Escândalo de corrupção derruba o presidente da FIFA Joseph Blatter
O dirigente suíço convocou nesta terça um congresso para eleger o seu sucessor
A pressão era insuportável. Joseph Blatter deixa a presidência da FIFA quatro dias depois de ter sido reeleito com o apoio de quase dois terços dos delegados das federações nacionais. A votação de sexta-feira passada permitiu que ele continuasse por mais quatro anos à frente do futebol mundial. Mas Blatter, de 79 anos, anunciou na terça-feira que vai convocar um congresso extraordinário para eleger um novo presidente. “Apesar de os membros da FIFA me reelegerem, não parece que este mandato tem o apoio de todos”, argumentou em um comunicado.
Delegados reunidos na quinta-feira e na sexta-feira em Zurique fizeram ouvidos moucos à exigência de renovação pedida por vários setores. Na mesma semana da conferência, a polícia de Zurique havia prendido sete funcionários da entidade, inclusive dois vice-presidentes e aliados próximos do líder, por envolvimento com corrupção. O que Blatter considerou “casos isolados” eram, de acordo com a definição do Departamento de Justiça dos EUA, práticas “desenfreadas, sistemáticas e arraigadas”.
Os pedidos de demissão vieram do presidente da UEFA, Michel Platini, ao primeiro-ministro britânico David Cameron. Ainda assim, Blatter saiu vitorioso. “Antes [da votação] estava um pouco nervoso”, chegou a dizer depois de obter o apoio de 133 delegações contra 73 de seu único rival, o príncipe jordaniano Ali Bin Al Hussein.
Mas a alegria durou pouco. Blatter, presidente da FIFA desde 1998, tinha contra si governos como o dos EUA, o britânico e o francês. A chanceler alemã, Angela Merkel, não foi tão longe como seu colega britânico. Mas membros de seu Governo, inclusive o ministro da Justiça, atacaram Blatter duramente nos últimos dias. A Comissão Europeia também disse na segunda-feira que era hora de mudar a FIFA. A seu favor, Blatter tinha o presidente russo, Vladimir Putin, que por trás da investigação do escândalo vê uma conspiração para arrancar a Copa do Mundo de 2018 da Rússia.
Os inimigos de Blatter não estão apenas na política. A Federação Inglesa de Futebol pediu, na segunda-feira, o boicote da Copa do Mundo de 2018. “O Reino Unido não apresentará sua candidatura para sediar uma Copa do Mundo enquanto Blatter permanecer no cargo”, disse seu presidente, Greg Dyke. Seu colega holandês, Michael van Praag, disse que só explicava a reeleição de Blatter pelo medo que imperava na FIFA e pela falta de democracia. Blatter, no entanto, teve o apoio das poderosas federações da França e da Espanha. E aos problemas políticos e esportivos acrescenta-se a fuga de patrocínios. Às desistências da empresa petrolífera Castrol, da farmacêutica e cosmética Johnson & Johnson e da fabricante de pneus Continental vieram se juntar o mal-estar da Visa e da Coca-Cola.
A renúncia abre um período cheio de incertezas. Blatter poderia tentar dirigir o congresso extraordinário que deve eleger seu sucessor, que poderia ser convocado entre dezembro deste ano e março de 2016. Para o comitê executivo da FIFA, os homens próximos a Blatter abundam. E para renovar o futebol mundial não é suficiente apenas a saída de seu presidente, mas uma profunda reforma da instituição.
Para o futebol, através do hóquei no gelo
Casa suíça. Joseph Blatter nasceu em Visp, no cantão suíço de Valais, em 10 de março de 1936.
Formação. Dizem que jogou futebol em categorias amadoras. Formou-se em Comércio e Economia Política na Universidade de Lausanne. Foi secretário-geral da Federação Suíça de Hóquei no Gelo. Entrou na FIFA como diretor técnico, em 1975. Foi promovido a secretário-geral em 1981 e permaneceu nesse cargo até 1998, sob a presidência do brasileiro João Havelange.
Presidência. Foi eleito presidente da FIFA em 8 de junho de 1998. Desde então, comandou a entidade máxima do futebol mundial (organização supranacional com mais membros atualmente, com 209 representantes) em quatro mandatos sucessivos. Foi reeleito em 2002, 2007 e 2011. Orgulha-se de ter levado a Copa do Mundo para a Ásia (Coréia e Japão, em 2002) e África (África do Sul, em 2010).
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