Blazer: “Eu e outros na FIFA aceitamos subornos”
Ex-vice-presidente da Concacaf diz ter recebido dinheiro pela concessão da Copa de 2010
Charles Chuck Blazer foi uma das principais figuras no futebol norte-americano. Chegou até mesmo a ser o segundo homem no comando da Concacaf, a confederação que congrega o negócio desse esporte nos Estados Unidos, Canadá, América Central e Caribe. É a mesma associação que Jack Warner presidiu. O cargo lhe permitiu desfrutar de uma vida repleta de luxos. Mas nunca declarou o que recebia por seus serviços na FIFA.
O nome de Blazer aflorou com o de Warner entre os 14 indiciados pela trama de corrupção. Ele se declarou culpado de fraude em 2013 e teve a opção dois anos antes de se transformar em informante das autoridades federais norte-americanas para evitar ir para a prisão por evasão fiscal. Os documentos e as gravações de reuniões com outros dirigentes começaram a circular.
O Departamento de Justiça publicou nesta quarta-feira a transcrição da declaração que está na origem da maior crise vivida pela entidade que comanda o futebol mundial e que levou na terça-feira à renúncia de seu presidente, Joseph Blatter. O documento em questão tem 40 páginas. Não foi publicado antes, como disseram, para evitar pôr em risco toda a investigação em curso.
O depoimento foi dado diante de três agentes, um do FBI e outro da agência tributária, que participaram da operação. O terceiro não é identificado. Charles declarou nesse momento que estava com “câncer retal” e que acumulava 20 semanas de tratamento quimioterápico. “O prognóstico é bom”, disse ao juiz. Além disso, mencionou problemas cardiovasculares. “Boa sorte”, ouviu no tribunal.
A partir desse momento se determinou que o tratamento não lhe causava problemas para prosseguir na corte e lhe perguntaram se entendia as implicações de sua declaração perante o grande júri. Até a página 22 do documento não se entra de modo direto na questão da trama dos subornos, na qual é citado expressamente o papel que Blazer desempenhou na seleção de vários torneios.
Nesse momento esclarece que a conspiração foi levada adiante por “um grupo de pessoas” para conseguir um objetivo concreto. Mais adiante, disse: “Eu e outros executivos no comitê da FIFA aceitamos subornos em conexão com a seleção da África do Sul como nação que iria acolher o Mundial de 2010”. Também declara que esteve envolvido na escolha da Copa de 1998.
“Acertei com outra pessoa por volta de 1992 que lhe facilitaria a aceitação de um suborno em conexão com a seleção anfitriã”, declarou, segundo o trecho na página 30 do documento. Essa competição foi atribuída, por fim, à França. De acordo com o que relatou no tribunal, como membro da FIFA sua responsabilidade era a de selecionar os países que iriam ser os anfitriões dos mundiais.
O depoimento revela que ele começou a participar com outros dirigentes da FIFA nas ações corruptas já em 1993. A partir daí recebeu até 2003 dinheiro ilícito para distribuir os direitos de retransmissão de diferentes torneios. Isso foi antes de aceitar os subornos relacionados com a Copa de 2010. Em paralelo, concordou em participar entre 2004 e 2011 de uma trama fraudulenta relacionada com a Concacaf.
O pagamento dos subornos era feito com cheques no aeroporto nova-iorquino JFK e com transferências de fundos
Nesse ponto é especificado que o pagamento dos subornos era feito mediante entrega de cheques repassados no aeroporto nova-iorquino JFK, com transferências de fundos que saíam e entravam nos EUA. Esse era o esquema para lavar o dinheiro ilícito. “Sabia que esses fundos procediam de subornos”, afirma, ao mesmo tempo que diz que “intencionalmente” evitou fazer qualquer declaração de seu rendimento real às autoridades tributárias. Nesse momento começam a aparecer as primeiras tarjas no documento publicado, na altura da página 35 da transcrição.
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