal e Alexis Sánchez finalmente se encontraram. No espaço curto, poucas equipes são como essa. Combinaram até encontrar o último terço de campo, e lá provocaram danos de verdade. O árbitro, que anulou dois gols, evitou a goleada. A defesa mexicana começou a se desesperar. A falta de tranquilidade foi evidenciada por Flores, que derrubou Vidal dentro da área. Vidal tinha pisado na área pela enésima vez, estava prestes a finalizar, mas um trem o atropelou no meio do caminho. O próprio Arturo, com a parte interna do pé, em um gesto elegante (os punks também sabem ser), enganou o goleiro Corona.

Com tudo a favor, os donos da casa só precisavam terminar o trabalho. Não o fizeram. Depois do terceiro gol, baixaram a guarda e deixaram Piojo e seus jogadores renascerem. O lateral-esquerdo Aldrete deu um passe de camisa 10, que deixou Vuozo em vantagem com relação à adiantada defesa chilena. Deu o passe com tanto entusiasmo, foi tão poético, que Aldrete se machucou, como um militar ferido de morte que crava a baioneta no inimigo. Vuozo definiu sem grandes dificuldades na frente de Bravo, hoje mais espectador do que protagonista. O valente Piojo achou que não teria outra chance igual e tentou fechar o time. Tirou um apagado Tecatito e colocou um volante de contenção.

Foram 20 minutos de infarto. Jiménez tentou invadir a selva chilena com jogadas individuais e mostrou que não tem só cabeça, mas também pernas para correr. O superdotado Alexis tentou do seu lado, mas destoa às vezes em uma equipe tão coordenada. Demora para levantar a cabeça e quase faz um túnel no gramado, como uma toupeira. A sorte, na verdade, já estava decidida. O Chile mostrou que tem armas de sobra para lutar na Copa América, mas um grande buraco atrás. E o México, que parecia vir do recreio, deixou dito que vai cair cedo ou tarde, mas com dignidade. Nessa noite tão fria, México e Chile fizeram bonito.

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