Ricky Martin: “gostam mais de mim depois que assumi que sou gay”
Está no auge de sua carreira, mas conserva o entusiasmo dos primeiros dias O cantor lança novo disco e diz estar feliz, como há muito tempo não se sentia Viciado em aplausos e nas redes sociais, também precisa de silêncio para viver
Acaba de se levantar e sua voz do outro lado do Atlântico, quando atende a ligação, parece relaxada, mas, acima de tudo, feliz. Os assessores de imprensa falam que o tempo é limitado, mas ele se esquece do relógio. Nota-se que além de conversar sobre sua música e de sua vida, também gosta de escutar. Precisamente o título de seu novo disco – A quien quiere escuchar, que será lançado no dia 10 de fevereiro – tem a ver com esse gosto pelo diálogo. Ricky Martin, reconhecido como “um ícone internacional e embaixador global da música latina” pela revista Billboard e homenageado pela Academia Latina da Gravação como “Pessoa do Ano”, vendeu mais de 60 milhões de discos e continua lotando estádios em todo o mundo. Mas ainda vive que acontece com ele, aos 43 anos, com o entusiasmo de um novato. “Gosto do que faço, essa é a questão. Só preciso me lembrar do que sinto quando estou em cima de um palco na frente de 25.000 pessoas que estão me aplaudindo. Esse é meu alimento. Sim, sou viciado em aplauso. É o que me motiva e me inspira a continuar. Trabalhar no que gosto me relaxa.” E quando desanima, prefere parar. “Quando me sinto incomodado, paro e medito. Já aconteceu várias vezes na minha carreira. Em 2000, parei uma turnê para voltar para casa e fiz isso também no ano em que nasceram as crianças, para ficar em casa cuidado deles.” Agora Valentino e Matteo, seus gêmeos, o acompanham para todos os lados e há pouco tempo descobriram que seu pai é uma estrela.
Ricky Martin se define como um homem feliz. Tem um novo disco, uma família que está crescendo aos poucos e sente-se amado. Sua situação pessoal se reflete em seu trabalho. “É um disco muito simples no qual voltei a recuperar as baladas. Acabo de fazer uma turnê por todo o México e quando cantava meus sucessos mais românticos o público ficava louco. O que quero é voltar a esse sentimento romântico. Faz tempo que não brincava com ele. O disco é multicultural porque sou latino, vivo agora nos Estados Unidos, mas também morei um tempo na Austrália. O disco é fruto desta fusão. Há muito tempo não me sentia tão bem com minha música!”.
- O disco reflete seu estado de ânimo?
- Sempre conto minhas histórias. Nunca coloco máscaras quando subo ao palco, mas também conto coisas que acontecem com todo mundo. As letras são histórias de amor e desamor, também há música para fazer bebês. Estou muito satisfeito.
- Pessoalmente, em que momento você se encontra?
- Estou agradecido pela vida que tenho. Sou pai de família, tenho dois meninos que estão crescendo. Consegui tudo que sempre quis na minha vida. Desde que saí de casa, fiz tudo que quis. Consegui levar meu idioma a lugares onde ele não é falado e, através dele, rompi fronteiras. Isso é o que levo para minha casa quando volto de uma turnê.
Ao contrário de outros famosos, Ricky Martin fala de seus filhos com naturalidade e também de seus planos para ser pai de novo. “Quero uma menina. Estou começando a construir uma família, mas ainda não é o momento de pensar em uma menina, por mais que alguns meios de comunicação fiquem comentando.”
Confessa que é um pai coruja, talvez por isso uma boa parte de seu trabalho solidário tenha a ver com a infância mais desfavorecida. Através da Fundação Ricky Martin luta pelo bem-estar das crianças em áreas como a justiça social, a educação e a saúde. Trabalha para denunciar o tráfico infantil em colaboração com o Comitê Internacional de Direitos Humanos da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, é Embaixador global da UNICEF, e colabora com Bill Gates e a Corporação Microsoft no programa Navegue Protegido, que oferece ferramentas para prevenir delitos cibernéticos como a pornografia. “Eu me sinto comprometido. O poder de convocatória que me deu a música serve para falar de coisas que impactaram minha vida. Na Índia, por exemplo visitei um orfanato onde havia meninas que iam ser convidadas a entrar no mundo da prostituição e percebi que é um problema que temos em todos os lugares. Por isso estou tentando criar consciência. Em Porto Rico construímos um centro que permite a 136 meninos e meninas sair das ruas e deixar a prostituição.”
Provavelmente as pessoas gostam mais de mim porque eu gosto mais de mim
A Índia sempre é um ponto de referência para o cantor. Ali encontra a calma, a inspiração e a saúde. Ali descobriu a medicina ayurvédica [que trata o espírito e o corpo com terapias naturais]. “Você vai caminhando e se encontra com seres humanos que vão fornecendo informações e se dá conta que há muitas opções para prolongar a vida. É muito importante ter espaço para fazer uma busca em seu interior e, quando isso é feito, o impacto em sua música é maravilhoso. É um círculo vicioso que fortalece sua carreira. Preciso de silêncio para compor.”
Mas há outro Ricky Martin, esse que foge da calma e vive ligado nas novas tecnologias, especialmente nas redes sociais. “Temos a sorte de testemunhar esta revolução na comunicação. Eu acordo, tomo café e o primeiro que faço é entrar nas minhas redes sociais e ver o que estão comentando, o que as pessoas gostam, o que não gostam e começo a tomar decisões. Twitter, HeyHey e Facebook abrem uma janela para a comunicação, para o diálogo. Sou obcecado pelas redes sociais, sinceramente. É algo que não tive no início da minha carreira.” Ao contrário de outros famosos, ele mesmo administra suas contas. “Tenho uma equipe de pessoas que me ajuda a analisar o que está acontecendo, que vai me dizendo que tipo de reação teve uma foto que postei, em quais países gostaram mais. Mas eu administro pessoalmente todas as redes. Adoro. Sou viciado.”
No dia 30 de março de 2010 em seu site falou pela primeira vez de sua sexualidade e, desde então, se converteu em ativista pelos direitos homossexuais. “Sinto a necessidade de apoiar estas causas. Se meus 11 milhões de seguidores no Twitter e meus 10 milhões no Facebook estão me escutando, preciso falar de coisas que tenham impacto social. Sempre trabalhei muito em prol dos direitos humanos, e como sou parte da comunidade LGBT vou lutar pela igualdade em todas as partes do mundo.”
Para Ricky Martin não foi fácil falar de sua vida privada, mas desde então sente-se melhor que nunca e também mais amado. “Muita gente me diz: ‘não importa o que você é. O que importa é sua música.’ E é verdade, provavelmente as pessoas gostam mais de mim porque eu gosto mais de mim mesmo e todo mundo percebe isso. Aceitar minha homossexualidade foi uma questão de autoestima.”
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.