Caso de corrupção da FIFA chega a 150 milhões de dólares em 24 anos
José Maria Marin e outros chefes da FIFA foram presos na Suíça por corrupção
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em uma manobra sem precedentes, coordenada com o FBI e a agência tributária, revelaram nesta quarta-feira em uma concorrida entrevista à imprensa no Brooklyn os detalhes da ação legal contra nove dirigentes da FIFA e cinco empresários implicados em uma trama de corrupção que durou 24 anos, formada para o enriquecimento com o futebol. As autoridades norte-americanas esperam que esse caso sirva para marcar um novo “começo” nas entidades que dirigem o esporte.
No total, foram arrolados 47 delitos contra os acusados, incluindo subornos, chantagens, fraude e conspiração para lavagem de dinheiro. Entre os acusados estão Jeffrey Webb e Jack Warner, atual e antigo presidente da Concacaf, a confederação que representa a FIFA na América do Norte, América Central e Caribe. O total da fraude chega a 150 milhões de dólares (450 milhões de reais), sob a forma de subornos para a obtenção de contratos vinculados aos direitos internacionais dos torneios e promoção em geral do esporte.
Loretta Lynch, que há poucas semanas estreou como procuradora-geral dos Estados Unidos, afirmou em coletiva de imprensa que se tratava de uma trama corrupta, com “raízes profundas”, que operou de modo sistemático “durante pelo menos duas gerações”. Afirmou ainda que os acusados “abusaram de seu poder e posição de confiança para se apropriarem de milhões de dólares em subornos e por meio de chantagem”. Em sua opinião, esse tipo de atitude causa danos enormes ao esporte.
As principais vítimas, disse ela, são as jovens ligas nos países em vias de desenvolvimento que se beneficiam das receitas geradas pelos direitos do futebol. E também centenas de milhões de seguidores desse esporte no mundo, que o apoiam. Por isso ela acredita que os responsáveis por essas práticas têm de ser submetidos agora à Justiça e espera que a ação legal envie uma clara mensagem. Pediu também à FIFA que faça uma supervisão “mais honesta”.
O futebol ganhou, desse modo, destaque no noticiário do dia nos EUA, mas não precisamente pelos motivos que se espera de um esporte que aspira a deixar de ser minoritário no país. Na coletiva de imprensa estiveram presentes cerca de 300 jornalistas e meia centena de câmeras. No ato participaram outros pesos-pesados do Governo norte-americano, como o novo diretor do FBI, James Comey, e o responsável pelas ações criminais da agência tributária, Richard Weber.
Na primeira hora da manhã, a pedido das autoridades norte-americanas, foram detidos em Zurique sete dos acusados de participar diretamente na trama ou como conspiradores, dirigentes da FIFA ou donos de empresas de marketing que se beneficiaram pessoalmente graças ao negócio desses direitos: Eduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Eugenio Figueredo, Rafael Esquivel e José María Marín. "Ninguém está acima da Lei”, repetiu o diretor do FBI. Em paralelo, foi inspecionada a sede da Concacaf em Miami.
Comey recordou que o futebol é o maior esporte do mundo e explicou que essa trama de corrupção na Fifa atentava contra os princípios sobre os quais se sustenta. Lamentou especialmente que esse tipo de pagamento ilícito se tenha convertido em uma forma de fazer negócio no seio da FIFA. Como observou Weber, “os próprios líderes da organização enganaram os membros que se supunha que eles representassem”. “A corrupção, a evasão fiscal e a lavagem de dinheiro não podem ser os pilares de nenhum negócio”, acrescentou.
Charles Blazer, antigo secretário-geral da confederação americana, aparece citado como uma das seis pessoas que cooperaram com as autoridades para poderem esquematizar o caso e admitiu sua culpa na trama. Também José Hawilla, proprietário da empresa Traffic Group, com sede no Brasil. Além disso, as autoridades norte-americanas deixaram claro que as acusações anunciadas não devem ser vistas como o ponto final dessa investigação que assola o futebol.
A investigação por parte das autoridades norte-americanas se desenrolou durante 12 anos. Lynch espera agora que os detidos possam ser extraditados para ir a julgamento nos EUA. Ela garante que eles “serão submetidos a um julgamento justo”. Citou, mais especificamente, como os acusados usaram sua posição para “encher os bolsos” com eventos como a Copa América de 2016 e a Copa do Mundo na África do Sul.
Com essa trama, explicou, influenciaram em decisões que vão desde a transmissão de partidas pela televisão, a escolha dos lugares de realização de torneios e até a escolha de quem dirige a FIFA. “Em vez de promover o esporte, exploraram sua posição em troca de dinheiro de empresas que buscavam fazer contratos com a FIFA”, repetiu o promotor nova-iorquino Kelly Currie ao explicar o funcionamento do esquema fraudulento. Esses subornos foram pagos por meio de intermediários.
“Esta é a Copa do Mundo da Fraude e hoje mostramos a eles o cartão vermelho”, disse o responsável pela agência tributária, que afirmou que “os fãs desse esporte” não deveriam ter de se preocupar com a conduta corrupta dos diretores da FIFA”. Para Comey, o problema de fundo é que o cinismo que o caso mostrou domina o negócio do futebol, depois de décadas de suspeitas. Mas até agora eles não encontraram provas para poder agir.
Durante a madrugada, agentes suíços prenderam os envolvidos em seus quartos do hotel de cinco estrelas Baur aur Lac, um edifício de luxo com vista para os Alpes e o Lago de Zurique, onde os dirigentes se reúnem para seu encontro anual, que começa na sexta-feira e no qual haverá eleições para a presidência da FIFA.
“É um dia triste para o futebol”, disse Ali Bin Al Hussein. Depois de pedir as chaves na recepção, os agentes se dirigiram aos quartos para efetuar as prisões. O jornal diz que um alto cargo da FIFA (que não identificou) foi conduzido pelas autoridade a uma saída pelos fundos para deixar o hotel, permitindo-lhe levar a sua bagagem.
Começa o processo penal
O Ministério Público da Confederação Helvética abriu um processo criminal contra desconhecidos, cuja identidade não foi revelada, por suspeita de gestão desleal e lavagem de dinheiro relacionado com a escolha das sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022. Agentes da FIFA recolheram documentos e dados eletrônicos da sede principal da FIFA, em Zurique, confirmou a própria instituição em um comunicado.
As Copas do Mundo de 2018 e 2022 serão realizadas na Rússia e no Qatar, respectivamente, locais que foram escolhidos em uma cerimônia realizada em Zurique, em dezembro de 2010, e que na ocasião já tinham sido alvo de controvérsia por suspeitas de corrupção.
A Procuradoria anunciou na quarta-feira que o processo penal foi aberto em março "por suspeita de irregularidades na atribuição da Copa do Mundo de Futebol de 2018 e 2022". Foi a própria FIFA que, em novembro 2014, apresentou uma queixa-crime contra desconhecidos ao promotor da Confederação", razão pela qual o processo suíço se dirige contra desconhecidos e que a instituição FIFA participa como vítima", explica a promotoria.
"O enriquecimento ilícito correspondente foi efetivado, ao menos em parte, na Suíça. Além disso, a sede da instituição vítima (FIFA) tem sede na Suíça. Por essas razões, foi aberto um inquérito por gestão fraudulenta", acrescenta o comunicado. Além disso, a promotoria indica que "existem suspeitas de lavagem de dinheiro por meio de relações bancárias na Suíça".
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