_
_
_
_
El acento
Texto no qual or author defends ideias e chega a conclusões is based on its interpretação dos fatos ou dado

#NiUnaMenos: um clamor contra a resignação

Sociedade argentina se mobiliza contra a violência machista depois do assassinato de uma menina de 14 anos, grávida

Milagros Pérez Oliva

A sociedade midiática necessita às vezes de uma convulsão para que problemas muito enraizados emerjam com uma nova luz que os torna de repente insuportáveis. Ocorreu na Espanha com a morte de Ana Orantes, que marcou um antes e um depois na consciência social sobre a violência machista. Em dezembro de 1997, três dias depois de narrar na televisão o calvário que durante 40 anos havia suportado pelos maus-tratos do ex-marido, este a esperou na porta de sua casa, a encharcou com gasolina e ateou fogo nela. O horror do ocorrido marcou um antes e um depois na percepção social da violência machista, considerada até então um assunto de paixões do âmbito do privado.

Mais informações
Argentina se mobiliza contra assassinatos machistas
A campanha #NiUnaMenos

Algo parecido aconteceu agora na Argentina. Chiara Páez tinha apenas 14 anos e estava grávida. Morreu assassinada por seu namorado, de 16, que a escondeu no jardim de sua casa com a ajuda de seus pais. Do horror desse assassinato surgiu uma ideia que mobilizou o país e se transformou em um revulsivo contra a resignação: “Nem uma mulher a menos, nem mais uma morte”. A frase procede de um texto de Susana Chávez, poeta e ativista mexicana contra a violência machista, que foi assassinada em 2011. #NiUnaMenos (nem uma a menos) se tornou uma reivindicação viral que povoou as redes sociais e mobilizou a sociedade, não só na Argentina, mas em outros países da América Latina igualmente castigados por esse flagelo.

A Argentina tem uma lei contra a violência de gênero, mas sua aplicação está muito longe de ser a ideal, por não ter sequer estatísticas oficiais das mortes que ocorrem. A contagem é feita com base em um acompanhamento minucioso dos meios de comunicação por parte de uma entidade, a Casa Encontro. Mas os dados disponíveis são eloquentes: na Espanha, com 46 milhões de habitantes, houve no ano passado 54 assassinatos de mulheres. Na Argentina, com 41 milhões, pelo menos 277, e é preciso dizer “pelo menos” porque muitos assassinatos ficam camuflados como acidentes domésticos. Essas cifras permitem visualizar o longo caminho que falta percorrer na América Latina. Como a Espanha, a Argentina tem uma legislação em vigor considerada adequada, mas nem se consolidou nem foi dotada de meios adequados para sua implementação. Esse é um dos problemas da luta contra a violência machista: uma coisa é o discurso oficial, e outra, a realidade. Uma coisa é a lei, e outra, sua aplicação.

A comparação demonstra que é possível avançar. Mas também na Espanha temos que nos fazer muitas perguntas. Depois de um pico de 76 mulheres assassinadas em 2008, a cifra anual de vítimas permanece estancada há alguns anos entre 50 e 60. Isso significa que não se pode ir além? De modo algum. Que seja difícil avançar não significa que tenhamos de sucumbir à resignação. Nem à tentação de pensar que, se já foi feito todo o possível e a estatística não melhora, talvez seja preciso aceitar que um certo nível de violência é inerente à condição humana. Não há dados que sustentem essa ideia. Pelo contrário: a aplicação da lei pode melhorar e ainda resta muito por fazer em prevenção.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_