_
_
_
_
Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

Tragédia grega

É urgente aprovar o plano europeu de investimentos e concentrá-lo na Grécia

José Carlos Díez

Quando o Syriza apresentou seu programa econômico no último mês de setembro, era evidente que fracassaria na sua tentativa e teria que renunciar à maioria das suas propostas. O anúncio provocou uma fuga de capitais, uma queda da Bolsa de Atenas de 30% e um aumento no prêmio de risco em três anos de 1.300 pontos básicos. É um terremoto similar ao provocado pelo medo da quebra do Bankia em 2012, mas na Grécia tudo é mais trágico. O mais preocupante é que a fuga de capitais foi contagiante e provocou uma fuga de depósitos. Três em cada quatro gregos não apenas não votaram no Syriza, mas também consideram que as suas propostas podem provocar a saída da zona do euro e a quebra do sistema bancário. Muitos decidiram sacar suas poupanças, e na maioria dos casos, mantê-la debaixo do colchão.

O sistema bancário grego está conectado ao respirador automático do Banco Central Europeu, e a situação é crítica porque toda semana é preciso aumentar a política de emergência. A fuga de depósitos é uma das doenças mais perigosas da economia. O protocolo recomenda: manter a calma, medicar o doente e atuar rapidamente e com contundência. Se Tsipras não pensa em tirar a Grécia da zona do euro, que conclua o plano de resgate o quanto antes e normalize o acesso dos bancos gregos ao BCE. Isso exigirá apresentar um plano coerente para que a Grécia encontre seu lugar na globalização e na revolução tecnológica na qual estamos inseridos.

Em 2014, apesar do colapso dos salários gregos desde 2009 e da depreciação do euro, as exportações do país caíram por volta de 2%. É evidente que a Grécia tem um grave problema de competitividade e que seu parque empresarial é anêmico e com pouca capacidade de produzir projetos rentáveis em ambientes competitivos. Neste cenário, subir o salário mínimo em 15%, como propõe o Syriza, confirma a inexistência de vida inteligente no novo governo grego.

Contudo, Atenas apresentar um plano coerente à médio prazo é necessário, mas não é suficiente. Em Bruxelas, Frankfurt ou Berlim também não há muitos indícios de vida inteligente. Há duas semanas, a Comissão Europeia apresentou suas previsões de inverno e esperava que o PIB e o emprego na Grécia crescessem 2,5% em 2015. Uma semana depois, o Eurostat, que depende da Comissão, anunciava que o PIB grego caiu no quarto trimestre. Dá para acabar como a fuga de depósitos e evitar um corralito, mas a recessão na Grécia já é irreversível.

Espero e desejo que seja autorizada ajuda humanitária para atender as necessidades extremas de uma parte da sociedade grega. Mas é urgente aprovar o plano de investimentos europeu e concentrar parte dele na Grécia para retirá-la da recessão. Tão urgente quanto é ponderar ainda mais a compra da dívida grega por parte do BCE para frear a fuga de capitais e depósitos o quanto antes.

Mais informações
Grécia detalha uma proposta ainda pouco concreta aos parceiros do euro
Dívida grega e Bolsa de Atenas afundam após a decisão do BCE
Banco Central corta o crédito dos bancos gregos para forçar novo resgate

O mundo inteiro tropeça na mesma pedra, mas seria conveniente não namorá-la. Merkel e a Alemanha devem assumir os erros que cometeram desde 2010 e mudar a política econômica europeia para voltar a crescer. Se as duas partes não assumirem responsabilidade, é possível que dentro de pouco tempo comprovemos que foi um erro a Grécia permanecer na zona do euro. Como reconheceu o próprio presidente da Comissão, Jean Claude Juncker, a Europa não pode continuar pecando contra a dignidade do seu próprio povo.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_