Jon Hamm: “Espero não ter as coisas ruins de Don Draper”
Ator fala de seus problemas com o álcool e de seu futuro após finalizar ‘Mad Men’
Cada um encara as despedidas de sua própria maneira. Como diz Jon Hamm, alguns se enfiam em um novo trabalho, enquanto outros saem de férias. Concluída a rodagem de Mad Men --cuja última temporada estreia no Brasil às 21h (horário de Brasília) do dia 6 de abril-- o ator de 44 anos, que durante a última década devolveu a elegância aos martinis e à telinha, tem dedicado seu tempo livre a recuperar a sobriedade. Passou 30 dias em um centro de Silver Hill, Connecticut, nos Estados Unidos, para superar seus problemas com o álcool.
“Trata-se de uma questão de saúde, particular e pessoal, então não quero entrar nisso”, respondeu o ator a este jornal quando vazou para a imprensa seu tratamento para desintoxicação. Sua aparência está impecável: um pouco mais magro, de barba e com um terno elegante. Em seus lábios, aquele sorriso perene que fez dele um dos homens mais desejados da última década. “Por pessoal entendo para mim e para minha família, algo que não é para o consumo do público, apesar de entender que hoje em dia é notícia”, acrescenta. É amável demais para deixar sem resposta um tema que obviamente lhe afeta. Um comunicado de sua representante, Annet Wolf, explica que “com o apoio de sua companheira, Jennifer Westfeldt,” o ator tinha concluído o tratamento para combater “seu vício em álcool”. “Às vezes a vida te bombardeia com muitas coisas e você tem que lidar com elas”, disse Hamm sobre seus problemas com a bebida.
Órfão de pai e mãe aos 20 anos, sua carreira como ator foi tudo menos vertiginosa. Ele mesmo ri quando lembra agora que ninguém lhe parava na rua por seu “trabalho maravilhoso” na série The Division. Também passou despercebido em trabalhos mais conhecidos, como Dawson's Creek, e quase foi deixado de fora de Mad Men por "não ser suficientemente sexy”. “Em novembro fará 20 anos que cheguei a Los Angeles com dois números de telefone no bolso e sem dinheiro para telefonar de uma cabine”, recorda. As coisas mudaram muito nessas duas décadas. Agora se pode permitir colecionar arte e carros. Uma mudança que deve ao personagem de quem se despede, o mulherengo, beberrão, mentiroso, mas brilhante, Don Draper.
Um papel às vezes tão sórdido que é fácil culpá-lo dos vícios de Hamm. “A interpretação pode ser uma tarefa difícil. Não se compara com o trabalho de um cardiologista, mas também tem seus desafios”, admite. Mas Hamm não quer cair nessa armadilha. “Espero não ter as coisas ruins de Don [Draper, seu alter ego na série]”, acrescenta. Em sua opinião o sucesso destes últimos anos (e as situações peculiares que o acompanham) afetou mais que as emoções de seu personagem. “Essa sensação tão estranha de que as pessoas estão olhando para você como se fosse propriedade delas, como se devesse a elas uma foto ou uma conversa”, explica-se. “Ou um homem casado se aproximar e me dizer, enquanto estou com minha esposa, que sua mulher quer uma foto comigo”, ri.
Agora diz ter “todo o tempo do mundo para viver um pouco”. Passar mais tempo com sua companheira há 17 anos, a atriz e diretora Jen, e com sua cadela Cora. “Sei de alguém que vai ganhar mais passeios, carinhos na orelha e biscoitos”, acrescenta. “E os fins de semana quero dormir. Mas tudo isso deixará de ser divertido quando olhar o telefone e me perguntar se voltará a tocar com outra oferta de trabalho”, conclui.
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