Governo da Venezuela depositou 12 bilhões de dólares no HSBC
Clientes britânicos, suíços e venezuelanos são os que mais depósitos tinham na Suíça
No período em que o reeleito presidente Hugo Chávez se declarava socialista e aumentava seu programa de nacionalizações, entre 2005 e 2007, o Governo da Venezuela mantinha depósitos no valor de 12 bilhões de dólares (33,2 bilhões de reais, pelo câmbio atual) em quatro contas do HSBC Private Banking na Suíça, já na época questionado por sua opacidade e por dar cobertura a sonegadores de impostos. A informação consta na chamada Lista Falciani, a relação de clientes da filial suíça do HSBC que o especialista em informática Hervé Falciani obteve em 2010 e que agora foi revelada graças a uma investigação jornalística internacional, liderada pelos jornais Le Monde e The Guardian, numa parceria com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, que conta com a participação de 140 repórteres de 45 países.
Entre os quase 100.000 clientes que estavam registrados na base de dados do HSBC, mas que tinham sua identidade protegida pelo sigilo bancário, destacam-se três nacionalidades: britânicos, suíços e venezuelanos. Estes detinham 14,8 bilhões de dólares (41 bilhões de reais, pelo câmbio atual). Do total, 85%, ou quase 12 bilhões dólares, concentravam-se em quatro contas pertencentes ao Estado venezuelano, abertas em nome da Tesouraria Nacional e do Banco do Tesouro, um banco comercial criado por Chávez em 2005 e que conta atualmente com uma centena de agências espalhadas pelo país sul-americano.
85% do dinheiro de Venezuela está em quatro contas abertas em nome da Tesouraria Nacional e do Banco do Tesouro
O Banco do Tesouro da Venezuela havia sido instituído apenas dois meses antes quando abriu uma conta com 9,5 bilhões de dólares no HSBC suíço. Cinco meses depois, o mesmo banco depositou outros 2,2 bilhões em duas contas paralelas, conforme revelou na segunda-feira o site noticioso Armando.info, encarregado da investigação jornalística a respeito dos clientes da Venezuela. O presidente do Banco do Tesouro e responsável pelas contas era o general Rodolfo Marco Torres, hoje vice-presidente da República para a Área Econômica. O tesoureiro da época, Alejandro Andrade Cedeño, foi quem abriu outra conta em nome do organismo, com quase 700 milhões de dólares. Andrade foi vice-ministro de Finanças e presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento (Bandes). Originário do humilde bairro de Coche, na zona sudoeste de Caracas, chegou a ser aceito em clubes sociais exclusivos. Aficionado da equitação, é um dos mecenas do esporte na Venezuela e mantém propriedades na Carolina do Sul e Flórida (EUA). Até o momento, nem Torres nem Andrade reagiram às revelações.
A publicação dos dados secretos do HSBC, apelidada de SwissLeaks, inclui a análise de quase 60.000 arquivos da base de dados de clientes da filial suíça do banco britânico, entre 2005 e 2007.
A Lista Falciani inclui, segundo o jornal digital El Confidencial, espanhóis como o piloto Fernando Alonso, o ex-vice-presidente do Barça Alfons Godall e o ex-juiz do Tribunal Supremo Ramón López Vilas. A Justiça espanhola teve acesso à relação de clientes em 2010, o que permitiu à Fazenda recuperar pelo menos 260 milhões de euros (812 milhões de reais, pelo câmbio atual), conforme revelou o EL PAÍS em abril de 2013, quando publicou dezenas de nomes da lista investigados pelos tribunais. O banqueiro Emilio Botín, por exemplo, pagou 200 milhões de euros para regularizar uma fortuna superior a 2 bilhões.
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